Como Nossos Pais foi o primeiro filme brasileiro exibido este ano na Berlinale – numa edição em que o festival germânico contará com o incrível número de nove longas-metragens nacionais. E não começou mal: com a enorme sala do Cinemaxx esgotada, a diretora Laís Bodanzky e os seus protagonistas, Maria Ribeiro e Felipe Rocha, receberam os aplausos do público. Considerando que esta produção compete numa seção onde é a audiência que escolhe o vencedor através de votos no final da projeção, a simpatia dos espectadores é sempre um bom indício.
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De resto, a seção Panorama, em teoria aquela onde a organização enfatiza sua fé na necessidade de propostas acessíveis, é o lugar privilegiado para o cinema brasileiro. Desta vez, no entanto, estamos em todas as quatro mostras principais. Isso reflete, particularmente, uma vontade da Berlinale de dizer que não são apenas ousadias, mas também a arte de contar uma história, que fazem do cinema algo especial. E, neste quesito, uma cinematografia vibrante que, nos últimos anos, não tem parado de crescer e se aprimorar, se encaixa neste recorte como uma luva graças à sua enorme capacidade de comunicação com o público.
Bodansky pode seguir os passos de Anna Muylaert, que ganhou o prêmio do público há dois anos com Que Horas Ela Volta? (2015), mas não apenas pelo reconhecimento mas, principalmente, por também apostar na temática “feminista”. Como Nossos Pais conta a história de Rosa (Maria Ribeiro), uma aspirante a dramaturga que trabalha como publicitária para se sustentar. O filme foca a sua relação com a mãe, que lhe revela um terrível segredo logo no começo, com o marido, marcada pela exaustão e as mentiras do casamento, com um possível amante, com as filhas e com o pai. Essencialmente, a trama capta a urgência de uma personagem que, num dado momento, está sob questionamento total da sua identidade e da sua condição de mulher.
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Com citações e algum enquadramento teatral, misturado a uma técnica que privilegia os planos fechados, tudo acaba se depositando nas atuações e nos diálogos. Assim, a diretora produziu uma obra com temas muito femininos (curiosamente, coescrita por um homem, Luís Bolognesi) e que, como destacou em uma rápida conversa com o público, surgiu do seu dia-a-dia e até de conversas no elevador. Como Nossos Pais abraça uma enormidade de temas subjacentes ao papel social e existencial de uma mulher (a família, o amor, o casamento, a morte, o trabalho) mas consegue manter-se sóbrio e interessante até o fim.
(Direto de Berlim, Alemanha)
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