Para quem ama, tudo parece ser extremo. Ninguém parece entender o que se está sentindo, ainda que todo mundo, de uma forma ou de outra, já tenha passado pela mesma situação. E nenhum mês do ano é mais apropriado para reviver as mais encantadoras Histórias do Amor do que aquele que traz consigo o Dia dos Namorados, data de se trocar presentes, mas também juras, carinhos e muitos sentimentos. Nesta seleção estão reunidos exemplos dos mais diversos, de contos de fada à romances maduros e mais comedidos, de jovens descobrindo essa sensação até então inédita até os que temem perder tudo que acreditavam ser para sempre. Uma compilação indicada aos enamorados, mas também àqueles que mantém a esperança na busca por seu par perfeito. Afinal, do dia de amanhã só sabe aquele que o viver. Desesperadamente apaixonado, de preferência!
Um Homem, Uma Mulher (Un homme et une femme, 1966)
A simplicidade do título levada à história. Precisou apenas do básico e simples – um homem e uma mulher – para o realismo romântico de Claude Lelouch encantar gerações de plateias há mais de 40 anos. A história traz Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant) e Anne Gauthier (Anouk Aimée) como dois viúvos que se encontram semanalmente na escola dos filhos. Quando Anne perde o trem, ele lhe oferece carona. A gentileza torna-se amizade; a amizade, proximidade; a proximidade, por fim, paixão. Na contramão do que se poderia esperar de um diretor francês, Lelouch não constrói uma história de amor idealizado ou não correspondido. O que encontramos é o sentimento em estado livre e puro, como a imagem daqueles cavalos selvagens, tão comuns à poesia simbolista. A relação de Duroc e Anne é intensa e promissora, mas isso não significa estar imune às lembranças de ambos, ao medo da perda e à desconfiança de reciprocidade. O passado é um fantasma a ser vencido dia-a-dia. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes e das estatuetas de melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro no Oscar, ainda conta com a trilha marcante de Francis Lai e uma canção de Vinícius de Moraes e Baden Powell. – por Willian Silveira
A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991)
Pode um desenho animado ser uma das grandes histórias de amor já realizadas no cinema? Se for como esta produção Disney, dirigida por Gary Trousdale e Kirk Wise, a resposta é um sonoro sim. Marcando a primeira vez em que uma animação foi indicada ao Oscar de Melhor Filme, a trama conta a história de Bela, uma moça bonita, simpática e ávida por literatura. Quando seu pai é capturado por uma figura misteriosa, residente em um castelo lúgubre, ela se oferece para ser prisioneira no local, deixando assim seu velho livre. É lá que conhece um homem bruto, com visual de fera, que acabará tendo seu coração amolecido pela jovem garota. Além de ser embalado com músicas belíssimas e divertidas – Be my Guest e Beauty and the Beast são sempre favoritas – a relação que ali existe é verdadeiramente tocante. Fera é, na verdade, um príncipe que recebe uma terrível maldição e só com o verdadeiro amor poderá se livrar daquela aparência. Bela consegue enxergar bondade naquele sujeito através das suas feições animalescas e se apaixona. Ele, embrutecido pelo tempo, se entrega a esta nova chance de redenção. Belo romance para todas as idades. – por Rodrigo de Oliveira
Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995)
A história de amor de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) é de uma lindeza sem precedentes. É um romance encantador, no qual vemos esses jovens se apaixonarem de maneira quase inevitável enquanto caminham e trocam ideias pelas ruas de Viena ao longo de uma noite. Um amor que surge não a partir da expectativa que um cria com relação ao outro, mas pelo que eles realmente mostram ser, com todas suas falhas e virtudes. Com dois atores atuando com grande naturalidade e donos de uma dinâmica sensacional em cena, Richard Linklater cria um drama tocante em sua sinceridade, além de contar com uma tristeza subjacente, já que desde o início é deixado claro que aquele casal não irá se reencontrar tão cedo. Mas, desde então, estamos reencontrando Jesse & Celine a cada nove anos, o que já rendeu as continuações Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013), que felizmente se revelam igualmente geniais, compondo uma trilogia tão maravilhosa quanto seus personagens. Eles até podem ganhar mais experiência, mas no fim ainda são os mesmos jovens que se conheceram em uma viagem há 20 anos. – por Thomas Boeira
