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Na opinião de alguns, Tim Burton vem perdendo relevância com o passar dos anos. Em contrapartida, muitos ainda o consideram um dos autores mais criativos de Hollywood. Famoso por levar às telas sua imaginação repleta de sombras e tipos estranhos, o cineasta chegou este ano ao nosso circuito com Grandes Olhos (2014), cujo ponto de partida é uma história real. A pintora Margaret Keane (Amy Adams) sofreu o pão que o diabo amassou, primeiro com o marido de quem se divorciou, depois numa relação conturbada com o também artista Walter Keane (Christoph Waltz). Com a desculpa de ser o melhor para os negócios, este usurpou dela a autoria das pinturas que retratavam pessoas de olhos expressivos, trabalhos mundialmente famosos e extremamente lucrativos. Nesta semana, Grandes Olhos está na berlinda do Papo de Cinema, com Marcelo Müller o defendendo do ataque de Matheus Bonez. E você, o que acha, tanto do longa quanto da produção recente de Tim Burton?

 

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A FAVOR ::  Burton pinta um quadro não menos repleto de terror e opressão “, por Marcelo Müller
Grandes Olhos é bem melhor do que andam falando por aí. Dizem que Tim Burton perdeu a mão, que fez um filme convencional. Não acho. Para mim bateu muito bem essa narrativa de cores saturadas sobre uma mulher que larga o marido – num tempo em que divorciadas sofriam muito preconceito – e depois encontra um cara sedutor, como os comerciantes devem ser, mas charlatão. Embora num primeiro momento algumas coisas pareçam simplistas e unidimensionais, basta atenção para notar camadas que se mostram nas pequenas ações, nos momentos de hesitação, nos olhares enviesados. Burton pinta um quadro não menos repleto de terror e opressão, só que desta vez calcado numa história baseada em fatos, visualmente mais luminoso, o que causa contrastes interessantes. Um filme em que vemos a diferença entre arte e vender arte, entre a criação e o árduo caminho a ser percorrido para cair no gosto de quem legitima a obra como valiosa para o mercado. Burton, que não é bobo, fingiu dar uma volta longe de seu registro habitual, mas na verdade remoeu velhos interesses e obsessões, apenas com uma roupagem ligeiramente diferente, o que é muito bom.

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CONTRA :: Eclipsado pelas boas intenções nas quais se perde”, por Matheus Bonez
Tim Burton precisava se reinventar após vários filmes que, por mais que tenham sido sucesso de público, deixaram a crítica dividida. Grandes Olhos é uma tentativa de recuperar o brilho perante as opiniões especializadas, e para isso tem dois grandes trunfos: Amy Adams e a história real na qual é baseado. Porém, aos poucos o roteiro vai se perdendo numa briga megalomaníaca encabeçada por Christoph Waltz, ator que já ganhou dois Oscar fazendo praticamente o mesmo papel, que, aliás, ele parece repetir a cada trabalho. Se a intenção era emocionar com a trama, a exagerada atuação do intérprete não permite que isso aconteça plenamente. Waltz não faz do marido da personagem de Adams alguém real, e sim mais um produto para desfilar suas caras, bocas e ironias, sempre do mesmo jeito. Obviamente não se deve esperar uma cinebiografia nos moldes clássicos quando Burton está envolvido, mas escolher um ator mais versátil seria uma forma de não deixar o longa eclipsado apenas pelas boas intenções nas quais se perde. Além de tudo, o final parece apressado e infantil demais para uma história tão complexa, o que tira ainda mais força do projeto como um todo.

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