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No último fim de semana, a atriz Taís Araújo foi alvo de comentários racistas em sua página do Facebook com dizeres que é melhor nem citar para não disseminar tamanha imbecilidade. O mesmo ocorreu logo depois com o meia Michel Bastos, jogador do São Paulo. O avanço da internet em todos os lares e a consequente migração do público para redes sociais consegue mostrar o melhor e o pior do ser humano. Neste caso, o preconceito em massa que extrapola qualquer nível de civilidade. Somente no ano passado, a organização não governamental Safernet recebeu 86,5 mil denúncias no Brasil. Há cerca de 17,3 mil páginas virtuais com conteúdo racista. Mas é claro que isto não é de hoje e nem apenas no nosso país. Casos de racismo tomam conta da maior parte do mundo mesmo anos depois da abolição da escravatura, o que torna a discussão sobre o assunto mais do que necessária nos debates atuais. O cinema faz sua parte contando não apenas fatos históricos, mas também oferecendo denúncias de várias épocas e em vários âmbitos. No Top 10 desta semana não reunimos apenas os melhores filmes sobre o assunto (até porque precisaríamos de, no mínimo, o dobro para falar de tanta coisa), mas sim os mais relevantes e que abordam o tema de diferentes formas. Quem sabe o seu favorito não está por aqui. Confira, curta e compartilhe!

 

 

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O Sol é para Todos (To Kill a Mockingbird, 1962)
À primeira vista, o filme do diretor Robert Mulligan é mais um longo e extenso relato passado em tribunais norte-americanos. Apesar da direção pesada, o longa traz diversos atrativos, mas o principal é a história na qual se baseia. Adaptação da obra de Harper Lee vencedora do Prêmio Pulitzer, a trama centra-se em um advogado branco, Atticus Finch (Gregory Peck), que defende Tom Robinson (Brock Peters), um negro acusado de estuprar uma branca no sul racista dos EUA da década de 1930. Excluindo-se as qualidades heroicas do protagonista, que por vezes o tornam quase inverossímil com tanta boa vontade em uma pessoa só, o longa ganha mais pontos ainda ao retratar a sociedade norte-americana daquelas época e região, um ambiente totalmente hostil para qualquer pessoa diferente, seja em raça ou credo. Pode-se reclamar de alguns clichês da produção, especialmente no retrato “bem x mal” claramente visível e sem muitos tons de cinza, mas a importância histórica de To Kill a Mockingbird (evitemos o horrendo título brasileiro), justamente em uma época de revoluções e protestos por igualdade, ocorre por chamar a atenção para aqueles que não são brancos. Algo que, até então, fugia do padrão hollywoodiano. – por

 

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Adivinhe Quem Vem Para Jantar (Guess Who’s Coming to Dinner, 1967)
Em viagem pelo Havaí, John e Joey se conheceram, se apaixonaram e decidiram viver suas vidas juntos – isso em apenas dez dias. Apesar de parecer loucura, os dois resolvem contar a novidade aos pais da moça, que ficam chocados com a situação. O problema não é o fato de eles terem recém se conhecido. O que os deixa fora de prumo é o fato da moça ser branca e o rapaz, negro. Isto é o ponto de partida para este interessante longa-metragem dirigido por Stanley Kramer, com grandes intepretações de Sidney Poitier, Spencer Tracy (em seu último papel) e Katharine Hepburn (em atuação que lhe valeu o Oscar). Em 1967, em alguns lugares nos Estados Unidos, o casamento inter-racial era crime. Kramer sabia que seu filme poderia render polêmicas e realizou um belíssimo trabalho que toca na temática do racismo de forma respeitosa, mas nunca irreal. Ele joga luz em um casal liberal que é confrontado pelas suas ideias (até então que valiam só no papel) e ainda inclui uma empregada afro-americana que se mostra tão ou mais incomodada com a situação do que seus patrões. Por colocar o foco na questão racial e buscar conclusões mais do que satisfatórias, o filme se tornou um clássico por excelência. – por Rodrigo de Oliveira

 

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A Cor Púrpura (The Color Purple, 1985)
Branco, judeu e milionário. Steven Spielberg era a pessoa menos indicada do mundo para adaptar o best seller de Alice Walker sobre uma garota negra e miserável e a vida de infortúnios que leva no sul dos Estados Unidos no início do século XX. Vindo de sucessos populares como E.T.: O Extraterrestre (1982) e Os Caçadores da Arca Perdida (1981), o cineasta fazia a festa das matinês, mas foi recebido com frieza e desconfiança neste seu primeiro projeto mais sério. Pura tolice, pois o que se viu foi um diretor no pleno domínio do seu ofício, que soube olhar com delicadeza e sensibilidade as agruras dessa garota desprovida de beleza, vendida pelo próprio pai a um homem que a abusava constantemente e que vivia sonhando com o reencontro com a irmã, a única pessoa em quem confiava e de quem foi separada ainda na adolescência. Uma atuação magistral de Whoopi Goldberg – em seu primeiro trabalho de destaque – e participações impactantes de Margaret Avery e de Oprah Winfrey mostraram a dor de ser mulher, e negra, num mundo cercado pelo racismo e violência. Como resultado, as três foram indicadas ao Oscar, merecidas lembranças das onze indicações que o filme recebeu! – por

