por Roberto Cunha*
Segundo dia do Festival de Cannes 2014 e dois dramas, de diferentes pegadas, estavam entre as atrações. Um retorna ao passado para revelar um personagem insano do mundo das artes e o outro aproveita a onda atual de filmes realistas para mostrar o drama de uma dançarina de bar solitária.
Mr. Turner (idem, 2014)
Bom :)
Escrito e dirigido pelo multipremiado Mike Leigh, cineasta britânico de filmes como Segredos e Mentiras (1996), que ganhou a Palma de Ouro por aqui, Mr. Turner mostra um pedaço da vida de Joseph Mallord William Turner (1775-1851), famoso pelo estilo controverso de ser, de desenhar e reconhecido como um dos maiores pintores de paisagens de todos os tempos. Membro da Royal Academy of Arts, entre suas “façanhas” na arte de captar a luz, Turner chegou ao ponto de se amarrar a um mastro de navio para poder, mais tarde, ilustrar uma verdadeira tempestade. Exibido ma primeira sessão do dia, às 8h30, o longa recebeu aplausos da plateia.
Com o objetivo de fazer o público emergir nas cores e paletas do artista em questão, as imagens de Leigh são animadoras desde os primeiros segundos, quando um moinho é observado pelo espectador e pelo pintor. E como elas não são poucas, não raro a sala escura será iluminada por belos enquadramentos e boa reconstituição de época. Ao mesmo tempo, o roteiro vai destrinchando, através de diálogos e situações bem humoradas, a insana e curiosa personalidade do personagem fã da música de Henry Purcell. E é assim que esse excêntrico ícone das artes do século XIX é “pintado”, com toques de extremo bom gosto. Do elenco, destaque para o protagonista Timothy Spall, velho parceiro do diretor, e para a sincera entrega de Dorothy Atkinson à sua empregada apaixonada pelo patrão. Se fosse mais curto, Mr. Turner ficaria ainda melhor.
http://www.youtube.com/watch?v=9yuanTQdAGc
Party Girl (idem, 2014)
Bom :)
Escrito e dirigido pelo trio Marie Amachoukeli-Barsacq, Claire Burger e Samuel Theis, Party Girl foi o filme escolhido para a abertura da Mostra Um Certo Olhar, na quinta-feira, às 19h15. Pela manhã, a recepção da imprensa internacional foi morna, mas colheu aplausos. Na história, Angélique trabalha há anos em boates, é muito experiente, já passou a casa dos 60 anos, tem quatro filhos e nenhum relacionamento. Sua vida é a noite e dançar é a sua verdadeira “casa”. Mas o que fazer diante de uma proposta de casamento de um de seus clientes frequentes?
O roteiro de Party Girl deixa claro, de cara, que sua protagonista não tem âncoras e nem regras. Além de apresentar a rica “fauna” ao seu redor, a colcha de retalhos que a vida dela virou vai sendo recosturada na medida que o casamento se aproxima e seus filhos vão sendo reunidos. Mas o dilema de uma relação estável não para de assolar sua mente e a saliência acaba por sucumbir a tensão, que aos poucos vai crescendo na trama, e o futuro desse relacionamento começa a ser colocado em xeque. Entre as curiosidades, é o slowcore da canadense Chinawoman (Michelle Gurevich) que abre e fecha o filme, com as climáticas músicas “I’ll be your Woman” e “Party Girl”, respectivamente. Com sua câmera no melhor estilo “reality” dos programas de TV, o trio tem ainda em mãos um elenco de não atores, para reforçar essa pegada, e o resultado é satisfatório.
* Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival de Cannes 2014
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