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Por conta da estreia de Elis (2016), cinebiografia de Elis Regina, resolvemos eleger os principais filmes ficcionais debruçados sobre as vidas (muitas vezes controversas) de cantoras que, de certa maneira, marcaram seus nomes no cenário artístico. Assim como a “Pimentinha”, uma das mais importantes e influentes intérpretes da música brasileira, grandes figuras tiveram suas trajetórias reproduzidas cinematograficamente. Fama, inconformismo, excessos, são alguns dos ingredientes presentes em boa parte das biografias dessas mulheres que, não raro, atuaram na vanguarda. Inclinadas a romper barreiras e a mostrar a força do sexo que se convencionou tachar de frágil, elas se destacaram nos palcos e longe deles. Infelizmente não são exceções as derrocadas, as passagens menos laudatórias, os vícios, a relação conflituosa com parceiros, empresários e até mesmo com o público. Todavia, os legados artísticos e pessoais dessas mulheres notáveis são permanentes e merecem reverência. Confira nossa seleção!

  

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BILLIE HOLIDAY – O Ocaso de Uma Estrela (Lady Sings the Blues, 1972)
Não é surpresa incluir esta produção sobre a cantora Billie Holiday na listagem. Cinebiografia musical com cinco indicações ao Oscar, conta com uma estrutura clássica e melodramática. Dirigida por Sidney J. Fury, trata da trajetória do fenômeno do jazz norte-americano, destacando que suas conquistas não vieram com facilidade, sublinhando ainda a vida complicada da protagonista desde a infância difícil, passando pelos dias em que trabalhou em bordéis e como faxineira, até atingir o estrelato. Os abusos de drogas, juntamente com as dificuldades de ser mulher e negra num país e numa época fundamentalmente racistas, também ganha atenção do diretor. Completa ao retratá-la, Diana Ross, indicada ao Oscar de Melhor Atriz, é um fenômeno na tela como Billie, já impactante na cena inicial, na qual está internada num manicômio, presa na solitária, alucinando e revisitando o passado. Ross oferece nuances ricas à protagonista, neste que é seu primeiro trabalho como atriz em um longa-metragem de estúdio. Reviver os dias de Holiday na pele de Diana é o maior acerto da produção que só peca pela longa duração, afinal de contas, são quase três horas. Mas é compreensível, dada a magnitude da figura e da carreira de Holiday. – por Renato Cabral

  

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JANIS JOPLIN A Rosa (The Rose, 1979)
Originalmente concebido como uma cinebiografia de Janis Joplin – intitulada Pearl, referência ao apelido da cantora – este filme dirigido por Mark Rydell passou por diversas alterações após a família de Joplin negar os direitos sobre sua história, transformando-se em um veículo para o estrelato de Bette Midler, em seu primeiro trabalho como atriz protagonista. Na trama, Midler vive a diva do rock Mary Rose Foster que, ao atingir o ápice do sucesso, embarca em uma jornada autodestrutiva embalada pelo excesso de drogas, álcool e sexo. Apesar de manter algumas semelhanças com a trágica trajetória de Joplin e sua personalidade – a insegurança nos bastidores contrastando com o comportamento vibrante nos palcos, o relacionamento complicado com os pais, a vontade de se provar para os habitantes de sua cidade – Rydell visa um retrato mais amplo sobre o peso da fama e suas consequências. Midler encarna esses conflitos com uma intensidade arrebatadora – seja nos embates de Rose com o empresário inescrupuloso (Alan Bates), no romance com um chofer (Frederic Forrest) ou nas explosivas apresentações, registradas com maestria por Vilmos Zsigmond, em que utiliza seu talento como cantora profissional para interpretar as canções da trilha. Uma atuação marcante que lhe valeu uma merecida indicação ao Oscar. – por Leonardo Ribeiro

 

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LORETTA LYNNO Destino Mudou Sua Vida (Coal Miner’s Daughter, 1980)
Muitas cinebiografias sofrem do mesmo mal: despertar interesse apenas nos fãs de quem está sendo retratado nas telonas. Felizmente, esta é uma exceção. Para gostar deste filme não é necessário apreciar e nem mesmo conhecer a carreira de Loretta Lynn; a fantástica performance de Sissy Spacek – que lhe rendeu um Oscar e um Globo de Ouro – já é suficiente para segurar a audiência. É difícil não criar empatia pela figura carismática e inocente da protagonista, apesar da estrutura simples e da narrativa no estilo rags to riches (quando um personagem que vive na miséria alcança o sucesso e enriquece) usada à exaustão em Hollywood. Spacek transita facilmente entre as fases da vida de Loretta, interpretando com igual brilhantismo a adolescente tímida, a dona de casa, a cantora iniciante com vergonha de se apresentar e, finalmente, a “primeira dama do country”, confortável em seu estrelato e envolta sempre numa aura de glamour. Além de capturar os maneirismos da cantora em suas apresentações, Spacek consegue, ainda, cantar de maneira surpreendentemente similar a ela. Baseado numa autobiografia, este filme é um olhar carinhoso e nostálgico sobre o passado, assim como a canção que dá título à obra, “Coal Miner’s Daughter”. – por Marina Paulista

