A 82ª festa de entrega do Oscar, o maior prêmio do cinema mundial, que acontece em Hollywood, Los Angeles, foi, como já se era de esperar, previsivelmente imprevisível. Isto porque todos os resultados mais óbvios se confirmaram, ao mesmo tempo em que nas categorias em que restavam dúvidas sobre quais seriam os favoritos a escolha geralmente recaiu no menos provável. Sinal dos tempos ou simplesmente reflexo de uma indústria que de tempos em tempos precisa se reinventar, nem que isso signifique um retorno às origens? Um pouco de cada talvez seja a aposta mais acertada.
Entre as disputas evidentemente conhecidas, talvez a vitória mais surpreendente tenha sido a consagração do pequeno – quase invisível – drama Guerra ao Terror, que faturou 6 estatuetas (o campeão deste ano), inclusive a de Melhor Filme. E os motivos para esta surpresa foram muitos. Primeiro, temos o fato deste filme independente, que pouca gente viu, ter derrubado competidores muito mais robustos, como o aplaudidíssimo Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino, a comédia sensação da temporada Amor Sem Escalas, de Jason Reitman, e o avassalador Avatar, de James Cameron, o longa mais bem sucedido financeiramente de toda a história da sétima arte (o faturamento global deste novo trabalho do diretor de Titanic já ultrapassou os US$ 2,5 bilhões!).
Guerra ao Terror promoveu, também, algo inédito nestes mais de 80 anos de Oscar: pela primeira vez uma mulher recebeu a cobiçada estatueta dourada de Melhor Direção! Kathryn Bigelow (acima) (que, por sinal, é ex-esposa de Cameron, seu principal oponente nesta disputa) conseguiu romper com este tabu, superando as talentosas Jane Campion (O Piano, 1993), Sophia Coppola (Encontros e Desencontros, 2003) e Lina Wertmüller (Pasqualino Sete Belezas, 1975), as únicas mulheres a terem sido indicadas anteriormente nesta categoria. A escolhida para entregar o prêmio – o que já indicava o favoritismo da vitoriosa – foi a estrela Barbra Streisand, ela mesma uma talentosa diretora, que porém nunca foi indicada (Streisand até possui dois Oscars, mas como Melhor Atriz, por Funny Girl, de 1968, e de Melhor Canção, por “Evergreen (Love Theme from A Star Is Born)”, de 1976).
Muitas mudanças foram anunciadas para esta edição do Oscar, todas visando aumentar a popularidade da premiação. Entre elas estavam o aumento do número de indicados a Melhor Filme (ao invés dos tradicionais 5, neste ano foram 10 os selecionados) e a escolha de 2 comediantes (Steve Martin e Alec Baldwin, foto ao topo) como apresentadores da festa. Decisões inovadoras? Muito pelo contrário! Já houve edições com até 12 indicados à Melhor Filme (o último ano em que isso aconteceu foi 1943, com 10 indicados, quando Casablanca foi o premiado), enquanto que nos anos 80 era comum 2, 3 ou até mesmo 4 apresentadores! Ou seja, o sentido, pelo visto, é resgatar algo que já funcionou antes. E como resultado tivemos um aumento no número de espectadores em relação ao ano passado – longe de ser algo recordista ou mesmo muito expressivo, mas ainda assim é um progresso.
A atriz Mo’Nique, premiada como Melhor Coadjuvante Feminina, pelo drama Preciosa, disse em seu discurso de agradecimento que estava feliz em perceber que “o talento havia superado a politicagem”. Isto é, que o que ela demonstrara na tela fora suficiente para sua vitória, sem a necessidade de uma grande campanha a seu favor. O mesmo aconteceu com o Coadjuvante Masculino, o desconhecido Christoph Waltz (acima), premiado pelo desempenho arrebatador visto em Bastardos Inglórios, que derrotou nomes muito mais populares, como o veterano Christopher Plummer ou o astro Matt Damon. Por outro lado, estes resultados são contraditórios aos vistos nas categorias principais de atuação, em que os escolhidos foram Jeff Bridges (uma vitória que diz muito mais respeito à sua carreira – a primeira indicação dele foi em 1972, sem nunca ter sido premiado antes – do que a esta atuação particular) e Sandra Bullock, um nome muito querido, mas que está longe de ser uma grande atriz! Ainda mais quando a temos monstros sagrados como Meryl Streep e Helen Mirren ao seu lado na mesma disputa!
O Oscar quer ser mais popular. Ao mesmo tempo, busca reconhecimento e aprovação. Avatar e Meryl Streep – apenas para ficar nos dois exemplos mais óbvios deste ano – foram preteridos por razões diferentes, mas que refletem bem esta indecisão sobre qual caminho a premiação deve seguir. Chocar com apostas arriscadas e surpreendentes ou investir em produtos mais seguros e de satisfação garantida? O mais provável é que o responsável por esta resposta seja o próprio espectador, que entre tantas opções deverá se esforçar cada vez mais para selecionar seus próprios eleitos, aproveitando tais indicativos exatamente como eles devem ser: referências, mas nunca decisivas.
Vencedores do 82º Oscar:
FILME: Guerra ao Terror
DIREÇÃO: Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror
ATOR: Jeff Bridges, por Coração Louco
ATRIZ: Sandra Bullock, por Um Sonho Possível
ATOR COADJUVANTE: Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios
ATRIZ COADJUVANTE: Mo’Nique, por Preciosa
ROTEIRO ORIGINAL: Guerra ao Terror
ROTEIRO ADAPTADO: Preciosa
ANIMAÇÃO – LONGA: Up – Altas Aventuras
ANIMAÇÃO – CURTA: Logorama
CURTA-METRAGEM: The New Tenants
DIREÇÃO DE ARTE: Avatar
FOTOGRAFIA: Avatar
FIGURINO: The Young Victoria
DOCUMENTÁRIO – LONGA: The Cove
DOCUMENTÁRIO – CURTA: Music by Prudence
EDIÇÃO: Guerra ao Terror
FILME ESTRANGEIRO: O Segredo dos Seus Olhos” (Argentina)
MAQUIAGEM: Star Trek
TRILHA SONORA ORIGINAL: Up – Altas Aventuras
CANÇÃO ORIGINAL: “The Weary Kind”, de Coração Louco
EDIÇÃO DE SOM: Guerra ao Terror
SOM: Guerra ao Terror
EFEITOS VISUAIS: Avatar
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