Nem só do E.T. Bilú (“Busquem conhecimento”, lembram?) ou do famigerado da cidade de Varginha se alimenta o nosso imaginário acerca da possibilidade de vida fora da Terra. Se nos voltarmos ao cinema, teremos extraterrestres icônicos, como o do famoso filme de Steven Spielberg, entre outras representações prioritariamente amistosas. Como o desconhecido causa medo, diversas vezes vimos também nas telonas grandes ameaças vindas do espaço, com as mais estranhas formas, quando não emulando o fenótipo humano. Se houvesse uma eleição para síndico do prédio dos alienígenas mais assustadores do cinema, talvez os Xenomorfos da franquia Alien teriam boa parte dos votos. Exatamente por conta do retorno dessas criaturas, em virtude da estreia de Alien: Covenant (2017), decidimos apontar monstros similares, pois igualmente ferozes, que não vieram ao nosso planeta necessariamente para pedir emprestada uma xícara de açúcar ou algo que a valha. É uma galera da pesada. Confira e comente.
A COISA, de O Monstro do Ártico (1951), O Enigma do Outro Mundo (1982) e A Coisa (2011)
Surgida no livro Who Goes There?, do autor de ficção científica John W. Campbell Jr., “A Coisa”, organismo alienígena parasita capaz de assumir qualquer que seja a forma de vida de seu hospedeiro, foi levada às telas primeiramente no longa produzido pelo grande Howard Hawks e dirigido por Christian Nyby, nos anos 50. Na trama, um grupo de cientistas de uma base no Ártico descobre uma nave espacial enterrada sob o gelo, trazendo um tripulante congelado. Este, tomado pela “Coisa”, retorna à vida em busca de seu alimento: humanos. O filme tornou-se um clássico do gênero, ganhando refilmagem pelas mãos de John Carpenter, estrelada por Kurt Russell, e que viria a ser ainda mais cultuada. O remake mantém a premissa básica, tendo seu grande diferencial na aterrorizante representação da criatura. Enquanto no filme original “A Coisa” assume uma única forma humanóide, como um monstro de Frankenstein de força descomunal, na versão de Carpenter ela transita por diversos corpos, incluindo o de um cachorro, gerando mutações grotescas e assustadoras, como uma “cabeça aracnídea”, criadas pelos efeitos práticos espetaculares de Rob Bottin e Stan Winston. O temido alien retornaria ainda no esquecível prelúdio ao longa de Carpenter, dirigido por Matthijs van Heijningen Jr.. – por Leonardo Ribeiro
KLAATU, de O Dia em que a Terra Parou (1951) e O Dia em que a Terra Parou (2008)
Considerado um clássico da ficção científica, lançado no início da década de ouro do gênero dentro do cinema norte-americano, o filme dirigido por Robert Wise tem no protagonista extraterrestre seu principal charme. Interpretado por Michael Rennie, ele chega ao nosso planeta e é recebido a bala. Algo simbólico, pois os alienígenas exigem que os terráqueos encerrem os experimentos com armas nucleares caso queiram ser deixados em paz. Apesar de simpático ao público, o Klaatu de 1951 apresenta um discurso melodramático que se espalha por toda a trama, mesmo que a ideia antibelicista do longa seja válida. Sua visita reveladora ao memorial dedicado ao presidente Lincoln faz pensar se Klaatu veio do espaço ou de alguma cidade do interior dos Estados Unidos, tamanha é a sua emoção ao conhecer o local. Em 2007, coube a Keanu Reeves a tarefa de interpretar Klaatu, que agora cobra dos humanos uma maior preocupação com o meio ambiente. Sem o mesmo carisma de Rennie, Reeves tentou dar personalidade ao extraterrestre, mas o resultado deixou a desejar até para quem desconhecia a primeira versão do filme. – por Bianca Zasso
ESPOROS, de Vampiros de Almas (1956), Os Invasores de Corpos (1978), A Invasão Continua (1993) e Invasores (2007)
O clima de turbulência sócio-política dos Estados Unidos nos anos 50 era mais que propício à metáfora cinematográfica levada a cabo pelo cineasta Don Siegel. Daniel Mainwaring, o roteirista, foi acossado pelo macarthismo, o que levou muitos a entenderem a ficção científica sobre um plano extraterrestre para substituir humanos por seres sem emoção como óbvia alegoria. O próprio Siegel negava tal intenção, mas é difícil não ver nesse grande filme uma alfinetada violenta na histeria anticomunista que tomava de assalto a coletividade estadunidense. Os Esporos são células reprodutivas microscópicas que entram até mesmo pela epiderme, transformando outros seres praticamente em zumbis sem emoção. Está aí uma ameaça quase impossível de ser detida, a não ser quando eliminada na raiz. O longa-metragem de Siegel logo virou referência no gênero, o que gerou não apenas o culto, mas outras produções que beberam de sua mitologia ou tentaram o “atualizar”. A realização setentista de Philip Kaufman goza igualmente de prestígio, além das qualidades, por conta da rima com a instabilidade social da época, no caso deflagrada pela Guerra Fria. Já as demais, incluindo a recente, com Nicole Kidman e Daniel Craig vivendo os protagonistas, não chegaram perto da influência que o filme original teve. – por Marcelo Müller
