Estadistas são figuras constantes no cinema. O ato de governar envolve tantas instâncias que não são raros os filmes (a agora também as séries de televisão) centrados em presidentes, monarcas, primeiros-ministros e afins. Ocupar a principal cadeira da Casa Branca, em Washington, ou seja, estar à frente dos Estados Unidos, nação proeminente no cenário geopolítico mundial, atrai muitas atenções, inclusive da sétima arte. São diversos os exemplos de longas-metragens sobre presidentes norte-americanos, sejam eles ficcionais ou representações de políticos que realmente estiveram no topo do poder. Com a estreia de Michelle e Obama (2016), cujo enredo enfoca o começo do relacionamento do então calouro da faculdade de Direito de Harvard e da advogada com quem ele estagia, resolvemos fazer um apanhado dos principais filmes que abordam presidentes estadunidenses reais. Confira!
A Mocidade de Lincoln (Young Mr. Lincoln, 1939)
Antes de se tornar um dos mais importantes presidentes estadunidenses, por ter liderado o país durante a Guerra Civil, período em que também ocorreram mudanças significativas, como a abolição da escravatura, Abraham Lincoln foi advogado. O começo da trajetória profissional dessa figura proeminente é contato por John Ford, diretor cuja obra fornece um painel bastante amplo e rico de episódios basilares à construção dos Estados Unidos como nação. Aqui ele começa mostrando o lance do acaso que faz um livro de direito cair nas mãos do jovem Lincoln (interpretando pelo grande Henry Fonda), então comerciante que tem de aceitar o artefato como pagamento em seu estabelecimento. Logo vem a mudança para Springfield, a capital, onde ele abre seu escritório de advocacia. Todavia, o ponto central deste longa-metragem é o primeiro caso que Lincoln defende no tribunal, um intrincado episódio envolvendo dois irmãos que atestam legítima defesa como justificativa por terem assassinado um homem. A única testemunha é a mãe deles, que, por sua vez, não quer se manifestar, já que salvar um filho significa condenar o outro à forca. Em meio aos meandros do julgamento, Ford ressalta a ética de Lincoln e sua capacidade de discernimento diante de injustiças. – por Marcelo Müller
Nixon (1995)
Após lançar seu olhar furioso sobre a Guerra do Vietnã em Platoon (1987), Nascido em 4 de Julho (1989) e Entre o Céu e a Terra (1993), e mergulhar em teorias da conspiração anti-establishment sobre a morte de John Kennedy, em JFK: A Pergunta que Não Quer Calar (1991), o cineasta Oliver Stone surpreendeu com esta cinebiografia do presidente Richard Nixon, que procura compreender a figura talvez mais representativa do conservadorismo e do poder estabelecido que Stone combatia. Esteticamente, no entanto, trata-se de uma continuação do que o diretor vinha realizando nos anos imediatamente anteriores: as experimentações com a imagem, iniciadas em JFK: A Pergunta que Não Quer Calar, se encontram com a histeria visual de Assassinos por Natureza (1994), num filme que, curiosamente, tem uma estrutura narrativa relativamente convencional. Essa histeria também está presente na interpretação de Anthony Hopkins, que beira a caricatura. Mas como Nixon era uma figura meio caricatural, mesmo, as escolhas da dupla Stone–Hopkins parecem adequadas – e o ator consegue, em momentos-chave, humanizar o personagem, transformando-o num homem mais ambíguo que propriamente detestável. – por Wallace Andrioli
Amistad (1997)
Se, três anos antes, Anthony Hopkins já havia sido indicado ao Oscar de Melhor Ator por dar vida ao controverso ex-presidente Richard Nixon, desta vez foi incumbido de interpretar um também grande gerente de uma época distante, porém tão infortuna quanto. No papel de John Quincy Adams, sexto presidente dos Estados Unidos, o ator representa aquele que auxilia, com a forte presença e a convicção de sábio advogado da metade do século XIX, ainda que em papel secundário, a luta de um grupo de africanos escravizados em território norte-americano, desde a sua revolta até o julgamento e a libertação. Através desta forte história de superação e reivindicação de direitos é possível acompanhar as condições de captura e transporte dos primeiros trabalhadores explorados nos famosos campos de algodão, o sistema jurídico estadunidense e o embrião das primeiras medidas que enfim aboliram a escravatura nos Estados Unidos. Como resultado, Hopkins foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante em uma das atuações mais desprendidas e descritivas de sua carreira. – por Victor Hugo Furtado
Treze Dias que Abalaram o Mundo (Thirteen Days, 2000)
