O sétimo dia de programação do 39° Festival de Cinema de Gramado foi totalmente gaúcho. Sim, pois foi na quinta-feira que aconteceu, durante todo o dia – em duas sessões, uma pela manhã e outra pela tarde – a exibição dos 20 curtas selecionados para a Mostra Gaúcha Assembléia Legislativa. Esse é o dia mais esperado por toda a comunidade de cineastas, atores, técnicos, produtores e estudantes de cinema do Rio Grande do Sul. A cidade fica mais movimentada e o festival ganha um ar de renovação e vigor. É um dia especial, como se fosse um evento à parte. O que na verdade não deixa de ser.
Todos os filmes feitos no Rio Grande do Sul no último ano e que se inscrevem no Festival de Gramado tentam, é claro, uma vaga na mostra competitiva nacional. Se para os longas é tudo ou nada – dos 11 inscritos nesse ano, apenas um, O Carteiro, de Reginaldo Faria e produzido pela portoalegrense TGD Filmes, foi selecionado – para os curtas há uma segunda chance. Em 2011 somente duas produções em curta-metragem, das 20 inscritas, conseguiram figurar também na mostra nacional. Foram elas Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo, de Rodrigo John, e O Cão, de Abel Roland e Emiliano Cunha. Estes, ao lado de outros 18, representavam o cinema gaúcho na mostra local.
Após as exibições contínuas durante todo o dia, à noite, no Palácio dos Festivais, aconteceu a premiação. Ou seja, é tudo muito rápido, num único dia acontece o início, o meio e o fim. E o mais curioso dos resultados desse ano foi que os principais premiados não foram nenhum dos dois selecionados também para a mostra nacional – que, em tese, deveriam ser os melhores, uma vez que são os únicos que se qualificaram para participar das duas competições. Enquanto que O Cão saiu de mãos abanando, Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo ganhou apenas o troféu de Edição de Som. O grande vencedor foi De Lá Pra Cá, de Frederico Pinto, premiado como Melhor Filme, Direção e Ator (o uruguaio Horácio Camandulle, de Gigante, 2009). Os demais troféus ficaram divididos entre sete concorrentes: Antonia ganhou Melhor Atriz (Lourdes Kauffmann), Tricô e Pitangas ganhou Melhor Roteiro, Madre Sal ficou com Fotografia, A Noite do Artista foi a Melhor Direção de Arte, a música foi a de Marcovaldo, Três Vezes por Semana ganhou como Montagem e Kopeck, de Jaime Lerner e produzido pela Manga Rosa Filmes, ganhou o prêmio de Melhor Produção Executiva!
Completando o dia gaúcho, após a exibição do longa colombiano Garcia, de José Luis Rugeles, foi a vez do único filme em longa-metragem feito no estado ser exibido: O Carteiro! A história inspirada nas comédias italianas sobre um jovem entregador de cartas que tem mania de ler a correspondência dos outros, até que se mete em confusão por se apaixonar por uma garota da cidade, chegou cheia de expectativas, que foram cumpridas em parte junto à audiência. A presença do diretor Reginaldo Faria e de grande parte do elenco – lá estavam Candé Faria, Ana Carolina Machado, Felipe de Paula, Zé Victor Castiel, Ingra Liberato, Fernanda Carvalho Leite e Anselmo Vasconcellos, entre outros (ao lado) – contribuiu para despertar a atenção dos espectadores, fazendo dessa uma das sessões mais concorridas de todo o festival. Com muito bom humor e sensibilidade, O Carteiro parece ser um filme para grandes públicos, que retribuiu com muitas risadas e aplausos durante a projeção. Já os críticos apontaram deslizes na estrutura narrativa, em algumas interpretações e na própria ambientação. Este é um filme de época que tem como cenário a região do Vale Vêneto, próximo a Santa Maria. E é também uma obra relativamente barata – teve um orçamento aprovado de R$ 3 milhões, porém foi realizado com apenas R$ 1,3 milhão, o valor arrecadado pela produção. Essa contenção de custos fica evidente na tela, mas nada que prejudique o desempenho da trama. E sem agradar a todos, ao menos fechou com chave de ouro e bastante entusiasmo o dia neste que é o mais importante festival de cinema do Rio Grande do Sul.
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