vencedores do 37 festival de gramado papo de cinema

O 37º Festival de Cinema de Gramado terminou sem grandes surpresas, reconhecendo aqueles que realmente eram melhores – mesmo que, em muitos destes casos, esse fato não se justifique pela qualidade própria, mas sim pela absoluta falta de concorrência. O vencedor como Melhor Filme da mostra competitiva de longas nacionais foi o documentário Corumbiara, de Vincent Carelli, dando continuidade a uma curiosa tradição gramadense de só premiar filmes deste gênero quando tratam de temas indígenas, como assim foram Raoni, em 1979, e Serras da Desordem, em 2006. Apesar de ter sido o longa que registrou a mais baixa presença de público no dia de sua exibição, foi também um dos mais aplaudidos, o que torna sua vitória um tanto previsível (claro que o fato dos outros cinco concorrentes não terem despertado grandes paixões colaborou para este resultado). Corumbiara levou ainda os kikitos de Direção, Montagem, Melhor Filme segundo o Júri Popular e de acordo com o Júri de Estudantes de Cinema.

O segundo longa nacional mais premiado deste ano foi o gaúcho Em Teu Nome, uma história poderosa e envolvente, mas que dividiu a opinião dos espectadores e da crítica. Acabou com quatro kikitos: Prêmio Especial do Júri, Direção (Paulo Nascimento dividiu com Carelli esta honra), Ator (o ótimo Leonardo Machado, numa escolha mais do que justa), e Trilha Musical. A outra produção do Rio Grande do Sul, Quase Um Tango…, de Sérgio Silva, recebeu outros dois importantes kikitos: Atriz, para Vivianne Pasmanter (abaixo, que está muito bem em cena, apesar de não haver disputa nesta categoria), e Roteiro (talvez a maior surpresa da noite, uma vez que este talvez seja o ponto mais fraco desta produção). O chatíssimo Canção de Baal, de Helena Ignez, foi escolhido como Melhor Filme segundo a Crítica (nada mais previsível, pois parece ter sido feito para agradar somente os mais intelectualizados, posicionando-se distante de um diálogo mais aberto e envolvente) e Direção de Arte, enquanto que Corpos Celestes, de Marcos Jorge e Fernando Severo, teve que se contentar apenas com o kikito de Fotografia (também seu maior mérito, numa escolha bastante óbvia).

vivianne pasmanter quase um tango 37 festival de gramado papo de cinema

Na disputa latina, como já era de se imaginar, os kikitos foram divididos entre o peruano A Teta Assustada e o uruguaio Gigante (os dois já premiados no Festival de Berlim deste ano). A Teta Assustada foi escolhido como Melhor Filme, Direção (Claudia Llosa), Atriz (Magaly Solier) e Melhor Filme segundo o Júri de Estudantes de Cinema, quatro resultados muito previsíveis. Gigante, por sua vez, levou os kikitos de Ator (Horacio Camandule), Roteiro e Melhor Filme segundo a Crítica, reconhecimentos igualmente justos e apropriados. Surpreendente, no entanto, foi a escolha de Matias Maldonado, do pastelão colombiano Nochebuena, para dividir o prêmio de Melhor Ator com Camandule! Os argentinos La Próxima Estación, de Fernando Solanas, e Lluvia, de Paula Hernandez, por serem dois concorrentes, despontavam em algumas rodas como favoritos, mas tiveram que se contentar com premiações coadjuvantes – o primeiro levou o Prêmio Especial do Júri, enquanto que o segundo ficou com os kikitos de Fotografia e de Melhor Filme segundo o Júri Popular.

Entra os curtas-metragens, o grande vencedor foi o paulista Teresa (abaixo), de Paula Szutan e Renata Terra, que levou 3 kikitos: Melhor Filme, Direção e Montagem. Também tripla foi a vitória da animação carioca Josué e o Pé de Macaxeira, reconhecido como Melhor Filme segundo o Júri Popular, Direção de Arte e Trilha Musical. A boa notícia, no entanto, foi A Invasão de Alegrete, de Diego Müller, filmado no interior do Rio Grande do Sul. O curta ganhou merecidamente dois kikitos: Melhor Ator, para o ótimo Miguel Ramos, e Melhor Roteiro, prêmio que já havia sido conquistado também na Mostra Gaúcha. A Melhor Atriz foi a veterana Juliana Carneiro da Cunha (Lavoura Arcaica, 2001), por O Teu Sorriso, escolhido também Melhor Filme segundo a Crítica.

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Gramado, em 2009, mais uma vez se mostrou indeciso entre o cinema arte e o popular. Entre uma comunicação mais ampla e outra que privilegiasse o cerebral. A seleção de longas brasileiros foi a mais fraca em muito tempo, enquanto que a de filmes latinos evidenciou, mais uma vez, a competência dos demais países da América do Sul em produzir grandes trabalhos e o quanto perdemos pela dificuldade que estes filmes enfrentam para chegar ao nosso circuito exibidor – fazendo da passagem deles pela Serra Gaúcha uma oportunidade preciosa. Gramado quer ser glamour, quer ser célebre, quer ter tapete vermelho e atrair estrelas, mas quer também obter respeito, austeridade e reverência. O ponto ideal entre estes dois pólos ainda não foi atingido, e como temos acompanhado, está complicado atingir este delicado equilíbrio. Mas o importante é não desistir e continuar sempre. Quem sabe em 2010 o cenário não melhore?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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