A crise dos mísseis de Cuba, em 1962, foi um dos episódios mais tensos e problemáticos de John Kennedy na presidência. À beira de uma guerra nuclear com a União Soviética, o globo vivia em constante ebulição. Quando a base do armamento foi descoberta a poucos quilômetros da Flórida, não houve uma viva alma que não tivesse pressionado o presidente dos Estados Unidos para o contra-ataque. Apesar de o filme ser focado em Kenny O’Donnel (Kevin Costner), assessor da Casa Branca e amigo pessoal de Kennedy, é na figura de um dos mais queridos governantes norte-americanos que a produção encontra mais força. Com Bruce Greenwood na pele de JFK, acompanhamos todo o desenrolar da questão e as negociações que quase deixaram o planeta pegando fogo, especialmente pela sede de batalha dos militares dos EUA, muito mais perigosos que os russos nesta caricatura. Além de tudo, pode-se acessar um pouco mais a personalidade do próprio Kennedy e entender porque ele era um perigo para os reais interesses das mais altas camadas da sociedade estadunidense. Não à toa, foi assassinado meses depois, evento sobre o qual pipocam teorias da conspiração até hoje, inclusive as relacionadas a essa decisão sobre Cuba. – por Matheus Bonez
Bastidores da Guerra (Path to War, 2002)
Último trabalho do grande cineasta John Frankenheimer, esta produção da HBO apresenta uma detalhada reconstrução do conturbado mandato do presidente Lyndon B. Johnson, iniciado com o assassinato de John F. Kennedy, de quem era vice. Após assumir o cargo interinamente, em 1963, Johnson venceu as eleições no ano seguinte com larga margem de votos, dando início a um governo marcado por avanços emblemáticos na luta pelos direitos civis e pela implantação de programas sociais, através da legislação da “Grande Sociedade”, mas também pela intensificação da investida norte-americana na Guerra do Vietnã, fato que dividiu a opinião pública, abalando profundamente sua imagem. Trazendo sua experiência em thrillers políticos, como Sob o Domínio do Mal (1962) e Sete Dias de Maio (1964), às quase 3 horas de duração do longa-metragem, Frankenheimer concebe um retrato sólido dessa figura historicamente controversa, conhecida pelo comportamento explosivo e intimidador, vivida pelo irlandês Michael Gambon que. mesmo sem grande semelhança física ou ajuda de maquiagem, entrega uma excepcional atuação. O resto do numeroso elenco também é formado por ótimos nomes, como Alec Baldwin, na pele do secretário de Defesa Robert McNamara, peça-chave no fiasco vietnamita, e Donald Sutherland, vencedor do Globo de Ouro pelo papel do conselheiro Clark Clifford. – por Leonardo Ribeiro
W. (2008)
Josh Brolin não é parecido fisicamente com o ex-presidente norte-americano George W. Bush, mas é um grande ator, fato que por si anula a primeira afirmação. Em um intenso trabalho, ainda que pouco marcante em termos de premiações, extremamente verossímil, Brolin encarna um George descompromissado, leve e popular, gerando, assim, uma aproximação mais palpável com o público que só o conhecia como jovem mimado, playboy vindo do Texas. Telefonando para estabelecimentos, trabalhando o sotaque texano e assistindo a muitos vídeos para aperfeiçoar o jeito de andar, o astro, aliado ao senso político do diretor Oliver Stone e a um cabelo grisalho característico, gerou uma real sensação de acompanharmos de perto momentos importantes da vida do jovem Bush, como quando fora iniciado em uma fraternidade da Universidade de Yale, a época em que não se mantinha em empregos, ou quando conheceu Laura Bush e concorreu a uma eleição pela primeira vez, sendo derrotado. Os pontos mais destacados da obra ficam por conta das cenas em que o político mostra empenho em levar os Estados Unidos a Invasão do Iraque em 2003 e sua relação de forte indiferença com o pai, George H. W. Bush, o qual sempre busca impressionar. – por Victor Hugo Furtado
Frost/Nixon (2009)