  

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TINA TURNERTina: A Verdadeira História de Tina Turner (What’s Love Got to Do with It, 1993)
Tina Turner é uma das maiores estrelas femininas do rock mundial. Mas o caminho para o estrelato não foi nem um pouco fácil, como retrata esta produção dirigida por Brian Gibson. Com Angela Bassett encarnando a diva da música em todos os seus trejeitos, numa atuação impecável, acompanhamos a história de quando ela ainda era Anna Mae Bullock, uma cantora do interior do Tennessee que conhece o famoso compositor, produtor musical e guitarrista Ike Turner (Laurence Fishburne). Ele a lança para o mundo, os dois se apaixonam e se casam. O conto de fadas logo começa a se tornar um pesadelo. Na medida em que o sucesso de Tina aumenta, Ike se torna um marido abusivo. O título tem todos os méritos de conseguir condensar os momentos mais importantes da ascensão da estrela em paralelo com sua vida pessoal conturbada, arrancando performances inspiradas da dupla principal (inclusive indicadas ao Oscar). Uma cinebiografia feita na medida para quem quer entender melhor como funciona a mente desta que é uma das mais queridas musas do cenário pop. – por Matheus Bonez

  

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MARIA CALLASCallas Forever (2002)
Franco Zeffirelli, hoje com 93 anos, é um dos nomes italianos mais conhecidos da direção. No início dos anos 2000 ele resolveu dar adeus à produção de longas-metragens com esta homenagem à cantora lírica Maria Callas, uma de suas grandes amigas. Ainda que o título mereça algumas críticas por ter atenuado um pouco o temperamento explosivo da retratada e sua popularidade com o público, de uma coisa não se pode reclamar. No caso, a criatividade com que o filme foi realizado, tornando-o uma cinebiografia não convencional, misturando fantasia e realidade a partir do momento em que a intérprete é convidada por um ex-empresário e amigo (Jeremy Irons) para fazer um musical sobre todas suas óperas mais importantes e, assim, lutar contra a depressão. Se a melhor sequência fica por conta da reinvenção de Carmen, uma de suas obras mais famosas, é Fanny Ardant na pele de Callas que faz o longa tomar força a cada tomada, por conta de sua interpretação monstruosa, digna de elogios e prêmios. É quase como se a própria artista tivesse voltado à vida para mostrar a um novo público todo o seu talento, tão esquecido por anos. Um feito e tanto que não foi batido em outros filmes sobre a cantora, que vieram logo após. Por sinal, mais um estreia no ano que vem, com direção de Niki Caro e com Noomi Rapace na pele de Callas. – por Matheus Bonez

  

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JUNE CARTERJohnny & June (Walk the Line, 2005)
Ao dar vida de forma lendária ao cantor Johnny Cash, revelando uma voz quase sobrenatural, Joaquin Phoenix seria a estrela inerente e absoluta deste longa, não fosse Reese Witherspoon encarnando, de forma saudosa, a cantora e segunda esposa de Cash, June Carter. A atriz, que ficou conhecida pelo papel de uma jovem advogada em Legalmente Loira (2001), aceitou o desafio de atuar e cantar neste drama biográfico de imenso peso para os fãs da obra musical da dupla. No filme, encarna uma June obrigada a conter a paixão por não querer testemunhar a autodestruição de seu homem, já que Cash se derramava sobre vícios químicos, típicos de lendas da era de ouro do Rock. A atriz capta o humor e a honestidade, assim como a altura e a tonalidade de uma das mais influentes cantoras da música country dos Estados Unidos. Como resultado, a queridinha da América, que usou as verdadeiras roupas de June e passou quase um ano numa escola de canto, foi premiada com o Oscar de Melhor Atriz, um Globo de Ouro e um BAFTA, numa das atuações de maior destaque de sua carreira. – por Victor Hugo Furtado

  

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EDITH PIAFPiaf: Um Hino ao Amor (La Môme, 2007)
Filme que revelou a talentosíssima atriz francesa Marion Cotillard, este longa de Olivier Dahan remonta à história da cantora Edith Piaf, mostrando sua infância pobre vivida em um prostíbulo, passando por sua adolescência conturbada como cantora de rua, até chegar ao estrelato, sedimentado por canções como “La Vie En Rose”, “Hymme à L’amour” e, a mais bela de todas, “Non, Je Ne Regrette Rien”. Seus amores e decepções são trabalhados de forma pontual pelo roteiro de Dahan, que dá uma especial atenção aos primeiros anos de vida da cantora, bem como o seu caso de amor mais célebre, com o boxeador Marcel Cerdan. Vencedora do Oscar por sua performance, Cotillard consegue ressuscitar a magistral cantora em diversas fases diferentes, desde a adolescência pobre até a decrépita velhice, de forma igualmente marcante. Ela soube como ninguém captar a essência do “Pequeno Pardal”, mostrando toda a impulsividade e as atitudes movidas por amor daquela francesa de sangue quente. Para deixar tudo ainda melhor, a trilha é, em sua maioria, composta por gravações originais de Piaf, mostrando a qualidade e poder do vocal da cantora. Em seu melhor momento, Cotillard dubla uma triste e belíssima performance da canção “Non, Je Ne Regrette Rien”, que é quase uma tradução de sua sofrida, porém apaixonada vida. – por Rodrigo de Oliveira

