O documentário Xico Stockinger merece destaque por registrar vida e obra do artista plástico austríaco que escolheu o Brasil, para onde veio ainda pequeno, e a capital gaúcha, Porto Alegre, onde morou até sua morte, em 2009. A direção é de Frederico Mendina, que estreia no longa-metragem com este título e tem em comum com o protagonista de seu filme o fato de ser um autodidata. A produção da Pironauta Filmes acompanhou o escultor passeando por pontos em que viveu na infância e juventude. Registrou em entrevistas Stockinger falando sobre sua formação, suas técnicas de trabalho e sua escolha por viver em Porto Alegre.
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Considerado um dos maiores escultores que o Rio Grande do Sul já teve, o artista nascido em 1919 contou ao documentarista como usava a arte para expressar sua indignação com diversos temas da sociedade brasileira, no que se enquadra a série de esculturas “Gabirus”, que retrata pessoas de baixa estatura devido à desnutrição de várias gerações. O filme revela ainda como surgiu o seu apreço de Stockinger por cactos, dos quais se tornou colecionador. Imagens de arquivo também estão incluídas no longa-metragem, bem como uma rara entrevista com o escritor Josué Guimarães, grande amigo do escultor.
Este documentário tem o mérito de perpetuar a memória do artista. Contém pitadas de humor que emanam do seu próprio protagonista, que tinha na honestidade uma das suas maiores características. Essa franqueza, por outro lado, às vezes desencadeia o riso.
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Por fim, chama atenção no trabalho de Stockinger como ele não dava muita importância aos equipamentos de proteção frente aos processos que incluíam altas temperaturas para a produção de suas obras, em uma espontaneidade frente ao impulso de ter o domínio sobre o trabalho executado. Mendina mostra ter uma sensibilidade especial neste seu primeiro trabalho cinematográfico. Isso é perceptível, por exemplo, na opção de colocar ao final do filme uma sequência com um silêncio reverencial. Como Stockinger ficou surdo na sua velhice, o espectador pode, desta forma, perceber, por alguns instantes, a sensação do artista. Xico Stockinger é, portanto, uma justa homenagem.
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