 

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A Outra História Americana (American History X, 1998)
Ostentando uma suástica tatuada no peito, Derek (Edward Norton) é a personificação da intolerância. Ignorante, como todo racista, assassina a sangue frio um homem negro, pisando em sua cabeça após ordenar que ele morda o meio-fio da calçada. O estrago fica por conta da imaginação do espectador. O ódio inflama esse cara que vai parar na cadeia. Derek vira ídolo de skinheads, neonazistas e outros grupos de covardes. Passando no cárcere o pão que o diabo amassou, ele revê seus conceitos, arrependendo-se de quem era em liberdade, chegando a envergonhar-se do comportamento preconceituoso que outrora guiou seus passos. Quando solto em condicional, três anos mais tarde, Derek precisa demover o irmão mais novo da intenção de trilhar o mesmo caminho que o levou à prisão. Edward Norton impressiona na pele do protagonista irascível, cuja brutalidade desferida contra o diferente espelha, infelizmente, o pensamento e as atitudes de muitos – vide os recorrentes casos de violência (verbal, psicológica, física, etc) noticiados nos meios de comunicação e/ou relatados nas redes sociais. O filme de Tony Kaye expõe a virulência do personagem principal e a torrente de selvageria que não está tão longe da realidade como gostaríamos. – por Marcelo Müller

 

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A Negação do Brasil (2000)
Neste documentário bastante importante, o diretor José Zito Araújo promove uma investigação dos percalços pelos quais os atores negros passaram ao longo dos anos a fim de se afirmar na teledramaturgia brasileira. Contando com depoimentos de Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Léa Garcia, Zezé Motta e Maria Ceiça, entre outros, o filme, vencedor do Festival É Tudo Verdade de 2001, relembra os pioneiros dessa luta para que o negro fosse não apenas visto, mas também respeitado. Cansados de interpretar somente bandidos e empregados, papeis que trataram de reforçar durante décadas estereótipos infeliz e vilmente associados à raça negra, esses verdadeiros desbravadores são vistos como diretamente responsáveis pelos avanços que permitem na atualidade a atores de diversas etnias conquistarem lugares de destaques em novelas e seriados nacionais. Mesmo assim, nem hoje tudo são flores. Entretanto, as dificuldades vividas nos primórdios da televisão configuravam um cenário ainda mais hostil. O diretor mostra uma minuciosa pesquisa que sustenta o andamento cronológico, a linha-mestra da narrativa. Mostrando exemplos estapafúrdios de outrora, como a personificação do negro por atores brancos maquiados, e a bravura dos precursores, este documentário se mostra essencial, sobretudo em nossos tempos preconceituosos, a despeito da tão propalada (e falsa, em certos aspectos) evolução. – por Marcelo Müller

 

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Duelo de Titãs (Remember the Titans, 2000)
A chegada do treinador Herman Boone (Denzel Washington) era mais uma das atitudes governamentais que visavam a unicidade escolar, na instituição T. C. Williams, que acabara de se tornar mista. O time de futebol seria então dividido entre negros e brancos e, apesar de muitas reclamações por parte do antigo time, pouco a pouco o panorama excludente muda, capitaneado pelos dois jogadores de cores distintas, Gerry Bertier (Ryan Hurst) e Julius Campbell (Wood Harris). Antes rivais, agora fraternos, graças as lições de seu mentor. Driblando a cafonice do discurso panfletário, Duelo de Titãs consegue passar uma boa mensagem a plateias infantis, além de possuir uma trilha sonora divertidíssima, resultando em um filme pop, mas ainda assim importantíssimo, especialmente por demarcar como positivas ações estatais de integração. Apesar de bastante didático, o longa Duelo de Titãs é um importante espécime sobre a discussão do apartheid velado que ocorria nos idos dos anos setenta nos Estados Unidos, incluindo aí o cenário esportivo do país. O nome original, Remember The Titans é ainda mais enfático no resumo dos dramas mostrados no roteiro, fortificando que é necessário trazer a memória o quão anacrônica era a divisão entre as raças que ocorria na cidade de Alexandria, na Virginia. – por Filipe Pereira

 

