Nada menos do que cinco longas-metragens foram exibidos no quarto dia de programação oficial do 6th Paulínia Film Festival, aqui no interior de São Paulo. E o festival segue também na sua aposta de valorizar o tapete vermelho, com o desfile de estrelas das mais variadas grandezas. E se ontem o destaque era feminino, com a presença de Deborah Secco, a atração maior desse noite foi masculina, com todas as atenções voltadas para o galã Daniel de Oliveira. Ele, assim como a colega do dia anterior, também veio acompanhar a exibição do longa em que é protagonista, em mais um impressionante desempenho de sua carreira: Sangue Azul (2014), de Lírio Ferreira.
E Daniel de Oliveira não veio sozinho. Além dele e do realizador, estiveram também as atrizes Sandra Corveloni (que interpreta sua mãe) e Caroline Abras (no papel da irmã), além de Sophie Charlotte – atual namorada do ator. E Sangue Azul cumpre o que promete: além de cenas belíssimas – é o primeiro longa feito inteiramente na ilha de Fernando de Noronha – e uma fotografia que soube explorar bem as maravilhas naturais da locação, a história é forte, sobre um homem (Oliveira) que atua como Homem-Bala em um circo e retorna para sua cidade natal muitos anos depois de ter partido, reencontrando-se com sua família e abrindo velhas feridas. Temas polêmicos, como traição, relações homossexuais e incesto estão em pauta, mas sempre abordados com muito cuidado e respeito. Uma experiência interessante e digna do interesse despertado.
Se a noite terminou com muitas estrelas adultas, o dia começou com dois filmes voltados para o público infantil. As atrações do Festivalzinho foram a animação francesa Zarafa (2012), de Jean-Christophe Lie e Rémi Bezançon, e o nacional Meu Pé de Laranja Lima (2012), de Marcos Bernstein. As projeções foram concorridas, com grande participação de alunos de escolas locais, o que comprova a eficácia da iniciativa. À tarde foi a vez da mostra competitiva de curtas-metragens, com mais dois títulos inéditos: 190 (2014), a estreia como cineasta do também ator Germano Pereira, que tem como tema as revoltas populares que aconteceram pelo Brasil em 2013, e O Clube (2013), de Allan Ribeiro, o mesmo realizador do premiado docudrama Esse Amor Que Nos Consome (2012).
A Seleção Internacional, promovida com títulos inéditos que serão lançados no Brasil nos próximos meses pela distribuidora Imovision em comemoração aos seus 25 anos de atividades, apresentou o franco-alemão A Pedra de Paciência (2012), de Atiq Rahimi. De início lento e ritmo diferenciado, o longa estrelado pela bela Golshifteh Farahani conquista com o desenrolar de sua história, sobre uma mulher em uma pequena vila do Afeganistão que precisa usar de recursos nada convencionais para conseguir sobreviver em meio aos ataques terroristas da região após o marido ser atingido por uma bala na nuca e entrar em coma. O final, surpreendente, e a competente atuação da protagonista, são os maiores méritos da obra.
Por fim, a maior surpresa do dia foi o primeiro longa da mostra competitiva: Casa Grande (2014), de Fellipe Barbosa. O diretor do documentário Laura (2012) estreia na ficção com uma obra que tem ares do premiado O Som ao Redor (2012) ao trazer para o centro de seu discurso a decadência da classe média nacional, porém com mais humor e num foco mais centrado em uma única família. Na zona sul do Rio de Janeiro, acompanhamos a degradação financeira desse núcleo familiar em que o pai está falido e desempregado, a filha adolescente é invisível, a mãe não sabe o que fazer para ajudar e os empregados estão, aos poucos, abandonando suas funções. E quem acompanhamos no meio desse processo é o filho mais velho, Jean, às vésperas de prestar vestibular ao mesmo tempo em que descobre o primeiro amor. O filme é um achado, com uma trama dinâmica, boas atuações e uma atenção aos detalhes que compensa suas quase duas horas de narrativa. Um trabalho acima da média, que deve ser recompensado na premiação deste ano.
(O Papo de Cinema é um veículo credenciado oficial do 6th Paulínia Film Festival)