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A vingança é um prato que se come frio, já diria o provérbio. No cinema, é quase infinito o número de exemplares de tramas e narrativas que utilizam os acertos de contas como mote. Tem para todos os gostos: suspenses psicológicos, policiais recheados de tiroteios, faroestes de figuras solitárias, ninjas com espadas em punho… criar a motivação para vinganças sanguinária parece ser uma tarefa constante para a maior parte dos roteiristas e diretores de todo o mundo. Com a refilmagem norte-americana de Oldboy: Dias de Vingança (2013) chegando aos cinemas brasileiros, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger dez dos melhores filmes que tem o tema como prato principal. Confira!

 

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A Fonte da Donzela (Jungfrukällan, 1960)
Situado em uma Suécia medieval, A Fonte da Donzela conta a história de Karin, uma moça que sai de casa para acender algumas velas em uma igreja próxima. Porém, nesse caminho, acaba raptada, estuprada e assassinada por um trio de homens que passa pelo vilarejo. Aquela velha história de “aqui se faz, aqui se paga” chega quando o trio pede refúgio aos pais de Karin. O pai descobre que foram estes três homens os assassinos de sua filha e, sem perder tempo, planeja sua vingança. Não muito longe de ser um filme de Ingmar Bergman, consegue ser uma produção que destoa um tanto em sua filmografia pela gravidade das ações e pela violência mais física que psicológica. Mas claro, sem perder esta, o diretor sueco abraça uma bela análise sobre fé, perdas e vingança. Renegado por Bergman até seus últimos dias, é sem dúvida uma das mais belas obras de seu currículo, se mostrando ágil em sua narrativa e recheada de surpresas. – por Renato Cabral

 

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Era uma Vez no Oeste (C’era una volta il West, 1968)
Ignorado por público e crítica na época de seu lançamento, este clássico de Sergio Leone hoje é considerado o melhor western de todos os tempos. No roteiro que também teve colaboração de Sergio Donati, Bernardo Bertolucci e Dario Argento, somos apresentados a Jill (Claudia Cardinale), ex-prostituta que teve sua nova família chacinada, Cheyenne (Jason Robards), o assassino acusado deste crime (que não cometeu), Frank (Henry Fonda), pistoleiro de aluguel e responsável pelas mortes, e Harmônica (Charles Bronson), um típico cowboy caladão e violento que esconde algo do passado. O melhor da vingança em Era uma Vez no Oeste é entende-la por inteiro quando o clímax chega. Todos têm motivos para revidarem contra Frank, mas a rixa com Harmônica parece ser mais antiga do que as dos demais. O detalhe é que o vilão não sabe quem é aquele homem, mas sente medo, inclusive, de saber o porquê de lhe causar tanta fúria. A razão? Seria um tremendo spoiler e a possibilidade de acabar com o encanto deste filme, mesmo quase 50 anos depois de seu lançamento. Mas não tenha dúvidas: a motivação é mais do que bem argumentada, deixando o espectador surpreso, intrigado e excitado com o desenlace. – por Matheus Bonez

 

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Cabo do Medo (Cape Fear, 1991)
Apesar de autoral, Martin Scorsese é humilde em reconhecer o trabalho de colegas e constantemente aprender com eles. Mas, ciente do próprio talento, também não se intimida quando acredita ser possível melhorar aquilo já explorado sob outros formatos. E muito antes de ganhar seu Oscar por Os Infiltrados (2006), outro remake assinado pelo diretor mostrava sua aptidão com o cinema de gênero. Ao assumir a refilmagem de O Círculo do Medo (1962), de J. Lee Thompson, ele não só trouxe de volta os protagonistas originais – Gregory Peck e Robert Mitchum, em participações especiais – como também recriou com uma intensidade muito maior o clima de desespero e aflição vivido pela família Bowden. O pesadelo deles começa quando um estuprador convicto é liberado da prisão após 14 anos encarcerado, decidido a se vingar do advogado que deveria tê-lo defendido – justamente, o pai da casa. Robert De Niro tem uma das suas atuações mais viscerais como o sedutor bandido obcecado por um senso torpe de justiça, enquanto que Nick Nolte se descobre cada vez mais frágil ao tentar defender a si e às mulheres de sua vida – Jessica Lange, a esposa, e Juliette Lewis, a filha. A vingança, aqui, é um prato definitivamente servido frio, mas preparado com tanto esmero e antecipação que é impossível não saboreá-lo com um terrível e desconfortável prazer. – por Robledo Milani

 

