INDICADOS
Não adianta, ao contemplar a lista dos cinco filmes indicados nesta categoria a gente sente falta de Aquarius (2016). Pode ser que o Brasil não levasse de qualquer maneira a estatueta para casa, afinal de contas temos candidatos muito fortes no páreo, mas a repercussão global do longa de Kleber Mendonça Filho poderia pesar bastante no momento dos votos. Sonhar não custa, conjecturar, tampouco. Se a nossa chance foi reduzida praticamente a zero, em virtude da escolha equivocada (para dizer o mínimo) de um exemplar internacionalmente inexpressivo como Pequeno Segredo (2016), devemos isso à comissão especial do Ministério da Cultura, que infelizmente confundiu alhos com bugalhos – leia-se cinema com política. Feito o preâmbulo, pode-se considerar surpreendente esta seleção dos finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, não exatamente por qualquer demérito dos felizardos, mas pela ausência de diversos longas-metragens cujo peso artístico e até mesmo de mercado os habilitam mais a tal vitrine.
Na disputa, três filmes europeus, um do Oriente Médio e um da Oceania. Voltando aos lamentos, triste não ver ali alguma produção da América Latina, continente que chegou forte em 2016 com o colombiano O Abraço da Serpente (2015), mas que desta vez não emplacou sequer um título entre os nove pré-selecionados (a gente pode culpar, novamente a galera que preteriu Aquarius?). Prever o resultado aqui é menos “fácil” que em outras categorias, pois: 1) as regras para a votação são bem distintas. Diferentemente das demais, em que todo o colegiado da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decide, esta é definida por um comitê composto de dez integrantes do primeiro grupo que elegeu os finalistas, dez associados da Academia de Los Angeles e outros dez de Nova York; 2) não há premiação de guilda (ou sindicato) para servir de parâmetro. Todavia, vamos aos indícios.
Se há algum favorito, com méritos de sobra, é o alemão Toni Erdmann. Exibido no ano passado no Festival do Rio, e prestes a chegar comercialmente ao Brasil, a obra-prima da diretora Maren Ade venceu o Prêmio do Cinema Europeu, foi eleito o melhor filme do Festival de Cannes 2016 pela FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema), além de ter sido escolhido como a grande produção do ano por duas das mais respeitadas revistas de cinema do mundo, a francesa Cahiers du Cinéma e a inglesa Sight & Sound. O Oscar de Melhor Filme Estrangeiro realmente estaria em excelentes mãos, pois esta comédia dramática sobre a relação muitas vezes conflituosa entre uma filha enrijecida (inclusive pelo predatório mundo dos negócios) e seu pai brincalhão que tenta reaproximar-se, valendo-se, inclusive, de um alter ego para lá de divertido, é um longa excepcional, daqueles que dignificam o Oscar, e não o contrário.
Seria uma tremenda zebra, mas pode ser que O Apartamento vença este páreo, correndo por fora. O cineasta iraniano Asghar Farhadi já levou a estatueta em 2012 por A Separação (2011), portanto, tenta o bicampeonato. Por incrível que pareça, o que pode ajudar o filme na campanha é um absurdo extracinematográfico, por assim dizer. A recente investida do presidente norte-americano, Donald Trump, contra, principalmente, o povo muçulmano, já que ele assinou um decreto restritivo à entrada de refugiados e imigrantes de sete países em solo estadunidense, pode criar tamanha comoção em torno do impropério que resulte numa onda de simpatia e solidariedade à produção. Farhadi e outros membros da equipe, inclusive, já disseram que, independentemente da queda ou não da medida, não irão à cerimônia.
Fora Aquarius (acho que já choramos bastante a falta do longa brasileiro, né?) dois outros filmes excelentes poderiam facilmente figurar entre os nominados. São eles o francês Elle (2016) e o sul-coreano A Criada (2016). Fosse o Oscar somente pautado pela qualidade, o mais recente trabalho de Paul Verhoeven concorreria em boa parte das categorias, inclusive a de Melhor Filme, com status de favorito disparado. Vai explicar a cabeça do comitê que deixou de fora essa pérola que marca o retorno aos holofotes de um dos grandes autores do cinema contemporâneo. Pelo menos, por ele Isabelle Huppert concorre a Melhor Atriz. Chan-wook Park também merecia bem mais atenção da Academia. Seu suspense de alta voltagem erótica reafirma um talento que despontou no ocidente a partir de Oldboy (2003) e foi se refinando com o passar do tempo. Dois filmaços que não poderiam faltar em qualquer lista de melhores.