Retratando a entrevista política mais assistida da televisão norte-americana, o longa-metragem encabeçado por Frank Langella e Michael Sheen começa acertando pelo casting. Quem diria que Langella poderia sair da sombra de seus constantes papéis coadjuvantes e encarnar Richard Nixon com tamanha naturalidade? Tarefa difícil, já que os dois não se parecem fisicamente. Na trama, Richard Nixon (Langella) se viu obrigado a renunciar à presidência após o escândalo de Watergate, com sua carreira pública completamente afundada. Na Austrália, o apresentador de tevê David Frost (Sheen) observa uma incrível possibilidade de voltar para a televisão estadunidense caso consiga uma entrevista exclusiva com Nixon. Para isso, terá de convencer o ex-presidente de que essa ideia será vantajosa para ambos. Tendo vivido o personagem no teatro, Langella consegue conferir uma aura mais humana ao ex-presidente dos Estados Unidos. Isso até foi alvo de críticas por parte dos detratores do finado estadista (que não são poucos), por Ron Howard ter aparentemente amenizado a figura do presidente, o tornando mais simpático aos espectadores. Se não ameno, ao menos não demonizado. Nixon poderia ser um sujeito desprezível, mas é inegável sua inteligência e seu poder de oratória. E isso observamos muito bem no decorrer do longa-metragem. – por Rodrigo de Oliveira
Lincoln (2012)
Misto de cinebiografia e drama épico político, esta produção dirigida com maestria por Steven Spielberg trata dos dias de Abraham Lincoln já como presidente dos Estados Unidos, numa época em que ele buscava com todos os esforços a aprovação na Câmara dos Deputados de sua emenda à Constituição do país, que colocava um fim na sociedade escravocrata norte-americana. Spielberg desenvolve seu filme de maneira equilibrada entre os âmbitos profissional e familiar do presidente. A importância de sua mãe, Mary Todd Lincoln, em uma performance excepcional de Sally Field, justifica as ações do personagem e esclarece ainda mais a importância do laço familiar, elemento comum à cinematografia de Spielberg. O trabalho imersivo de Daniel Day-Lewis é um dos melhores de sua carreira e, não por menos, por ele recebeu o Oscar de Melhor Ator além de outros tantos prêmios na sua categoria. Falando em Oscar, o filme foi indicado em mais 11 categorias, vencendo também a estatueta de Melhor Direção de Arte. Os sucessos de crítica e bilheteria só confirmam a alta popularidade de Lincoln, um dos mais emblemáticos presidentes dos Estados Unidos. – por Renato Cabral
O Mordomo da Casa Branca (The Butler, 2013)
Livremente baseado na trajetória de Eugene Allen como empregado da Casa Branca, este melodrama de Lee Daniels se vale dos vários anos de serviço do personagem para reconstruir períodos críticos da história dos Estados Unidos, da presidência de Harry Truman a Ronald Reagan, até o vislumbre do primeiro negro eleito para o cargo, Barack Obama. No entanto, a biografia de Allen pouco tem a ver com o roteiro do filme, escrito por Danny Strong, que possui estrutura semelhante a de Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994), pois coloca o protagonista como testemunha dos principais eventos que marcaram a concepção dos direitos civis modernos daquele país. A produção possui o formato recorrente da biografia que se divide entre as vivências pessoais e profissionais de determinado personagem. O resultado deste drama cômico (ou comédia dramática) é um filme que funciona como leve entretenimento e que resume em duas horas grande parte da história norte-americana no século XX. A Casa Branca já esteve melhor representada em tela grande, mas é interessante ver o retrato de atores como presidentes estadunidenses, incluindo as memoráveis performances de Robin Williams como Eisenhower, Alan Rickman como Ronald Reagan e John Cusack como Richard Nixon. – por Conrado Heoli
Elvis e Nixon (Elvis & Nixon, 2016)
Em 1970, Elvis Presley apareceu nos portões da Casa Branca para requisitar um encontro com o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. Vividos respectivamente por Michael Shannon e Kevin Spacey, dois dentre os melhores atores da atualidade, esses ícones da história mundial ganham o peso de sua importância simbólica, e acabam sendo eles mesmos o maior atrativo para justificar de existência do projeto. Pois, embora fale sobre um ocorrido tão inusitado, o encontro entre Nixon e Elvis não durou mais que alguns minutos, e, apesar disso, o filme consegue surpreendentemente bem criar um entorno interessante o suficiente – e Shannon carrega a primeira parte do longa-metragem, dominando os maneirismos e excentricidades típicos não só do cantor, como também dos personagens que costuma viver. Mas, só quando Spacey entra em cena é que a obra se torna realmente magnética. Embora viva outro icônico presidente dos Estados Unidos na cultura pop (o fictício Frank Underwood, da série de televisão House of Cards), o ator se distancia seguramente de sua outra criação, adotando a postura e a inflexão características que tanto outros atores já conferiram ao seus Nixon, e a partir daí, o embate entre os dois intérpretes é o bastante para deslumbrar. – por Yuri Correa
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