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O Conde de Monte Cristo (The Count of Monte Cristo, 2002)
A vingança no cinema é quase um jogo de seis graus de separação: “…é um prato que se come frio”, afirma o ditado Klingon, de Star Trek, que é levado ao pé da letra num dos livros mais famosos de Alexandre Dumas. Não por acaso o autor foi citado em Django Livre (2012), de Quentin Tarantino. Inspiradora de muitas destas e outras obras que tratam sobre vendetas, O Conde de Monte Cristo conta a história de Edmond Dantes, homem traído pelo melhor amigo, Fernand Mondego, que acaba preso, enquanto o outro se casa com sua mulher e fica rico em seu lugar. Anos mais tarde, Dantes consegue fugir de seu encarceramento e volta para sua cidade natal, não sem planejar um castigo cruel para Mondego. A versão de 2002, estrelada por Jim Caviezel, Guy Pearce e Richard Harris, é com certeza bastante fiel ao livro de Dumas e capta com eficiência o espírito da catarse violenta do protagonista, não deixando nada a desejar em relação à clássica adaptação de 1934. – por Yuri Correa

 

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Oldboy (Oldeuboi, 2003)
A sétima arte se voltou para o cinema sul-coreano contemporâneo depois de Chan-wook Park e Oldboy (2004), suspense visceral sobre vingança que transcende o gênero. Brutal e poético, já comparado com obras de Shakespeare e Dostoiévski, o filme recorre a temas próprios de um drama existencialista para apresentar Oh Dae-Su (o excepcional Choi Min-sik), que, sem razão aparente, é mantido preso em um pequeno quarto de hotel durante 15 anos. Quando finalmente é liberado, novamente sem qualquer motivo pontual, ele decide proporcionar seu sofrimento para aqueles que o causaram – com doses extras de violência e sadismo. Enquanto seu protagonista busca por vingança e descobre mais sobre si mesmo, Oldboy revela maestria em sua narrativa original, atuações brilhantes e direção impecável – características que se repetem nos dois outros capítulos da trilogia de Chan-wook Park, Mr. Vingança (2002) e Lady Vingança (2005). Baseado no mangá de mesmo título e vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, Oldboy permite a seus espectadores experiências singulares e novas concepções sobre dentistas, polvos, martelos e tesouras. Eis uma obra-prima inesquecível. – por Conrado Heoli

 

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Kill Bill: Volumes I (2003) e II (2004)
Aqui, dois valem por um. Quem conhece a filmografia de Quentin Tarantino sabe que o tema vingança é algo recorrente em seus trabalhos. Isso inclui obviamente o grande Kill Bill. Dividida em dois volumes (afinal, em termos de mercado, não é fácil vender uma obra de quase 5 horas de duração e é sempre vantajoso fazer as pessoas pagarem duas vezes para ver um filme), a belíssima homenagem de Tarantino aos westerns spaghetti e às produções de artes marciais feitas nas décadas de 1960 e 1970 é focada na Noiva (a excelente Uma Thurman), que entra em coma depois de sofrer um atentado por parte de seus ex-colegas assassinos profissionais no dia de seu casamento. Ao acordar, ela tem apenas um objetivo: matar todos eles, principalmente Bill (David Carradine), o líder da quadrilha. Ao longo dos dois volumes de Kill Bill, acompanhamos uma jornada grandiosa e repleta de surpresas, além de vermos a protagonista em embates absolutamente memoráveis contra seus inimigos. Tudo isso seguindo o conhecido estilo de Quentin Tarantino. É verdade que enquanto o primeiro volume se revela excelente, o segundo é um pouco inferior. Mas, mesmo assim, eles formam mais um trabalho marcante na carreira de seu talentoso diretor. – por Thomás Boeira

 

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Lady Vingança (Chinjeolhan geumjassi, 2005)
Terceiro filme do diretor sul-coreano Chan-wook Park a compor a sua trilogia da vingança, Lady Vingança sofreu à sombra dos antecessores. Mr. Vingança (2002) e, especialmente, Oldboy (2003) são fortes e impactantes, qualidades que forçaram a trama de Lee Geum-ja (Lee Yeong-ae) a receber menos atenção do que merecia. A história da mulher que, treze anos após ser presa pelo sequestro e assassinato de um menino, recebe liberdade e procura reconstruir a sua vida, concorre de igual para igual com Oldboy, ambos superiores à abertura da trilogia. Se os filmes anteriores contam com uma intensidade própria do caráter masculino dos personagens, aqui, Park impõe o planejamento da vingança se revelando de maneira mais sensível – mas não menos inescrupulosa e impressionante – porque feminina. Talvez por precisar dos recursos encontrados nos filmes anteriores, como o flashback, Lady Vingança pode passar a impressão de ser mais do mesmo. Grande engano. A independência com relação à trilogia é visível, assim como o esmero visual na composição dos quadros e a qualidade da direção de arte são marcas distintivas que fazem com que o percurso de Lee seja, inclusive, melhor do que o do percorrido no longa anterior do cineasta. – por Willian Silveira