Amor à Flor da Pele (Fa Yeung nin wa, 2000)
É um daqueles filmes que nos sugerem o amor como fonte de tudo, início e fim não apenas de relacionamentos, mas da nossa própria interação com o mundo. O casal que se julga traído começa a encenar a traição, como se isso, ou seja, de alguma forma entender, lhes reduzisse a dor. No caminho, eles próprios se apaixonam, percebendo que não há maneiras de controlar as emoções como se elas fossem documentos tramitando em repartições públicas. A trilha sonora, a palavra que às vezes corrobora e às vezes nega a imagem, a maneira poética de Wong Kar-Wai trabalhar o tempo em prol de uma ligação construída com vagar, a salada cultural de referências (que nem por isso torna a Hong Kong da década de 1960 menos asiática), a ambiência precisa da metrópole convulsionada pela crise dos espaços, são elementos que fazem deste filme, quem sabe, o mais complexamente romântico das últimas décadas. O amor que une os personagens de Tony Leung Chiu Wai e Maggie Cheung é ao mesmo tempo bonito e triste, pois denota uma ligação forte e concreta, mas é refém da não consumação que lhe dá contornos de impossibilidade. – por Marcelo Müller
Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001)
Este não é só o filme responsável por trazer os musicais de volta através da reinvenção de conhecidos singles de cantores e bandas como Madonna, Beatles, Nirvana e Queen. É também um em um milhão, daqueles cuja originalidade surge de anos em anos e contagia uma geração inteira de novas produções com o seu espírito. Da montagem alucinante à premiada direção de arte – venceu dois Oscar – o projeto ainda encontra espaço para deixar que Nicole Kidman entregue a performance mais arrasadora de sua carreira como a enérgica Satine, cuja vivacidade vem a contrastar com a sua decadência em função da tuberculose que descobre ser vítima. O que torna mais dramática ainda a relação já shakespeareana entre ela e o escritor Christian (Ewan McGregor, igualmente ótimo), centro da narrativa dividida em três atos distintos – e que se trate também da construção de uma peça teatral é parte da divertida metalinguagem estabelecida pelo diretor Baz Luhrmann: primeiro uma comédia, então um romance e por fim um drama. Os três estilos, traduzidos pelo gênero musical inventivo do cineasta, geram uma obra-prima que gira em torno de um só assunto: o amor. – por Yuri Correa
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of Spotless Mind, 2004)
Quem nunca desejou apagar da mente um relacionamento amoroso? Aquele romance que não deu certo porque a outra pessoa simplesmente não atendia às expectativas? Quem amou, já quis e talvez siga querendo. Essa parceria de Charlie Kaufman e Michel Gondry parte dessa premissa e a leva ao pé da letra com seus protagonistas apagando-se mutuamente da mente um ao outro. Fantasiosa, a produção é de um carisma grandioso sem presunção alguma e muito bem embalada pela trilha sonora de Jon Brion. Enquanto Clementine se auto-rotula uma garota fodida que só procura pela própria paz de espírito, Joel é um cara introspectivo e nada intenso. Ambos são contrastantes, mas possuem um equilíbrio notável. Ele sai de sua zona de conforto com ela, que por sua vez, bom… Clem realmente não é uma garota ajustável. Talvez uma das mais belas e fragmentadas histórias de amor do cinema, parte de um roteiro excepcional com personagens inesquecíveis para tratar sobre a magnitude do amor, segundas chances e que, às vezes, esquecer não é o melhor caminho. Mas um trem para Mountauk pode funcionar. – por Renato Cabral
O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005)
