A curitibana Simone Spoladore é um dos mais ricos talentos de sua geração no que compete às atrizes brasileiras. Sempre na ativa, varia seus trabalhos entre o teatro, a televisão e o cinema sempre com o reconhecimento das qualidades de suas atuações, seja no drama ou na comédia. Não à toa já venceu e foi indicada a vários prêmios destas três áreas de interpretação. Dona de uma beleza clássica e camaleônica na mesma medida, já interpretou papeis dos mais sensuais aos de uma mulher “comum”, se assim podemos chamá-la. Atualmente protagoniza a série da HBO Magnífica 70, que retrata, justamente, a época do Boca de Lixo. Com mais um aniversário a ser completado no dia 29 de outubro, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para escolher seus cinco melhores trabalhos – e mais aquele que merece um destaque. Confira!
Lavoura Arcaica (2001)
Baseado no livro homônimo de Raduan Nassar, este filme trata de maneira poética o amor incestuoso, um dos grandes tabus sociais. O personagem de Selton Mello rompe com as tradições agrária e patriarcais, abrigando sua solidão num cubículo longe do cabresto do pai e da tentação das curvas cada vez mais insinuantes da irmã. Narrada com um rigor visual que emoldura a prosa ao mesmo tempo caudalosa e forte de Nassar, a realização de Luiz Fernando Carvalho encontra no corpo em movimento de Simone Spoladore a chave para as angústias de André, ele que sofre por sentir um amor fadado à interdição. De pés descalços, rodopiando no meio da roda festiva, ela é a luxúria encarnada, a chama escondida sob as vestes de anjo, figura que materializa as proibições. A autoridade do pai vivido por Raul Cortez, homem que preza pela obediência testada na rotina das refeições, exerce uma influência nefasta sobre o jovem que, então, decide fugir da opressão e da rejeição de Ana, irmã que, ele bem sabe, nunca poderá possuir. Simone Spoladore dota essa jovem de um perigo disfarçado pela aura de inocência. Menina mulher, ela ameaça esse mundo essencialmente masculino, expondo assim sua fragilidade. – por Marcelo Müller
Desmundo (2002)
Neste longa de Alain Fresnot baseado no romance de Ana Miranda, a colonização do Brasil é vista sob a ótica dos próprios portugueses, em especial das orfãs brancas enviadas do país europeu para se casarem com os primeiros colonos já em terras tupiniquins. Oribela se rebela contra essa ordem, recusa o destino imposto pois apenas quer voltar para casa, mas acaba com um destino tão trágico quanto. Desprezada por todos, ela se casa com o igualmente excluído Dom Fernando de Albuquerque (Osmar Prado), vivenciando não apenas a falta de cumplicidade com o parceiro como a violência de uma relação desigual, na qual é obrigada fazer várias coisas que não gostaria. Inclusive violência sexual. Simone Spoladore tem em mãos esta personagem forte e a torna multifacetada, com uma personalidade inabalável, mesmo com os horrores aos quais é submetida. Um trabalho de incontestável qualidade que lhe valeu o prêmio de Melhor Atriz no Guarani, demonstrando mais ainda seu talento que só se disseminaria ainda mais com os trabalhos que viriam a seguir. – por Matheus Bonez
Não se Pode Viver Sem Amor (2009)
Depois de ter chamado a atenção de público e crítica em Lavoura Arcaica (2001), seu trabalho de estreia no cinema, e ainda ter ganhado prêmios e mais respeito por suas performances em Desmundo (2002) e Natimorto (2009), Simone Spoladore chegava a um de seus papéis mais interessantes nesta produção assinada por Jorge Duran, vencedora de três kikitos no Festival de Cinema de Gramado, em 2010 – incluindo Melhor Atriz. A trama bebe na fonte do realismo fantástico e mostra cinco pessoas diferentes, todas em busca de algo que lhes é muito caro, algo que os complete. Dentre estas pessoas, destacam-se o menino Gabriel (Victor Navega Motta) e a determinada Roseli (Spoladore). Abandonado pelo pai, Gabriel busca por seu pai às vésperas do natal, enquanto Roseli (igualmente deixada de lado) ajuda o menino nesta empreitada. No caminho, os destinos destes dois personagens se entrelaçam com os de outros, como o professor/taxista vivido por Ângelo Antônio, a dançarina interpretada por Fabíula Nascimento ou o rapaz perdido no mundo vivido por Cauã Reymond. Com um elenco cheio de bons nomes, o destaque dado a Spoladore pelo Festival de Gramado só comprova o talento da atriz, estrelando um filme nada convencional. – por Rodrigo de Oliveira
