Crítica
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Sinopse
Pessoas sendo canceladas por falarem bobagem ao vivo. Pais sendo submetidos à vontade dos filhos influenciadores. Uma designer de sobrancelhas que acredita em notícias falsas. Um pet famoso nas redes sociais e seu novo agente. Uma mulher disposta a fazer vingança.
Crítica
Há coisas em comum entre os cinco episódios da segunda temporada da antologia brasileira 5X Comédia. Por exemplo, os três primeiros deles falam de certos aspectos da vida hiperconectada pelas redes sociais. Em Amor em Tempo de Pet, Lázaro Ramos interpreta um ex-representante de artistas famosos que, depois de uma temporada sabática forçada pela desgraça profissional, é contratado para cuidar de uma celebridade canina com milhares de likes em seus perfis oficiais. Em Toda Errada, Ingrid Guimarães é uma apresentadora de televisão cuja vida é transformada pelo cancelamento virtual após falar uma grande bobagem ao vivo. Aliás, já deu para identificar outro ponto em comum: pessoas envolvidas com o mundo luminoso do entretenimento que num momento da carreira experimentam o ostracismo. Já em A Vida é um Jogo, Rafael Portugal interpreta um sujeito empregado na startup do filho que ganha rios de dinheiro com conteúdo gamer on-line. Também há um elemento virtual importante em Batalha das Sobrancelhas, no qual Fabiana Karla dá vida à protagonista que, primeiro, se beneficia de uma mentira e, depois, também entra em crise por conta de uma informação falsa na internet. Apenas Mal Me Quer, o mais fraco de todos os episódios, não sintoniza o mundo virtual como fundamental ao enredo. Aliás, as histórias que compõe a segunda temporada estão mais para edificantes do que cômicas.
A continuação de 5X Comédia é composta de tramas que são, quando muito, espirituosas, mas não necessariamente engraçadas. O princípio norteador dos roteiros é chegar às lições de moral, não sem antes apresentar cenários que parecem avessos aos encerramentos felizes. Então, em Amor em Tempo de Pet tudo gira em torno da conscientização do protagonista sobre a necessidade de dar carinho aos bichinhos de estimação e não os explorar como meros produtos midiáticos. Toda Errada também mostra uma queda na realidade, mas neste caso a da personagem que precisa compreender as demandas da atualidade progressista. Em ambos os casos sobressai o aprendizado com marca de verniz moralista. Por mais que em A Vida é um Jogo haja também um famigerado ensinamento a ser assimilado, ele acontece de maneira tão abrupta e artificial que nem chega a justificar a papagaiada sobre a inversão de posição entre pai e filho – o adulto submetido à criança de onde provém o dinheiro para sustentar a família. Batalha das Sobrancelhas também coloca a evolução pessoal em primeiríssimo plano, com a protagonista simplesmente aceitando que nem tudo na internet merece ser aceito de bom grado. Por fim, Mal Me Quer é um tanto desconectado dessa unidade atravessada pela convergência de certos temas, pois simplesmente é sobre a vingança bastante xoxa que acaba num beijo providencial.
O único componente que aparece rigorosamente em todos os episódios da segunda temporada de 5X Comédia é a terapeuta alternativa interpretada por Débora Lamm. A presença constante dessa figura funciona como um lembrete de que as histórias fazem parte do mesmo universo. Nada mais que isso. Até porque essa personagem tem importâncias variadas, indo de uma mera participação especial àquela que ajuda o protagonista a descobrir algum fundamental para amenizar uma crise. No geral, isso de as tramas terem um apelo motivacional que vai além dos gatilhos cômicos acontece porque os roteiros estão empenhados em pavimentar a estrada para as lições de moral, menos em situar as jornadas de aprendizado em contextos divertidos. Alguns desempenhos individuais sobressaem em meio a tantos talentos que ocupam brevemente a tela – as tramas são resumidas para dar conta dos conflitos resolvidos em prol dos encerramentos felizes. Lindsay Paulino está excelente como o especialista em mídias sociais no episódio Toda Errada. É um bom exemplo de como se apropriar dos termos de uma figura clichê (o fiel escudeiro, amigo ou empregado gay de uma diva/celebridade) e ainda assim ganhar destaque com poucas falas. Aliás, está aí outra recorrência pelo menos entre dois episódios: o sidekick gay, que também aparece em Batalha das Sobrancelhas. Porém, o saldo dessas interlocuções é fraco.
A segunda temporada de 5X Comédia tem episódios bem melhores do que outros. Embora nenhum deles seja mais do que “ok”, Amor em Tempo de Pet e Toda Errada – não à toa os primeiros e mais longos – são os principais, enquanto Batalha das Sobrancelhas tem seus momentos inspirados (fruto também do talento de Fabiana Karla). Por sua vez, A Vida é um Jogo e Mal me Quer são os piores dos cinco, um por não conseguir evoluir a inversão familiar para além das tiradas manifestadas do jeito peculiar de Rafael Portugal e o outro por ser uma história cheia de soluções fáceis e sacadas providenciais. Neste, a treta envolvendo Fernanda Paes Leme e Monique Alfradique se resume a uma vingança forçada cujo brilho fugaz está muito mais na performance de Flavia Reis como a coadjuvante atendente de telemarketing do que no problema do passado podendo ser vingado depois de tantos anos de frustração incubada. Falta graça à continuação dessa proposta interessante de narrativas curtas que bebem na fonte tradicional das comédias de costumes. Cada episódio é um esquete com início, meio e fim classicamente organizados, em que os aprendizados estão à frente das risadas na ordem do dia. Assim sendo, com o aspecto cômico submisso à necessidade de definir certos e errados para chegar a clímaces conciliadores e moralistas, as tramas são leves e ideais para consumo ligeiro. Não mais que isso.
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