AUDREY JR. / AUDREY II, de A Loja dos Horrores (1960) e A Pequena Loja dos Horrores (1986)
Apesar de o filme original, dirigido por Roger Corman, ter seus méritos (incluindo um jovem Jack Nicholson), é o seu remake que verdadeiramente merece aplausos. Ambos os filmes partem da mesma premissa: Seymour (Jonathan Haze antes, o impagável Rick Moranis depois) trabalha numa floricultura que vai mal das pernas. Apaixonado por sua amiga Audrey, ele, certo dia, ao encontrar uma planta exótica, decide expor sua descoberta na lojinha para atrair a atenção de seu amor. O que Seymour não sabe, porém, é que a mudinha é um alienígena carnívoro com intenções malignas. Dirigido por Frank Oz (titereiro e dublador experiente que tem no currículo vários dos Muppets e o Mestre Yoda em pessoa), o remake se beneficia do clima de suspensão de descrença do gênero musical e embala sua canções num humor negro que, apesar da temática gore, dá luz a algo extremamente carismático, que tem ainda participações de Steve Martin e até de Bill Murray. Além disso, a planta aqui é mais cômica, com sua técnica importada de outros projetos dos bonecos de Oz, o que faz de Audrey II uma vilã mais divertida e paralelamente mais assustadora que Audrey Jr.. – por Yuri Correa
XENOMORFOS, da Saga Alien (1979/1986/1992/1997/2013/2017)
Esquelético, com dentes retos e brilhantes, cabeça fálica, sem olhos, guiado pelo instinto de se reproduzir e aniquilar outras espécies. O alienígena concebido pelo artista H.R. Giger não é só um monstro, mas uma crítica à visão utópica de apoteose do ser humano. E é justamente um grupo da nossa espécie com quem essa criatura acaba presa dentro da nave Nostromo no suspense setentista de Ridley Scott, retornando em maior número no longa-metragem de ação oitentista de James Cameron, num novo cenário no thriller noventista de David Fincher e em estado de guerra no contemporâneo deste, dirigido por Jean Pierre-Jeunet. Não por acaso, sua principal nêmesis é uma mulher, Ripley (Sigourney Weaver), que não somente tem de lidar com esse monstrengo de conotações filosóficas, como também com os representantes empresariais que querem capturá-lo para si. É nessa simplicidade de embate que a franquia se mantém, mesmo seus exemplares mais trôpegos, como Alien: A Ressurreição e Prometheus (2013) – no qual o bicho dá as caras rapidinho. E é provavelmente esse minimalismo de trama e riqueza de leitura que impulsionou os quatro cineastas que passaram pela franquia, todos em começo de carreira, os hoje reconhecidos Scott, Cameron, Fincher e Jeunet. – por Yuri Correa
KRYPTONIANOS, de Superman II (1980) e O Homem de Aço (2013)
Superman – ou Ka-El, para os mais íntimos – é chamado de o último filho de Krypton, como muitos bem sabem, por ter escapado da destruição de seu planeta através de uma cápsula interplanetária construída por seu pai, Jor-El. No entanto, como vimos nos filmes dos anos 80 e 2000, dizer que ele é o único sobrevivente daquele planeta é errôneo. Algo perdurou, através da Zona Fantasma, prisão para os mais nefastos criminosos de Krypton. Dessa forma, o general Zod – interpretado por Terence Stamp na saga original e por Michael Shannon no reboot mais recente – conseguiu arquitetar sua vingança, vindo até a Terra para eliminar o filho do homem que o colocou naquela situação. Em ambos os longas-metragens, Zod e seus comparsas kryptonianos só querem saber de destruição e poder. Stamp deu a Zod uma verve mais diplomática, enquanto Shannon parece mais feroz em sua sanha por retratação. A batalha da realização de Zack Snyder não deixa pedra sobre pedra, sendo uma das mais destruidoras de qualquer filme estrelado pelo Superman. Nós, pobre terráqueos, não teríamos chance alguma contra essas figuras indestrutíveis, caso não tivéssemos do nosso lado o protetor com o “S” no peito. – por Rodrigo de Oliveira
MARCIANOS, de Marte Ataca! (1996)
Descobre-se, finalmente, que existe vida fora da Terra. Os marcianos estão chegando e, para recepciona-los, uma comitiva enorme é formada pelo governo norte-americano, canais de TV de todo o mundo se preparam para fazer a cobertura e pessoas curiosas se agrupam para observar os homenzinhos verdes de perto. Eles parecem pacíficos, num primeiro momento. Até que uma pomba branca, simbolizando a paz, é estraçalhada por um deles, em plena praça pública. Os marcianos estão entre nós e eles querem tomar o planeta Terra. Nessa comédia divertida de Tim Burton – mal resenhada à época – o cineasta faz rir pelo absurdo, colocando um bando de atores famosos (Jack Nicholson, Annette Bening, Pierce Brosnan, Michael J. Fox, Glenn Close, Sarah Jessica Parker) fazendo figuras tão ou mais malucas que qualquer alienígena que pudesse descer no nosso planeta. Tomando como referência os filmes B da década de 1950, o cineasta constrói uma raça com visual memorável (grandes cérebros em cabeças verdes com traços cadavéricos), imbuídos da vontade de aniquilar a humanidade, com a maior facilidade possível. Vem de um lugar insólito a resolução para o nosso problema, a improvável salvação. – por Rodrigo de Oliveira