Sudoeste (2009)
Simone Spoladore interpreta Clarice, moradora de um vilarejo de um interior desconhecido, que vê sua vida passar por todos os estágios e fases durante um dia. Mesmo crescendo e chegando até a velhice, a jovem permanece com a mente de uma menina em sua infância. Ingênua, a pobre garota enfrentará durante esse dia a dura realidade da violência, vida e morte. Poético, de poucos diálogos e muita contemplação, traz subtextos excepcionais e Spoladore dá vida a esses momentos em uma das fases da personagem. Enriquecendo ainda mais o filme de Eduardo Nunes com sua performance de olhar firme para uma garota que aos poucos vai amadurecendo frente à vida, Spoladore se firma aqui como uma grandiosa força em nosso cinema em uma pontual, mas bela interpretação em um dos melhores filmes nacionais da última década. – por Renato Cabral
A Memória que me Contam (2012)
O período da ditadura militar permanece como um dos temas mais explorados pelo cinema nacional. Entre os diversos filmes que retratam este momento da história brasileira está este belo trabalho da cineasta Lucia Murat, cuja trama gira em torno de um grupo de ex-militantes que se reúnem quando uma de suas companheiras, Ana, é internada em estado grave. Para registrar a reação de cada um dos amigos à possibilidade da morte daquela que era o elo de união do grupo, uma líder carismática, Murat faz com que os personagens interajam com a memória que têm de Ana, que surge em sua forma jovem e militante, interpretada por Simone Spoladore. Narrado com muita delicadeza, atenção aos detalhes e também certa ousadia, o longa realiza uma interessante análise desse período de revolução pelo qual o Brasil passou, para tentar entender seus efeitos no presente. Um trabalho forte, maduro, que tem seu valor ainda mais elevado pelas ótimas atuações de seu grande elenco, que conta com Irene Ravache, Otávio Augusto, Zecarlos Machado, o italiano Franco Nero e, principalmente, Spoladore. Com habilidade, a atriz apresenta as várias facetas de sua personagem, conseguindo cativar o público da mesma maneira que sua personagem cativava todos. – por Leonardo Ribeiro
+1
Elvis & Madona (2010)
Nesta comédia romântica do diretor Marcelo Laffitte, Simone Spoladore interpreta Elvis, uma entregadora de pizza que sonha em ser fotógrafa. Homossexual, ela se apaixona pelo travesti Madona (Igor Cotrim), que trabalha como cabelereiro e faz shows noturnos. Elvis é uma personagem forte, que enfrenta perigos para levar adiante esse amor inusitado. O humor muitas vezes escrachado é um dos temperos da narrativa, gera momentos em que principalmente Spoladore demonstra versatilidade. Se por um lado, temos na trama toda sorte de dificuldades e barreiras inerentes a qualquer relacionamento, como as inseguranças e o receio da entrega, por outro há um clima de otimismo que encontra sustento na perseverança dos protagonistas. Spoladore, atriz que chama atenção tanto pela beleza quanto pelo talento, aqui vive uma pessoa lutando para manter um grande amor, a despeito das convenções sociais. A singularidade do longa-metragem está na dinâmica afetiva e na maneira como Laffitte abraça os códigos do gênero ao qual se filia, sem deixar-se escravizar demasiado pelas facilidades deles. Parte de uma dupla muito afinada, Simone Spoladore vai do riso ao siso, sem perder o prumo ou forçar a mão. – por Marcelo Müller
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