Crítica

Recentemente, na crítica da produção nacional Copa de Elite (2014), explicou-se as origens dos filmes de sátira e como se popularizaram com obras inspiradas até darem vazão a uma verdadeira infestação deste subgênero. Entre os muitos produtos descartáveis que regularmente são apresentados, este Inatividade Paranormal 2 concretiza de vez a chegada ao fundo do poço do estilo – isso se acreditarmos que Atividade Paranormal: Tóquio (2010) não era uma paródia. Por tudo isso, um título mais apropriado talvez fosse Inatividade Cerebral². 

Malcolm (Marlon Wayans), um negro – como o “roteiro” não cansa de ressaltar, como se isso por si só fosse engraçado – volta a ser assombrado pelo demônio que o perseguira no primeiro longa, Inatividade Paranormal (2013), lançado no ano passado. Agora, porém, ele mora ao lado de Megan (Jamie Pressly), uma garota obviamente branca – o que também é diversas vezes destacado como algo divertido – mãe de duas crianças. Juntos, e através de piadas que variam entre ruins e extremamente constrangedoras, eles vão nos lembrando de outros títulos que poderíamos estar assistindo, tal qual O Último Exorcismo (2010), que mesmo sendo nada memorável, está ainda muito acima... disso aqui.

Na verdade, não há o que se criticar sobre Inatividade Paranormal 2 ou mesmo qualquer uma destas produções similares, pois são feitas por e dirigidas à um público que gosta e compra este tipo de humor, principalmente nos Estados Unidos, em seu país de origem. Não à toa, menções ao presidente negro e programas governamentais como o Obama Care viram piadas fáceis na boca do protagonista. O próprio ator (que também assina como roteirista e produtor) profere em incontáveis momentos sobre o quanto o que estamos assistindo é ruim, reconhecendo que o que faz é proposital. Tem-se aqui um produto de mercado que vende para um público médio específico tal qual filmes bíblicos acabam vendendo apenas para religiosos em geral.

Marlon Wayans não é um Michael Bay que transborda misoginia e ufanismo em seus filmes levando-se a sério e vendendo-os a toda humanidade – embora Sem Dor, Sem Ganho (2013) tenha sido um bom longa-metragem justamente pelos exageros. O ator, aqui, tem consciência ao menos de que está produzindo um tipo de droga que muita gente consome e se diverte por um curto período de tempo, mas que não quer dizer que todos sejam usuários. Também em comum, o fato de que seu consumo deveria ser ilegal. Um bom exemplo é a (longa) sequência de Malcolm transando com uma boneca de porcelana, que soa como o apito de um forno avisando que o prato chegou ao seu ponto máximo de cozimento. Uma vez que este tipo de constrangimento é exatamente o que arranca as mais divertidas gargalhadas do público-alvo, não se pode afirmar que o projeto não é fiel ao que se propõe. Deste ponto de vista, fica até mesmo difícil saber a avaliação de estrelas mais adequada, se uma ou cinco!

No fim das contas, rechaçar os produtores, diretor e atores de filmes como estes não é nem mesmo justo, uma vez que os verdadeiros responsáveis pela existência de Inatividade Paranormal 2 estão do lado de cá da tela, incluindo este crítico que vos escreve, que mesmo através deste texto está de alguma forma ajudando a divulgá-lo. O mais correto seria simplesmente esquecê-lo e torcer silenciosamente para que ninguém mais lembrasse de sua existência, ou que malditamente no futuro proferisse algo como: “Ei, poderíamos fazer um filme parodiando outros, não é?”. Repare que mal foram citados exemplos tirados da produção, pois citar um é lembrar de todos, e seria redundante repetir os motivos que fazem desta uma experiência torturante. Preferível assistir a Copa de Elite de novo. Ou não, já que quando se trata de drogas pesadas como essas, ficar careta é o mais recomendável. Wayans que continue a vendê-las aos seus fiéis clientes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *