Crítica


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Sinopse

Jamie Salter é um comediante falido que executa a voz e os movimentos (por intermédio de um manipulador remoto) de um urso de desenho animado chamado Waldo, que entrevista políticos e outras figuras de autoridade. Os entrevistados são enganados em pensar que as entrevistas de Waldo são para um programa de televisão para crianças, quando eles são realmente para um late-night talk show.

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Crítica

Com a proximidade das eleições presidenciais no Brasil, ganha ainda mais significado um episódio como The Waldo Moment. A série Black Mirror, que encontrou o ponto certo da boa ficção científica, que é fazer uma crítica aos problemas do presente valendo-se de uma atmosfera futurística, apresentou uma de suas histórias mais humanas em sua segunda temporada. O ator Daniel Rigby é Jamie, humorista que já viveu seus tempos de glória e agora sobrevive de dar voz e manipular Waldo, um urso azul que faz participações num programa de TV do tipo talkshow. Para garantir as piadas no período eleitoral, Waldo “entrevista” em seu quadro Liam Monroe (Tobias Menzies), candidato ao parlamento britânico pelo Partido Conservador. Os ataques do urso são revidados e o feitiço se volta contra o feiticeiro: Waldo se candidata e passa de atração de TV a ídolo das multidões.

Só por apresentar um personagem como candidato a um cargo público, The Waldo Moment já seria uma grande história. Mas como é de praxe em Black Mirror, há sempre mais que apenas um bom roteiro. Jamie, o criador de Waldo, se envolve com Gwendolyn Harris (Chloe Pirrie), a candidata do Partido Trabalhista. É uma paixão bem avassaladora, pelo menos da parte de Jamie, mas pouco explorada dentro do episódio. O ponto mais utilizado é como esse envolvimento afeta Jamie na hora de assumir o controle de Waldo. Tanto Rigby quanto Pirrie conseguem conquistar os espectadores, em especial ela que, apesar de aparecer pouco, interpreta uma jovem mulher obstinada construindo uma carreira. Jamie, em contraponto, tem aflorado por ela um lado mais idealista, justamente o que faz com que Waldo perca sua popularidade.

A crítica à mídia, capaz de tornar um urso de animação um possível salvador da pátria, é abordada de forma sutil. Waldo, para a emissora na qual trabalha, é um ponto extra no ibope, vendido como uma nova política baseada no ataque e sem alguma mudança cabível entre suas “propostas”. Numa realidade como a nossa, que pode parecer mais próxima do ambiente Black Mirror do que parece, fica a comparação com personagens de novelas e até apresentadores de TV que assumem a figura de esperança para tornar o mundo melhor. É uma forma de acentuar ainda mais o descaso de parte da população com a discussão política, apelando para uma suposta revolução que muitas vezes inclui armas de verdade.

The Waldo Moment, apesar de ter momentos aparentemente divertidos, é uma história desoladora sobre um artista que queria fazer humor e acaba envolvido em algo muito maior e, porque não dizer, malvado. Faz pensar sobre os ditos votos de protesto, valorizados por muitos, e também sobre até que ponto se deve levar um personagem. Jamie diz no início do episódio que as pessoas não gostam dele, mas sim de Waldo. No fim, essa crise existencial se esvai e o olhar da câmera se volta à disputa política. Não que isso seja ruim, de modo algum. Mas, mais uma camada poderia ser acrescentada se essa questão também estivesse em jogo no roteiro. Fica a ideia para um possível The Waldo Moment 2. Afinal, quase tudo é possível em Black Mirror.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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