INSETOS, da Saga Tropas Estelares (1997/2007/2008/2012)
Paul Verhoeven sempre foi um cineasta incompreendido e à frente de seu tempo. Seja pelo poder que dá às suas protagonistas mulheres (Instinto Selvagem, 1992, Showgirls, 1995, Elle, 2016) ou por conta da crítica declarada aos valores ocidentais – especialmente os norte-americanos (como em Robocop: O Polícial do Futuro, 1987, e O Vingador do Futuro, 1990) –, o diretor sempre vislumbrou um futuro possível. Tropas Estelares não foge disso. A trama passada no século 23, em que os soldados da Federação são convocados a todo o momento para lutar contra insetos gigantes que tomaram conta da Terra, não é nada menos que uma resposta às ações do homem contra a natureza através do militarismo e fanatismo exacerbados. Os bichos gigantes só se defendem dos ataques, mesmo que de forma fatal. E os “mocinhos” não são nada mais que protótipos fascistas criados sob mentiras e meia-verdades. Se hoje tanto se fala em “bandido bom é bandido morto”, é só trocar uma das palavra da sentença por “inseto” para ver o quão o filme é atual. Além disso, é uma ficção científica que realmente diverte com suas cenas de explosões e matanças a torto e a direito. Unir entretenimento e qualidade intelectual não é uma tarefa fácil. Algo que Verhoeven tira de letra aqui. O filme ainda rendeu três continuações, em 2004, 2008 e 2012 (sendo esta animação), mas não dirigidas pelo cineasta. – por Matheus Bonez
DECEPTICONS, da Saga Transformers (2007/2009/2011/2014)
Antes mesmo que o cineasta Michael Bay tivesse transformado os personagens da Hasbro numa das franquias cinematográficas mais rentáveis e explosivas (!) dos anos 2000, gerações cresceram sabendo que os eternos rivais do Autobots eram uma das piores ameaças vindas do espaço. Esses robôs alienígenas, responsáveis pela destruição do planeta natal deles, Cybertron, onde conviviam diversos seres mecânicos, são liderados pelo temível Megatron, o negativo do valente Optimus Prime. Starscream, Skywarp, Thundercracker, Soundwave, Shockwave, Devastator e os Constructicons são outros Decepticons famosos. Na primeira das adaptações cinematográficas, os vilões, além de correrem atrás de uma fonte praticamente infinita de Energon (a energia desses seres extraterrenos), buscam o temível cabeça então mantido congelado por uma organização secreta. Nas mãos de Bay, cineasta reconhecido pela inclinação a mandar pelos ares tudo o que for possível, os robôs promovem, claro, uma verdadeira onda de destruição, deixando rastros da milenar rivalidade do ar. Aos humanos não sobra muito que fazer. Embora os papeis de Shia Labeouf e Megan Fox sejam essenciais à vitória (parcial) dos heróis liderados por Optimus, o que importa mesmo é ver a eterna briga entre as facções. Os Decepticons, certamente, estão entre os piores E.T. que já vieram para cá. – por Marcelo Müller
KAIJUS, de Círculo de Fogo (2013)
Este é um termo japonês que significa algo como “besta estranha” e não serve para designar um monstro específico, mas sim toda uma categoria deles – e de filmes centrados neles. Um kaiju é, de maneira geral, qualquer criatura de proporções colossais e imenso poder de destruição, como Godzilla, que surgiu na década de 50 e é normalmente citado como o pioneiro do gênero, e seu interminável legado de tokusatsus (produções japonesas com forte uso de efeitos especiais) repletos de seres gigantescos e ameaçadores. Kaijus podem assumir a forma de animais, como Mothra, que é simplesmente uma mariposa gigante, ou um visual completamente alienígena, como no relativamente recente filme de Guillermo Del Toro. Nele, dezenas de monstros surgem de uma fenda que conecta nosso mundo a outra dimensão, no fundo do Oceano Pacífico, e passam a destruir cidades inteiras, dizimando milhares de pessoas em cada ataque. A solução encontrada pela humanidade parece ter saído diretamente do cérebro de uma criança de oito anos: construir Jaegers, robôs grandes o suficiente para lutar contra os aliens em pé de igualdade. Se essa medida funcionaria no mundo real, pouco importa; as lutas são colossais, absurdas e às vezes beiram o ridículo, mas são muito (muito!) empolgantes. – por Marina Paulista
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