  

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CHERIE CURRIE E JOAN JETT – The Runaways: Garotas do Rock (The Runaways, 2010)
Este filme não conta a história de apenas uma cantora, mas sim de duas: Cherie Currie (Dakota Fanning) e Joan Jett (Kristen Stewart), duas adolescentes na década de 70 que, juntas, formaram uma das primeiras bandas de rock inteiramente femininas e alcançaram sucesso estrondoso dentro e fora dos Estados Unidos. Sob a tutela do excêntrico produtor musical Kim Fowley (Michael Shannon, que rouba a cena sempre), Currie, Jett e as companheiras de banda, Lita Ford (Scout Taylor-Compton), Sandy West (Stella Maeve) e Robin (Alia Shawkat, numa personagem fictícia que condensa várias baixistas) são arrancadas de suas vidas pacatas em Los Angeles e imersas num mundo de sexo, drogas e rock ‘n roll. Embora o longa ignore as partes mais pesadas da história da banda – como o vício em drogas que quase destruiu a vida de Currie, o comportamento abusivo de Fowley e as alegações de estupro -, ele é cheio da energia vibrante que marcou a trajetória da banda. Com uma ótima trilha sonora (David Bowie, Suzi Quatro, Sex Pistols, além dos sucessos da banda regravados pelas atrizes), o filme traz também algumas das melhores performances de Stewart e Fanning, ambas aprovadas pelas Runaways da vida real. – por Marina Paulista

  

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VIOLETA PARRAVioleta Foi Para o Céu (Violeta Se Fue a Los Cielos, 2011)
Violeta Parra, símbolo da cultura latino-americana dos anos 1960, é o coração deste premiado trabalho dirigido por Andrés Wood e inspirado no romance de autoria de Ángel Parra, filho da mais importante musicista e folclorista chilena. Vencedor do Prêmio do Grande Júri no Festival de Sundance em 2011 e representante oficial do Chile para concorrer ao Oscar (Estados Unidos), Goya (Espanha) e Ariel (México), foi o filme mais visto em seu país de origem em 2011. O drama biográfico conduzido por Wood, entrecortado por histórias e canções de Parra, tem como trunfo a caracterização impressionante de Francisca Gavilán, que interpreta todas as músicas de Violeta. Músicas inesquecíveis como “Volver a Los 17” e “Gracias a La Vida” recebem uma entonação agridoce na narrativa sem ordem cronológica, que rememora fragmentos da vida da cantora que se tornou patrimônio musical chileno: o aprendizado autodidata, a relação com as tradições de seu país, a militância comunista, sua relação tempestuosa com o folclorista Gilbert Favre e a criação de um espaço para apresentar seus espetáculos, lugar em que se suicidou. Mais do que sua vida pública, o filme explora a complexa e intensa Violeta Parra, singular e apaixonada, aqui eternizada no retrato soberbo de Gavilán. – por Conrado Heoli

  

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BESSIE SMITH Bessie (2015)
Indicada ao Globo de Ouro, ao Emmy, ao Critics Choice e ao Satellite, Queen Latifah ganhou o prêmio do Sindicato dos Atores dos EUA como Melhor Atriz por sua performance como a diva Bessie Smith, neste telefilme escrito e dirigido por Dee Rees (Pariah, 2011). A lendária cantora de blues que fez sucesso no início dos século XX, principalmente entre os anos 1920 e 1930, ganha corpo e voz em Latifah, intérprete que inclusive já concorreu até ao Oscar por um outro papel similar, no musical Chicago (2002). Porém se antes ela apareceu como coadjuvante, dessa vez o show é todo dela. Latifah oferece um olhar sobre a alma da estrela por trás da fama e da celebridade. Sua jornada rumo ao estrelato, as dificuldades em família e os percalços que enfrentou pelo caminho são retratados nesta obra vencedora do Emmy de Melhor Telefilme do ano. Ainda que por vezes o longa não consiga extrapolar os limites que a telinha naturalmente impõe, a atuação de Queen Latifah é tão grandiosa e enérgica que supera qualquer limitação do meio, oferecendo um desempenho de não fazer feio frente a qualquer uma de suas colegas na tela grande. – por Robledo Milani

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