Embargo
Crítica
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Sinopse
Nuno é um vendedor de cachorro quente que inventou uma máquina que promete revolucionar a indústria do calçado - um digitalizador de pés. No meio de um embargo petrolífero e deparando-se com uma estranha dificuldade, Nuno tenta obstinadamente vender a máquina, obcecado por um sucesso que o fará desfrutar de algumas das coisas essenciais da sua vida. Quando Nuno fica estranhamente enclausurado no seu próprio carro e perde uma oportunidade única de finalmente produzir o seu invento, vê subitamente a sua vida embargada.
Crítica
Objecto quase é uma coletânea de seis histórias breves escritas por José Saramago em 1978. Nos contos, o escritor português flerta com os gêneros fantástico e maravilhoso para apontar – com toda a aridez permitida pela sutileza – os pontos críticos da sociedade contemporânea.
Um destes está expresso em Embargo. A história se passa durante o racionamento de combustível resultante do embargo econômico por parte dos países membros da OPEP. Valores humanos como a liberdade e a autonomia são atingidos e colocados em xeque a partir da brutal dependência dos indivíduos para com o recurso natural.
Com nome homônimo, o argumento literário transforma-se, agora, no segundo longa-metragem de António Ferreira. Após uma série de curtas e debutar com o longa Esquece tudo o que te disse (inédito no país), o jovem diretor português se arrisca com uma ousada adaptação da obra de Saramago.
O roteiro do filme, escrito pelo novato Tiago Sousa, segue o enredo do conto em linhas gerais. Contudo, o cerne da visão crítica do escritor, invariável e contundentemente política, transfere-se do âmbito do econômico-político para uma abordagem psicológico-social. Enfraquece-se, assim, o conjunto e a conjuntura para que se faça saliente o indivíduo. Este, por sua vez, está representado na figura de Nuno, empregado de uma carrocinha de cachorro-quente, que busca revolucionar a sociedade com uma máquina de escanear pés. A mudança de foco para a adaptação apresenta pelo menos dois resultados positivos. Ao destacar o particular, assinala a consciência do projeto em procurar elementos mais próprios da composição cinematográfica e, principalmente, o ímpeto de Ferreira e Sousa enquanto autores – no sentido profundo do vocábulo -, não se deixando ofuscar frente ao peso de Objecto quase.
No filme, Nuno (Filipe Costa) enxerga no sucesso comercial de seu invento a única saída possível para transformar a vida ordinária da família.. Bem interpretado por Costa, o personagem caricato se desloca alternando entre as margens do sucesso e do fracasso. Quase um vencedor e quase um derrotado, Nuno não é nada por completo. O evidente apego nutrido para com o filho e a esposa, Margarida (Cláudia Carvalho), somente é superado pelo desejo de despertar-lhes o orgulho legítimo de dividirem a casa com um homem diferenciado. A expectativa de realizar este desejo torna-se maior no momento em que um grupo de empresários aceita ouvir as vantagens do seu invento. Em uma cena que conjuga exemplarmente o bom elenco com direção de arte e fotografia bastante competentes, Nuno compartilha com o filho os anseios de um futuro promissor em vias de se tornar realidade. Na cena seguinte, propositadamente composta em oposição, a expressão sisuda de Margarida, algo entre o desapontamento e a incredulidade, revela o embate em que o protagonista está envolvido.
Em um mundo hostil e desigual – aspecto fiel à obra de Saramago - as forças externas emparedam o homem diante de seus limites. As expectativas ludibriam a mente ingênua e criam uma sociedade nitidamente frustrada. Depois de uma noite tensa preparando a máquina para apresentá-la aos empresários, uma fatalidade altera o curso de Nuno e, conseqüentemente, os resultados. Ainda que leviano, seria possível suspeitar que não há saída frente a tal contexto. O deus ex-machina introduzido no filme, fruto dos traumas causados pela série de irrealizações, encarna no homem suas amarras às próprias fragilidades. Desistir, no entanto, não é um caminho, como ilustra a cena comicamente trágica do carro em direção ao penhasco. A saída fácil, propõe Ferreira, não passa de uma limitação camuflada. Se o poeta espanhol Antonio Machado estiver certo, o futuro é o hoje e o agora; nada além daquilo que temos.
A complexidade simbólica de Embargo não pode ser diminuída. Por isso não é de se estranhar que o roteiro tenha sentido dificuldades pontuais – algumas bem resolvidas na edição -, principalmente quanto ao encadeamento da passagem do segundo para o terceiro ato. Ao final de um trabalho arrojado, os ganhos e as perdas, parte do risco, são potencializados. Aqui, felizmente, sobressaem-se aqueles.
Não entendi o filme e procurei alguma crítica para entendê-lo, mas continuo sem o entender e parece totalmente vago. Só consigo pensar que tudo não passou de devaneios do José Saramago para se expressar...