O sci-fi Gravidade, dirigido por Alfonso Cuarón, é um dos filmes-sensação da temporada, fato comprovado tanto pela excelente resposta de público (lidera há duas semanas as bilheterias norte-americanas) quanto pelo burburinho que vem causando nas redes sociais, blogs ou outros espaços destinados ao cinema. Há quem sustente, desde já, a aventura espacial como sério candidato às principais categorias do Oscar. Diante dessa euforia quase geral, há, por outro lado, os que percebem o filme apenas como bom exemplar focado na sobrevivência, de força mais calcada no visual e no insólito entorno, isso para além de algo que lhe torne verdadeiramente memorável. Às vezes nem isso, também há os completos indiferentes à Gravidade. Então, ideal para tirar essa teima (ou colocar mais lenha na fogueira) é o Confronto Papo de Cinema. De um lado do nosso ringue virtual, Renato Cabral defende os méritos do filme protagonizado por Sandra Bullock e George Clooney. No outro corner, Thiago Ramari põe em xeque o que muitos definiram como obra-prima, relativizando as qualidades e as boas intenções de Gravidade. Faça sua aposta, ou melhor, leia, comente, acrescente sua opinião ao debate.
A FAVOR :: “Aborda a grandiosidade do ser humano, a ciência e a esperança residente em ambos”, por Renato Cabral
Claustrofóbico é certamente um bom adjetivo para Gravidade, produção dirigida e co-roteirizada pelo mexicano Alfonso Cuarón e que vem ganhando o público e crítica por onde é exibido. Mas mais que uma produção sensorial que faz um excelente uso de som e efeitos especiais, ainda mais em exibições em IMAX, o filme traz também uma série de assuntos que são caros ao cinema de Cuarón, como a grandiosidade do ser humano, a ciência e a esperança que reside em ambos. Renascimento poderia ser uma das palavras para resumir Gravidade, essa história de uma dupla de astronautas e a simples missão que se torna um verdadeiro pesadelo. Vale destacar também a excepcional performance de Sandra Bullock, que havia colocado o mundo em dúvida devido ao seu inesperado Oscar por Um Sonho Possível (2009), mas que aqui confirma seu incrível talento tão subestimado pela crítica, entregando uma personagem inimaginável de ser interpretada por outra atriz. O trabalho de Bullock é essencialmente uma soma de coreografia e respiração, e para manter-se natural em meio a tantos artefatos tecnológicos e marcações de reações, a atriz mostra desenvoltura e renasce apresentando seu melhor trabalho até o momento. Dessa vez, não deveria haver dúvidas, a próxima estatueta do Oscar merece estar nas mãos de Bullock.
CONTRA :: “Gravidade não gera reflexão alguma”, por Thiago Ramari
Gravidade pinta com ostentação aquilo que não tem. Se por um lado é uma ficção científica de ponta, capaz de causar tensão e frisson no público, por outro não gera reflexão alguma e é neste ponto que o filme peca. O principal exemplo deste deslize está no mote do roteiro: o “renascimento” da especialista da Nasa, Ryan Stone, interpretada por Sandra Bullock, durante uma viagem mal sucedida ao espaço. Em duas partes, que chamo de “reconcepção” (depois de ficar sem oxigênio à deriva no espaço, a protagonista entra em uma estação russa, desfaz-se da roupa de astronauta e fica em posição fetal) e “parto” (quando chega à terra firme tendo de reaprender movimentos básicos do corpo), a construção da metáfora narrativa se mostra pateticamente óbvia, embora a película a trate de modo evidentemente especial. Um olhar atento mostra até que é dispensável, sem prejuízo para a diégese cinematográfica. Em outras palavras, soa piegas e, naturalmente, nada desafiador à inteligência. Um título-entretenimento e nada mais.