Troque os “caubóis gays” por Romeu e Julieta ou qualquer outro casal clássico do cinema e da literatura. O que se vê no filme de Ang Lee não é apenas um “romance gay” como muitos gostam de taxar. É um amor épico que busca referências nas bases do sentimento mais completo possível (ao menos, aquele idealizado). Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) sofrem do mesmo problema que boa parte dos homossexuais aqui do lado de cá da tela ou dos já citados personagens de Shakespeare: vivem um amor proibido. E todos sabemos: quanto mais impossível de ser concretizado, o que sentem um pelo outro cresce, explode, machuca. Desde aquela temporada de romance no interior sulista norte-americano, os personagens vivem vidas que não são as deles. Por isso cada encontro dos dois com o passar dos anos é um alento, uma chance de desfrutar a companhia um do outro e, especialmente, de serem eles mesmos. E o amor maior não é esse mesmo, quando podemos ser livres? Uma pena que o destino tenha sido trágico para os dois, mas a certeza fica: Ennis e Jack formam um dos casais mais inesquecíveis da filmografia mundial. – por Matheus Bonez
Era Uma Vez… (2008)
Ainda que a produção nacional volte e meia nos apresente títulos superlativos como O Maior Amor do Mundo (2006), poucas vezes um cineasta brasileiro foi tão feliz em retratar o amor romântico na tela como neste filme assinado por Breno Silveira. Essa releitura do clássico Romeu & Julieta em plena praia de Copacabana nos apresenta a Dé (Thiago Martins), um jovem favelado acostumado a levar uma vida sem muitas preocupações, e Nina (Vitória Frate), a moça de boa família que mora na Zona Sul do Rio de Janeiro. Os dois se encontram por acaso, vão se conhecendo aos poucos e, quando se dão conta, já não podem mais viver um sem o outro. Falando diretamente com o coração – tanto dos personagens quanto dos espectadores – é hábil em explorar os sentimentos que vão surgindo na ficção, criando uma identificação com a plateia que nos coloca irremediavelmente na torcida por um final feliz, ainda que o desfecho trágico seja anunciado. O romance surge calmo e sem pressa, enfrenta as oposições de praxe, e por isso mesmo parece ser tão absoluto. Uma obra inesquecível, indicada a qualquer um que já tenha sentido na pele a emoção de um amor verdadeiro. – por Robledo Milani
Namorados para Sempre (Blue Valentine, 2010)
Dirigido por Derek Cianfrance, narra uma história de amor longe do ideário com o qual o sentimento é popularmente concebido. O drama, que estreou no Brasil com um título tão inadequado quanto confuso, é contraindicado para o casal que procura num filme a plenitude romântica que espera de seu próprio relacionamento. Dean e Cindy (Ryan Gosling e Michelle Williams, em desempenhos magistrais) são apresentados em dois espaços de tempo de uma narrativa não linear: quando o casal se apaixona e quando o casamento de ambos parece se esfacelar. Não há aqui a velha fórmula que transformou o gênero romance em programa para mulheres – como a própria indústria cinematográfica classifica. Numa estética que prioriza a verdade em frente a filtros, luzes e outros artifícios recorrentes, o realizador desenvolveu seu romance, se é que o podemos classificar desta forma, em tons azulados e frios, com o propósito singular de retratar o amor em sua vertente mais realista. Williams foi indicada ao Oscar pelo delicado retrato de uma mulher confusa entre suas responsabilidades e desejos, e Gosling reitera aqui os motivos pelos quais é um dos maiores atores de sua geração. Eis uma pequena, porém preciosa, pérola do cinema. – por Conrado Heoli
Inquietos (Restless, 2011)
Alguém já disse que as verdadeiras histórias de amor são aquelas que nunca podem se realizar. O próprio conceito de romantismo, cronologicamente falando, vem dessa ideia de efemeridade, que faz pensar em viver o momento ao máximo, pois tudo pode se desmanchar num piscar de olhos. Isso vale para qualquer ficção, e o cinema não é exceção: de Casablanca (1942) a Titanic (1997), a separação do casal protagonista é a maior forma de eternização que o amor poderia ter. Aqui, Gus Van Sant usa esse axioma de forma um pouco mais radical: a separação iminente ronda dois adolescentes apaixonados. Muito além do mela cueca de um A Culpa é das Estrelas (2014) da vida, o amor romântico é amplificado pela noção de que, mesmo depois dele, há toda uma vida pela frente. E como construir o futuro quando o presente é tão destrutivo? A resposta vem na busca dos próprios sonhos e na construção de um mundo que possa resistir ao amor, que insiste em escapar por entre os dedos. Acompanhar esse trajeto, ainda que triste, é das coisas mais românticas – e simples! – que o cinema já mostrou. Escolha bem sua companhia para assisti-lo! – por Dimas Tadeu
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