Nascida em Maringá, interior do Paraná, no dia 10 de outubro de 1980, Fernanda Arrias Machado estreou primeiro na televisão, na novela Começar de Novo, da Rede Globo, em 2004. Sua popularidade, no entanto, teve início de fato três anos depois, quando foi premiada como Melhor Atriz Coadjuvante pelo programa Domingão do Faustão por seu desempenho na novela Paraíso Tropical, da mesma emissora. Naquele ano também teve seu primeiro personagem no cinema, no campeão de bilheteria Tropa de Elite (2007), de José Padilha. Desde então já esteve em outros programas televisivos, peças de teatro e novos filmes, tanto no Brasil quando no exterior. Porém em nenhum encarou um desafio tão grande quanto o visto no thriller Confia em Mim, filmado em 2011 mas lançado no início de 2014 nos cinemas, em que encarou a primeira protagonista de sua carreira na tela grande. E foi durante o lançamento deste mais recente projeto que a atriz conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Fernanda, quem é a Mari, sua personagem em Confia em Mim?
A Mari é uma garota super bacana, e de cara me identifiquei com ela. Acredito que muita gente vá se reconhecer nela, de uma forma ou de outra. É uma moça dessa geração dos 30 e poucos anos, que ainda não casou e tem priorizado a profissão, ao menos até se estabelecer. Ela é muito talentosa, e sua paixão é a gastronomia, atividade na qual ela se dedica de corpo e alma. Ao mesmo tempo, possui algumas inseguranças, assim como qualquer pessoa. Não tem muita certeza sobre o quão boa é de verdade naquilo que faz, se cobra muito para melhorar, e não tem muito apoio no trabalho. O sonho dela é ter seu próprio restaurante. E é justamente por causa dessa fragilidade que, ao conhecer esse cara, o personagem do Mateus Solano, se deixará seduzir tão facilmente, pois ele percebe o ponto fraco dela e irá dar um injeção de ânimo, ser aquele apoio que ela tanto precisa.
E como irá se estabelecer o romance entre os dois?
O problema é que é uma relação unilateral, pois ele está ali do lado dela, mas com segundas intenções. A Mari acha que está vivendo uma grande história de amor, mas quando ele dá o golpe, o mundo dela literalmente desaba. É uma traição geral, que vai além da questão financeira, pois se trata também da dignidade dela. Depois de um período de depressão básica, aquela que todo mundo enfrenta no fim de um relacionamento, começa dar os primeiros passos de recuperação voltando ao trabalho, que é o que irá salvá-la. Ela descobre uma força que nem sabia que tinha, e é por isso que decide resolver essa questão, botar a limpo o que lhe aconteceu.
O filme é baseado em fatos reais?
Não necessariamente. O filme, principalmente para a Mari, tem uma trajetória muito legal, de queda e de dar a volta por cima, de um jeito ou de outro, e muitos de nós já passamos por situações difíceis, sem saber o que fazer, e aqui nós temos um exemplo que as pessoas podem se espelhar. O Michel (Tikhomiroff, diretor de Confia em Mim) afirma ter ouvido de um conhecido uma história similar que teria acontecido com amigos em comum, e que foi a partir daí que ele bolou a trama do filme. Mas o que está nas telas agora é uma ficção e é universal, todo mundo pode se relacionar com o que estamos mostrando.
Como tem sido a reação do público em relação à Mari?
Isso tem sido muito legal, tenho ficado feliz em verificar a torcida das pessoas em relação ao que acontece com ela. Os comentários tem sido ótimos. O pessoal torce pela personagem, há muita vibração quando se dão conta que ela é mais esperta que ele – o golpista. O roteiro engana o espectador, o que é muito bacana, pois a história se constrói de forma inteligente. Quando todos pensam que ela irá cair novamente na conversa dele… bom, não podemos entregar o jogo, né (risos)? É um filme simples, sem muitas pretensões, mas que pega o público. Isso foi possível perceber nas pré-estreias, o envolvimento do público, que realmente entra no suspense psicológico da trama. Adorei estar num filme de gênero assim, ainda mais sendo um personagem tão do bem.
Confia em Mim é um suspense, gênero pouco explorado no cinema brasileiro. O que ele traz de novo?
Acho que de novo, exatamente, não tem nada muito específico. Porém, o atrativo está em outra questão, que é justamente isso que você comentou: se faz muito poucos filmes desse tipo no Brasil. Então, só o fato de termos um representante bem feito, já é um motivo de comemoração, certo? O gênero é pouco explorado por aqui, e isso oferece uma janela muito grande para quem quer investir nessa linguagem. O público entra na história, curte junto cada reviravolta. Quando vou ao cinema, quero esquecer da minha vida e simplesmente entrar na história que está sendo contada, e parte disso é o suspense, ele que provoca essa reação. E não estamos sozinhos, há pouco teve também em cartaz o ótimo Entre Nós, logo irá estrear o Isolados, com o Bruno Gagliasso. Ou seja, é um estilo de cinema que tem tudo para dar certo no Brasil. Estamos abrindo uma porta.