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Crash: No Limite (Crash2004)
Este é mais um filme que pega como estudo de caso a cidade de Los Angeles, em que a desigualdade social é gritante, ainda que a pluralidade étnica seja vasta. Desenhando um quadro sobre o preconceito através das várias linhas narrativas que acompanhamos, é curioso, e por vezes catártico, observar como Paul Haggis – diretor e roteirista – cruza, tangencia ou apenas cria paralelos entre as suas tramas, que no final são uma só e dizem respeito a apenas uma coisa: a convivência não com o pior lado das pessoas, mas o nosso pior lado, que constantemente projetamos no próximo. Um chaveiro mexicano e sua filha, um comerciante persa, a traumatizada e caucasiana esposa de um político, a traumatizada e negra esposa de um diretor de cinema, um policial negro em busca do irmão, um policial branco em busca de ajuda para o seu pai. São algumas das histórias que Crash nos propõe, pulando de uma para a outra sem fazer distinções, reafirmando assim que a história das pessoas naquela cidade é uma só, as diferenças de cor ou origem não mudam isso, ou não deveriam. A violência nos separa, gerando mais violência, nos distanciando da tolerância e da união. – por Yuri Correa

 

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Fruitvale Station: A Última Parada (Fruitvale Station, 2013)
Nas primeiras horas de 2009, em meio às comemorações de Ano Novo na cidade de Hayward, na Califórnia, Oscar Grant e seus amigos foram parados pela polícia na estação Fruitvale após uma confusão em um dos trens. Mesmo desarmado e sem representar qualquer perigo, Grant foi vítima da força excessiva dos policiais, sendo executado com um tiro nas costas. Isso é mostrado logo de cara em Fruitvale Station, filme que retrata o último dia de vida do rapaz. Brilhantemente interpretado por Michael B. Jordan, Oscar Grant é um indivíduo falho, que pode perder a cabeça repentinamente e acaba de sair da prisão, mas que está em pleno processo de mudança, buscando ser uma figura melhor para as pessoas ao seu redor, o que inclui sua namorada Sophia (Melonie Diaz), a filha deles Tatiana (Ariana Neal) e sua mãe Wanda (a excelente Octavia Spencer). E é isso que acaba tornando o filme de Ryan Coogler tão trágico e impactante, já que sabemos que todos os esforços do protagonista não terão uma continuidade. A história da morte de Grant, infelizmente, reflete situações que ainda ocorrem com frequência com jovens negros, como se a cor da pele já desse motivo para desconfiar de alguém ou taxa-lo como criminoso. – por Thomás Boeira

 

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12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013)
Dirigido com imparcial brutalidade por Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão mete o dedo em uma ferida que muitos gostam de chamar “americana”, se referindo apenas aos Estados Unidos, ignorando, por escolha ou burrice, que escravos negros existiram em quase todas as nações antes, durante e depois até das colonizações. A história real de um homem negro e livre que é sequestrado para ser vendido como propriedade a um dono de terras no sul do país apenas ilustra a miséria a que toda uma etnia foi submetida por séculos. Segregação e abusos que aconteciam ainda há cem anos e hoje, mesmo abolidas pelo mundo, encontravam grande força na sociedade há cinco décadas. Aliás, ainda encontra fervorosos defensores atualmente. Para aqueles que desprezam programas sociais, cotas, acolhimento de estrangeiros, etc., o filme grande vencedor do Oscar serve para nos lembrar que esses horrores não ficaram em um passado tão distante e que, de fato, ainda ecoam alto nos dias que correm. – por Yuri Correa

 

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Selma (2014)
Quando falamos da luta contra o racismo, uma das figuras mais icônicas é Martin Luther King Jr., e um dos acontecimentos mais marcantes no combate a discriminação é a marcha de Selma a Montgomery, no Alabama, pelo direito do voto aos cidadãos negros nos Estados Unidos. O episódio é marcado por agressões revoltantes em um dos estados mais racistas dos EUA, conflitos políticos dentro da própria militância negra (envolvendo, sobretudo, a discussão sobre o uso ou não da violência em protestos) e entre o poder, envolvendo o presidente e governadores. Selma, porém, é um filme diferente. Apesar de abordar com inteligência o célebre discurso “I Have a Dream“, a película não o toma como ponto de partida nem tenta mostrar Martin Luther King como um mártir de caráter inabalável e cheio de virtudes. O período em que a obra se passa é muito mais político e complexo, e mostra um King mais humano, que sofre e participa do jogo político, mas também é frio em alguns momentos. Selma é uma ótima película, que aborda com competência o que propõe e tem uma enorme qualidade: é inspiradora. Ao terminar de ver a obra, o sentimento de revolta e a vontade de discutir e fazer algo para transformar o mundo em um lugar melhor florescem com enorme facilidade, e isso é um dos poderes do verdadeiro cinema. – por Gabriel Pazini

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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