 

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V de Vingança (V for Vendetta, 2005)
Poucos personagens foram tão mal compreendidos quanto ele. Codinome V, o protagonista da HQ homônima V de Vingança escrita por Alan Moore, que inspirou o filme produzido pelos Irmãos Wachowski e dirigido por James McTeigue, se tornou um símbolo da força popular contra tirania dos governos. Hoje a máscara de Guy Fawkes atua como ícone da agenda revolucionária pelo mundo. Porém, no cerne da história, isto nada tem a ver com a proposta original. V (Hugo Weaving) é um terrorista que busca, através do caos, destruir o controle absoluto do regime totalitário de uma Inglaterra futurista. No início de sua jornada ele encontra Evey (Natalie Portman, linda e competente, como sempre), uma jovem, assim como ele, também vítima do fascismo britânico. Ela se torna uma experiência de libertação em suas mãos, enquanto ele ataca o alto escalão do partido controlador à procura de vingança, simples e pura. Ao contrário das interpretações contemporâneas, V não procura justiça social. Ele quer se vingar daqueles que o feriram. E tem algo mais destrutivo do que acabar, não com o corpo, mas com tudo que define quem uma pessoa é? Através da anarquia, V destrói aquilo que marcou a ele e tantos outros. – por Eduardo Dorneles

 

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Vingança (Fuk Sau, 2009)
Os filmes de Johnnie To encontram pouco (ou nenhum) espaço no nosso circuito, o que é uma grande lástima. Vingança, por exemplo, dá bem a ideia do que esperar da assinatura (sobretudo a visual) deste cineasta de Hong Kong. São cenas e mais cenas de tiroteios tão bem filmados, com imagens tão cuidadosamente construídas, que da barbárie brota uma beleza não apenas plástica, mas também poética. A vendeta do francês, interpretado por Johnny Hallyday, contra aquele que dizimou sua família é permeada pela afirmação da necessidade de ir à forra, na contramão de qualquer redenção ou perdão edificante. Para auxiliá-lo, esse estrangeiro contrata um trio de bandidos que caça os assassinos, isto enquanto ele próprio ainda lembra de algo que a vingança ainda pode lhe soar doce, já que está num crescente processo de amnésia. Durante a ação, é bala que come solta, sangue como que evaporando dos corpos em queda, tudo em prol de coreografias, digamos, de morte. Como esquecer da sequência do tiroteio na floresta, iluminado pela luz da lua e pelo fogo das armas, ou daquela que se passa num lixão? Cinema de primeira qualidade. – por Marcelo Müller

 

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A Pele que Habito (La Piel que Habito, 2011)
Foram vinte anos sem trabalharem juntos – desde Ata-Me (1990). O reencontro entre Pedro Almodóvar e Antonio Banderas não poderia ser melhor. Em A Pele que Habito, Almodóvar joga o espectador no meio da história, aguçando a curiosidade do público sobre o que acontece na casa do cirurgião plástico Roberto Ledgard. Ele mantém, em um cômodo chaveado, a bela Vera, sempre vestindo uma estranha segunda pele. Roberto conseguiu elaborar uma espécie de pele humana mais resistente, que visa ajudar pessoas que sofreram deformações devido a queimaduras. O doutor parece ter uma fascinação pela mulher que mantém em cativeiro, sempre a observando. Vera não entende a razão de ter sido escolhida como cobaia. Muito menos o espectador, que tem em um grande flashback a chance de conhecer tudo por trás desta história de vingança, desejo e morte. As reviravoltas da trama, além de causarem surpresa, deixam o público em situação estranha, visto que nenhum personagem é um exemplo de correção. Além da vingança, outra palavra chave para entender A Pele que Habito é desejo. Este sentimento arrebata os personagens e os faz tomar atitudes impensáveis, que acabam voltando-se contra cada um da pior forma possível. Trabalho imperdível do sempre interessante Pedro Almodóvar. – por Rodrigo de Oliveira

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