Crítica
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Uma nave espacial gigantesca. Milhares de turistas. Um capitão no comando. E um milionário dando ordens a esmo. Este é o cenário com o qual os espectadores serão recepcionados na estreia de Avenue 5, série da HBO que está sendo exibida semanalmente no Brasil. O elenco é promissor: Hugh Laurie, que segue se esforçando para se reinventar após House (2004-2012), Josh Gad, tentando ser mais do que a voz do Olaf de Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), Zach Woods, recém-saído de Silicon Valley (2014-2019), Lenora Crichlow (que esteve em Black Mirror T02 E02, 2013) e Nikki Amuka-Bird (A Lavanderia, 2019). Mas o que realmente empolga a embarcar nessa nova jornada televisiva, mais do que qualquer outro crédito envolvido, é o do criador Armando Iannucci! Para quem não sabe, ninguém menos do que o vencedor de dois Emmys e dois Writers Guild Awards por Veep (2012-2019), além de dois Baftas, um European Film Award e um troféu da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA. Ah, e dono de uma indicação ao Oscar pelo roteiro de Conversa Truncada (2009). A entrega, ao menos nesse passo inicial, está à altura das expectativas levantadas.
Qualquer um que tenha acompanhado Veep ou assistido a filmes como A Morte de Stalin (2017) sabe o que esperar de uma produção assinada por Iannucci: diálogos precisos e incansáveis, um elenco afiado, e uma sequência quase ininterrupta de situações insanas. Nesse capítulo inaugural, a situação não tarda a se estabelecer. Um problema qualquer interrompe por instantes a atividade regular da nave. Toda a tripulação sente o impacto de forma instantânea, mas logo a ordem se reestabelece. Ou não. Afinal, houve uma vítima: aliás, a única pessoa que realmente entendia como tudo aquilo funcionava. Com a morte deste indefectível Joe, resta aos demais sobreviventes corrigir o rumo das coisas. Mas há um problema. Após o impacto, a nave desviou poucos graus do seu trajeto original. Isso, ao longo de uma quadra, provavelmente faria diferença nenhuma. No espaço sideral, no entanto, as proporções são bem diferentes. E o que se dão conta é que, das poucas semanas planejadas inicialmente, a viagem, agora, irá tomar mais de três anos para ser concluída.
O ambiente pode ser diferente dos quais Iannucci estava acostumado a transitar, mas como o foco continua nos personagens, a estranheza dura pouco. O Capitão Clark de Laurie é um tipo galanteador – a peruca com topete que o ator enverga ajuda na composição – que tem apenas um papel a representar, mas na hora do aperto é a quem os demais irão recorrer, mesmo sem saber como agir. Crichlow transmite segurança na figura problemática que desenha, e tudo indica que será melhor trabalhada no futuro. Exatamente o contrário da percepção gerada pelo tipo vivido por Josh Gad: seu Herman Judd está no limite do insuportável, e a não ser que desenvolva toques característicos que o humanizem, tem tudo para se tornar o percalço maior do programa. Por outro lado, Zach Woods surpreende, saindo do modelo rígido que tão bem construiu em atuações anteriores para se mostrar um pouco mais maleável, ainda que circule pelo mesmo espectro de registro. São construções curiosas, que despertam interesse imediato. É de se questionar que conseguirão manter essa atenção, e por quanto tempo.
Quais os rumos de Avenue 5 daqui para frente? Difícil dizer com certeza, mas é fácil imaginar que as complicações se darão com mais força entre aqueles na nave, que precisarão aprender como lidar uns com os outros, do que a respeito das implicações do incidente com suas ligações na Terra. Entre um líder que nada sabe e um ricaço mimado, as apostas recaem na técnica objetiva ou no porta-voz que está, na verdade, se lixando para o caos ao seu redor? Há muito pano para essa manga, e com os talentos envolvidos, não será nenhuma surpresa se a comédia aumentar, assim como as dimensões das tragédias pessoais e sociais. Pois se há algo que Armando Iannucci fez na maioria dos seus trabalhos anteriores é falar de assuntos sérios, porém sem deixar de lado o bom humor e uma necessária dose de ironia. Dois elementos que talvez façam bem ao universo dos passeios intergalácticos e peripécias espaciais.
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