O primeiro seminário proposto pelo 7° Curta Taquary aconteceu na terça-feira, dia 25. Estavam reunidos os debatedores Jean-Claude Bernardet (pesquisador, crítico de cinema, roteirista e ator), Marcelo Gomes (cineasta), Taciano Valério (cineasta) e Everaldo Pontes (ator). A mediação foi feita pelo jornalista e crítico de cinema Edu Fernandes. A atriz Hermila Guedes, que havia sido anunciada como participante da mesa, não conseguiu chegar à cidade de Taquaritinga do Norte a tempo, e teve sua participação cancelada.
A conversa começou com a motivação mais direta possível: afinal, em dias como os de hoje, é que é ser contemporâneo? É o momento de agora, o que estamos vivendo e que em questão de segundos já virou passado, ou o amanhã, o se reinventar e propor sempre algo novo e inédito? A discussão, sempre pertinente, motivou a interação com o bom público presente. É difícil apontar para uma única e sólida conclusão, ao mesmo tempo em que a multiplicidade de opiniões a respeito fortalece as mais diferentes construções a respeito.
A atriz Prazeres Barbosa, presente como ouvinte, motivou outro foco de debate quando destacou os grupos artísticos que se formam naturalmente e a dificuldade natural de cada intérprete em ingressar nestes contextos. Everaldo Pontes e Jean-Claude, por exemplo, são atores de Pingo D’Água (2014), longa inédito de Taciano Valério e que concorreu neste ano no Festival de Brasília. Ao mesmo tempo, Bernardet esteve presente no elenco de O Homem das Multidões (2013), o mais recente trabalho como realizador de Marcelo Gomes, exibido neste ano no Festival de Berlim. “É mais fácil quando trabalhamos com quem já conhecemos, ao mesmo tempo em que é importante arriscar e investir em novos talentos”, afirmou Valério.
“Mas isso não pode ser tudo. O cinema tem que estar aberto ao improviso, ao frescor da incerteza e ter condições de lidar com o acaso”, completou Gomes, que lembrou episódios envolvendo as realizadores de outros filmes seus, como Cinema, Aspirina e Urubus (2005) e Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo (2009). “O acaso precisa ser bem vindo, e tanto o cineasta como sua equipe precisam estar abertos para quando ele surge, atentos para incorporá-lo ao processo quando necessário”, completou.
Jean-Claude, no entanto, lembrou dos seus anos como acadêmico e apontou para a necessidade de um roteiro sólido antes do início de cada projeto, sentimento compartilhado por Taciano. “A contemporaneidade está no agora, mas também no ontem, quando resgatamos obras importantes que merecem ser revistas e reinterpretadas, e no amanhã, quando desenvolvemos exercício a respeito do futuro”, comentou o realizador paraibano. “É preciso impor limites para lidar com os imprevistos, pois de outra forma a proposta original se perde e tudo vira caos”, confirmou Everaldo, que ainda comentou sobre a valorização crescente dos não-atores em filmes mais experimentais, em que a atuação clássica acaba ficando em um segundo plano. “Precisamos nos redescobrir e nos reinventar, ir atrás sempre do frescor da primeira vez”, completa.
Entre citações a um estilo de cinema mais cru e simples, como o dos irmãos belga Jean-Pierre e Luc Dardenne, lembrados por Everaldo Pontes, foi Marcelo Gomes que fez a melhor comparação: “Fassbinder seguidamente apontava que seu cinema é assumidamente inspirado no que Douglas Sirk havia feito anos antes em Hollywood, e mesmo assim conseguiu produzir uma filmografia única”. Ou seja, a cópia pode ser feita, desde que aponte para um caminho novo e específico, que dote essa nova obra de uma singularidade essencial.
(O Papo de Cinema é um veículo convidado oficial do 7° Curta Taquary)
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