Outro elemento pouco explorado pelo cinema brasileiro é a união com a gastronomia…
Isso foi muito legal, algo que também me atraiu ao projeto. Eu já era fã de cozinhar, de experimentar restaurantes novos, de me arriscar nas panelas. Acho esse universo muito bacana. E quando me foi oferecida a oportunidade de fazer uma chef de cozinha, eu simplesmente não poderia recusar. E realmente investi no perfil dela, todo tempo livre que tinha ia para a cozinha experimentar receitas novas. O Michel me aconselhou a literalmente colocar a mão na massa. Assim, fui a um restaurante fazer um treinamento, trabalhando numa cozinha profissional, conhecendo a rotina dessas pessoas. Queria experimentar como é na vida real, fiz questão de aprender. Cheguei a fazer um curso de gastronomia em Campinas, perto de Paulínia, onde filmamos boa parte da história. Tinha aula todos os dias, tentei aprender em dois meses o que um chef aprende em vinte anos, mas foi muito legal (risos). Durante as filmagens, também, tivemos acompanhamento de um chef profissional, do começo ao fim, justamente para ser o mais verdadeiro possível. Foi uma delícia. Fiquei obcecada, treinava durante horas no restaurante do hotel onde nos hospedamos. Afinal, esse era o universo da personagem, e queria me aproximar dela.
Como foi essa nova parceria com o Mateus Solano?
Pois então, esse, na verdade, foi o nosso encontro, a primeira vez em que trabalhamos juntos. Confia em Mim foi filmado antes da novela Amor à Vida, e quando nos reencontramos nos bastidores da Rede Globo foi uma grande alegria. Eu não o conhecia antes do filme, e hoje somos muito próximos. Sou amiga da esposa dele, a Paula Braun. Chegamos até a fazer um filme juntas, o Amanhã Nunca Mais (2009). O Mateus é um irmão, um cara muito legal, que pensa no colega, é generoso. Um artista incrível, super inquieto, que fica o tempo todo se questionando se pode fazer mais, melhor. Ainda mais em um filme como esse, que é muito baseado nos personagens, tudo a partir da interpretação deles, foi muito importante ter alguém com quem fosse possível estabelecer essa parceria. Meu marido é amigo dele, frequentamos um a casa do outro, e o trabalho junto só nos aproximou.
Um dos seus primeiros papeis no cinema foi no campeão de público Tropa de Elite. Como foi essa experiência?
Foi maravilhoso. O Tropa de Elite foi meu primeiro filme de verdade. Antes só havia feito uma participação minúscula num filme que ninguém viu (Inesquecível, 2007, de Paulo Sérgio de Almeida). O Padilha é um gênio, um cara com vontade de fazer um cinema sério, de qualidade, e foi muito bom aprender com ele. Fiquei feliz de poder fazer parte de um projeto social tão importante quanto esse filme, que não fala só do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil. Ele abriu uma porta de realidade que talvez nós, que somos do Sul, não entendamos tão bem, mas é urgente e está aí, acontecendo agora mesmo. Nunca tinha subido num morro na minha vida, e todo esse processo foi uma experiência maravilhosa não só como profissional, mas também como pessoa. Depois que o filme virou um fenômeno a sensação era ótima, mas desde o início a gente sentia que estava fazendo parte de algo especial. O texto já era provocativo, com questões que colocavam o dedo na ferida. Era algo destinado a mexer nas estruturas, exatamente como aconteceu.
E atuar no exterior, como em A Brasileira (2013)? É algo que você pretende seguir investindo?
Na verdade, não sei como isso irá acontecer na minha vida, tenho deixado as portas abertas para analisar bem todas as opções. No ano passado me casei, e meu marido é americano, ele veio morar aqui no Rio comigo, mas agora teve que voltar. Então estamos nos dividindo, com o fim da novela e após a divulgação do Confia em Mim devo ir para os Estados Unidos também. Mas tenho contrato com a Globo, se me chamam preciso estar presente, então vamos ficando no meio do caminho. Tenho um agente lá, e se pinta algum teste, vou e faço, ou mesmo pelo Skype. Se for legal e houver como, farei. No ano passado perdi um filme em Hollywood por causa da novela aqui no Brasil. Nem sempre é fácil conciliar as duas coisas. E também não posso largar tudo aqui e ir para lá e ficar fazendo nada, sem ocupação. Mas estou tranquila, só no aguardo.
Como foi participar de A Brasileira?
Foi um filme independente, muito pequeno, que não tinha grana nenhuma. Mas foi muito gostoso de fazer, a equipe era bem unida. Nunca havia feito um filme falado em inglês, foi um desafio bacana, que me exigiu bastante. Mas serviu para quebrar o gelo, um ótimo exercício, pois todo mundo fala em outra língua, e eu precisava acompanhar o que acontecia. Pra falar a verdade, não senti diferença em fazer um filme nos Estados Unidos ou no Brasil, ao menos não nas condições que me foram apresentadas. Nos dois países há pessoas dedicadas, que querem dar o seu melhor e se divertir no processo. Fiquei muito feliz de ter participado de A Brasileira, mas é uma comédia bem simples, quase bobinha, que infelizmente quase ninguém viu. Agora foi vendida para a televisão, então é possível que chegue a um público maior.
O que o público pode esperar de Confia em Mim?
Um filme divertido e envolvente, acima de tudo. É um história que pega o espectador em vários níveis, ainda que seja muito simples. Acho que as mulheres, especialmente, vão gostar de Confia em Mim, pois lava a alma do público feminino no final. É uma personagem forte, que luta para sobreviver, e consegue. E tem também o grande Mateus Solano, precisa de mais motivos para ir ao cinema (risos)? E ele tá completamente diferente do que fazia na televisão, com uma nova linguagem. É um outro registro, e que funciona muito bem. Este é um filme que pega pela barriga, pelos olhos e também pelo cérebro!
(Entrevista feita por telefone direto do Rio de Janeiro em 7 de abril de 2014)
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