O Homem que Não Estava Lá
Crítica
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Sinopse
Em meio aos anos 40, Ed Crane é um barbeiro infeliz, que vive com sua esposa. Ao descobrir que ela o está traindo, Ed passa então a planejar uma trama de chantagem contra ela, a fim de ensinar-lhe uma lição. Mas quando seu plano vai por água abaixo uma série de consequências desagradáveis ocorrem, incluindo vários assassinatos.
Crítica
Joel e Ethan Coen são singulares na concepção de protagonistas densos e complexos, assim como na condução de tramas envolventes que fazem valer todo o subgênero neonoir. Em O Homem que Não Estava Lá esta equação é pontuada pela tragédia e ratifica a disposição dos realizadores em problematizar a vida ordinária com perspectivas tão sublimes quanto lúgubres.
No final dos anos 1940, Ed Crane (Billy Bob Thornton), barbeiro da pacata cidade californiana de Santa Rosa, espera escapar da monotonia e da previsibilidade de sua vida ao entrar num promissor negócio de lavagem a seco. Para isso, pretende conseguir 10 mil dólares chantageando Big Dave (James Gandolfini), chefe de sua mulher, com quem ela parece manter um caso. Interrompida por flashbacks, reviravoltas e outros recursos linguísticos tão comuns aos filmes dos Coen, esta premissa se desenvolve e parece ainda mais interessante pelas escolhas estéticas e narrativas dos realizadores.
Os códigos do cinema noir como estilo visual, suas sombras, silhuetas e escuridão opressiva, estão geralmente inseridos em narrativas protagonizadas por homens excêntricos e mulheres ambíguas, todos fadados a um destino implacável. O gênero essencialmente norte-americano nasceu da reflexão social, sexual e política que acometia os Estados Unidos após a Grande Depressão, os flagelos do pós-guerra e a era da perseguição imposta pelo Macarthismo. Os Coen, que desde suas primeiras obras são entusiastas pela reinvenção do noir, já foram inspirados por grandes autores do gênero como Dashiel Hammett e Raymond Chandler, e com O Homem que Não Estava Lá o alvo dos cineastas é James M. Cain – escritor e jornalista adaptado em filmes como Alma em Suplício (1945) e Pacto de Sangue (1944).
Enaltecido pela magistral fotografia em preto e branco e de grandes contrastes de Roger Deakins, O Homem que Não Estava Lá é pouco lembrado entre a quase irretocável filmografia dos irmãos Coen, ainda que seja inegavelmente superior aos dois esforços seguintes dos realizadores, as comédias O Amor Custa Caro (2003) e Matadores de Velhinha (2004). Talvez tal fato se deva ao tom do filme, que vai muito além do monocromático, e, com seu humor irônico e por vezes inclinado à tensão, parece não fazer muitos esforços para agradar os espectadores.
Curiosamente, Santa Rosa, cidade na qual o filme se ambienta, já serviu de cenário para A Sombra de uma Dúvida (1943), suspense clássico de Alfred Hitchcock que também apresentava o mal se insinuando em meio a personagens aparentemente inocentes. O nome do protagonista, Ed Crane, também flerta com a heroína de Hitchcock em Psicose (1960), Marion Crane – que, assim como Ed, busca reconstruir sua vida partindo de algo que não lhe pertence. A punição para ambos a partir de suas respectivas corrupções é igualmente cruel.
Billy Bob Thornton, tão recorrente em papeis de pouca profundidade que não exploram todo seu potencial, apresenta em O Homem que Não Estava Lá uma versatilidade surpreendente, que dá conta de todas as facetas de Ed Crane e suas transformações ao longo do filme. O ator tem uma qualidade única para transmitir sensações, mesmo quando seu semblante é aquele impassível e etéreo, que caracterizava os grandes heróis ambíguos da era de ouro de Hollywood. Frances McDormand, como a esposa melancólica e ambiciosa de Ed Crane, tem o papel que em outra época seria de Barbara Stanwyck – e ela o desenvolve maravilhosamente bem, justificando que não está na produção apenas por ser casada com Joel Coen. O elenco ainda apresenta gratas surpresas nas performances de Richard Jenkins, na beleza ainda pueril de Scarlett Johansson e no sempre memorável James Gandolfini.
Mais uma obra extraordinária e obrigatória com a assinatura dos Coen, esta que certamente deixaria orgulhosos tantos mestres do noir, como Fritz Lang, John Huston e Otto Preminger.
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O filme é uma obra de arte. Como disse a crítica é um filme subvalorizado. Prende a atenção do começo ao fim. O fato de ser filmado em preto e branco foi uma tirada de mestre, pois resulta em maio realismo. Os diretores são geniais bem como os autores. Enfim, uma obra de mestres. Parabéns a crítica que descreveu tão bem as qualidades do filme. É um filme para se ver de novo, de novo, etc.