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Parece que não tem concorrência mesmo. A Pixar deve levar o Oscar para casa após três anos (a última vez foi com Valente, 2012, e nem tão aplaudido assim) e depois de outros dois sem sequer concorrer ao prêmio. Divertida Mente tem ao seu lado as estatuetas do Globo de Ouro, Annie (Oscar da animação), Critics Choice e National Board of Review, além de ter conquistado 27 aglomerações de críticos dos respectivos estados norte-americanos. Como pensar em outra possibilidade? Seu concorrente mais forte é Anomalisa, mas muito mais pelos créditos em si do que pelo gosto da Academia. Afinal, se trata da direção e roteiro de Charlie Kaufman – Adaptação (2002) e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), lembram? Pois então. Ainda que o filme tenha imensos predicados, os votantes não são tão indies assim para irem na onda do criador. Mesmo com o prêmio do Festival de Veneza, o longa ficou em segundo lugar na maior parte das votações onde seu concorrente da Pixar alçou o posto mais elevado. Vai bater na trave, mas com louvor.
Os outros três são puro azarões, ainda que de máxima qualidade. Aliás, um bom ano para esta categoria, em que todos os concorrentes são fortes o bastante para concorrerem de igual para igual no quesito técnico e artístico. O ensandecido stop motion Shaun: O Carneiro é realização dos mesmos criadores de A Fuga das Galinhas (2000) e Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (2005) – este último, por sinal, vencedor do Oscar -, e mantém o mesmo nível de entretenimento e apuro estético de seus antecessores. As Memórias de Marnie traz, mais uma vez, a sensibilidade oriental dos estúdios Ghibli à cerimônia da Academia. E por último, mas não menos importante, o brasileiro O Menino e o Mundo faz história ao ser a primeira animação brasileira indicada ao Oscar. Um feito e tanto para um longa que já tinha vencido mais de 40 festivais pelo mundo afora e, inclusive, levou o Annie de Melhor Longa Independente de Animação.
É Pixar. É roteiro inteligente (e indicado, inclusive). É sucesso de bilheteria. Vencedor de vários prêmios. Tem personagens fofos e uma história adulta que emociona os mais velhos e suas memórias sem desmerecer o bom entendimento para a criançada. Ou seja, tem tudo na medida e vai além. Precisa de mais motivos?
A escolha é difícil porque não há nenhum filme ruim aqui, muito pelo contrário. Há muito tempo a Academia não selecionava tão bem seus finalistas nesta categoria. Contudo, por mais que o sentimento brazuca pelo sensível O Menino e o Mundo seja forte, Shaun: O Carneiro tem aquele sabor de infância com gags hilárias e personagens divertidíssimos aliados a uma mensagem importante sobre a natureza e quem é diferente dos outros sem nunca cair na pieguice ou nos clichês do gênero. Mas tudo bem, não vai levar.
Ok, são três azarões. Porém, tanto Shaun: O Carneiro quanto As Memórias de Marnie vem de estúdios que já deram a cara no Oscar. Já este título, além de trazer o ineditismo do Brasil na categoria, é uma produção independente, feita a custo de muito suor com pouco investimento e que, mesmo assim, chamou a atenção por onde passou devido ao seu alto teor de qualidade. Que fique a lição para que os investidores do cinema nacional olhem mais à sua volta e descubram outros Alês Abreus perdidos no meio das animações buscando uma chance de mostrar seu talento.