Crítica


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Sinopse

Cleve Jones, Roma Guy e Ken Jones - um jovem estudante que luta pela paz, uma garota envolvida com a emancipação feminina e um ex-militar negro com passagem pela Guerra do Vietnã - chegam, quase ao mesmo tempo, a São Francisco. Os ideias que os movem - um é pacifista, ela é feminista e o terceiro é contra o racismo - os levam a um debate que os toca com muito mais força: a questão do movimento LGBT. Separados, eles são fortes. Porém, irão descobrir que juntos possuem ainda mais relevância.

Crítica

Como já foi explicado no texto sobre o primeiro episódio de When We Rise, este aqui, na verdade, não é o “segundo episódio”, e, sim, a Parte 02 do capítulo 01. Isso porque a exibição da minissérie idealizada por Dustin Lance Black nos Estados Unidos foi diferente da forma escolhida pela emissora brasileira. Lá, foi exibido como um programa único com 1h30min de duração. Aqui, dividiu-se em dois segmentos de 45min cada. E a mudança nacional não foi das mais drásticas. Isso porque a separação se deu em um momento bem climático desse início da trama, com os três protagonistas – Cleve, Roma e Ken – finalmente chegando a São Francisco. É o sinal do que irá acontecer a partir dali na vida de cada um e também quando a história, enfim, começa a tomar forma de fato.

Dustin Lance Black, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original por Milk: A Voz da Igualdade (2008), talvez seja hoje em dia mais conhecido por ter se casado com o nadador olímpico britânico Tom Daley. Ele não só é um talento profissional de destaque, como também um ativista militante da causa gay nos Estados Unidos, assumido e respeitado pelo trabalho que desenvolve nos dois âmbitos, tanto em Hollywood quando nos movimentos sociais. É por isso que afirma que When We RiseQuando Fazemos História ou A Nossa Luta, os dois títulos estão sendo empregados pelo canal de televisão local – é um projeto tão especial para ele. Em entrevistas, chegou a declarar se Milk foi feito para declarar seu verdadeiro “eu” junto à indústria cinematográfica, dessa vez seu objetivo era se revelar por inteiro aos seus familiares, se aproximando dos pais e demais parentes de deixou no Texas – a transmissão, afinal, foi pela ABC, uma das maiores emissoras de sinal aberto do país.

Bom, se na primeira parte deste episódio de estreia fomos apresentados aos personagens da trama e descobrimos suas origens – Cleve abandona um lar homofóbico, Roma deixa o trabalho voluntário na África e Ken dá baixa na carreira militar após ter estado na Guerra do Vietnã – agora somos convidados a acompanhar os passos iniciais de cada um deles na cidade que escolheram para viver – São Francisco – ao mesmo tempo em que começamos a perceber o quanto este cenário será palco de uma revolução que, aos poucos, contaminará todo o país e, por que não dizer, o mundo por inteiro. É a liberação sexual, os novos costumes, o abraçar a uma modernidade que passa a se impor como novo modelo. Paralelamente, há os confrontos com as estruturas hierarquizadas, a intolerância policial, as questões políticas envolvidas e as próprias resistências que surgem dentre aqueles dispostos a mudar, sim, desde que seus ideais permaneçam inalterados.

Um bom exemplo disso é o caso de Roma. Ela luta pela emancipação feminina. Porém ignora que sua condição como lésbica a faz ainda mais forte. Mira no debate mais amplo, eximindo-se de abraçar o que lhe faz particular. Será a partir do contato com outras iguais a ela – e aqui cabem as participações de nomes fortes do elenco, como Whoopi Goldberg e Rosie O’Donnell – para que aos poucos passe a se abrir para outras possibilidades. Ela deixou Diane (Fiona Dourif) na África, e agora vê o desejo despertar por Jean (Caitlin Gerard) – só que essa já é comprometida com Sally (Carrie Preston). Quando essa descobre o que está acontecendo, chega a propor um acordo de união entre as três – “isso é demais para mim”, afirma Roma. Mas os tempos são outros, e parecem estar mudança rápido demais até mesmo para aqueles no centro do furacão.

A segunda parte do primeiro episódio de When We Rise termina com o esperado encontro entre Cleve, Roma e Ken. Eles está no The Black Cat Café, reduto para gays, lésbicas, travestis e drag queens. Cada um está ali por um motivo: Cleve quer diversão, Roma quer luta, Ken quer paz. Imaginam que ali, escondido dos demais, poderão encontrar tudo isso. O que não sabem, e por isso precisam ouvir com todas as letras, é que “nós estamos em toda a parte”. E ao ampliar o espectro da discussão, Dustin Lance Black – aqui auxiliado por seu colega Gus van Sant, que assina a direção deste capítulo inicial – prepara o terreno para que a situação de todos se torne ainda mais relevante e potencialmente explosiva. O cenário, afinal, está pronto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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