Crítica


9

Leitores


Sinopse

O episódio envolve um assassino misterioso, e segue a detetive Karin Parke e sua nova parceira Blue Coulson. Com o auxílio do agente da Agência Nacional de Crime Shaun Li, tentam resolver as inexplicáveis mortes de pessoas que foram alvo de críticas nas mídias sociais.

Black Mirror


Black Mirror :: T06


Black Mirror :: T05


Black Mirror :: T04


Black Mirror :: T03


Black Mirror :: T02


Black Mirror :: T01


Crítica

Ataques de animais, reais ou fictícios, já renderam bons momentos ao cinema e os mais atentos sabem que, no fundo, sempre há uma intenção que vai além de mostrar a revolta da natureza contra o homem. Godzilla era uma metáfora da bomba atômica em sua versão original japonesa, lançada em 1954, e um dos grandes trabalhos do diretor Alfred Hitchcock tem inúmeras camadas de interpretação apesar do título simples: Os Pássaros (1963). Pois é justamente nesse clássico assustador que o sexto episódio da terceira temporada de Black Mirror foi buscar inspiração.

O diretor James Hawes apresenta uma Londres futurista onde uma investigadora da polícia, a agente Karin Parke (Kelly Macdonald), e sua parceira aprendiz Blue Colson (Faye Marsay) são recrutadas para investigar o caso da colunista Jo Powers (Elizabeth Berrington), que aparece morta em sua casa, com requintes de crueldade, após ser vítima de inúmeros ataques nas redes sociais por conta de um artigo controverso. Quem fala o que quer, ouve o que não quer, diriam os adeptos dos ditados populares. Mas logo uma informação importante muda o rumo da investigação e também o de todos que gastam seus tempos preciosos criticando na internet. Jo Powers não foi assassinada. Pelo menos não da maneira convencional, já que na sequência de sua morte um rapper que foi rude com uma criança acaba tendo o mesmo fim. Nessa primeira parte, Hawes consegue manter o elenco afinado e o clima de suspense em boas doses. Apesar de não se encaixar no gênero comédia, o episódio diverte o público com as inúmeras pistas e jogos de tentativa e erro de Parke e sua turma em busca de respostas. Só que esse é apenas o prato de entrada. A principal refeição ainda não foi servida.

Ao descobrir que as responsáveis pelas mortes são abelhas-drone criadas pelo governo para promover a reprodução de flores, que já não acontece de maneira natural, o primeiro inimigo se apresenta. Pequenas máquinas repletas de tecnologia que ajudavam a flora agora estão na mira da polícia por serem comandadas por alguém fora do sistema oficial. A ansiedade do público é muito bem trabalhada e poucos sairão decepcionados. Mas até o encontro do comandante do exército de abelhas biônicas, o espectador irá desfrutar de uma homenagem criativa a Os Pássaros. A nuvem de abelhas indo em direção a casa onde está escondida a próxima vítima tem a mesma tensão que Hitchcock imprimiu em seus passarinhos nada amigáveis.

Ao lado das abelhas, que assumem um protagonismo do meio para o final de Hated in the Nation, a dupla central do episódio, interpretada por Kelly Macdonald e Faye Marsay, consegue cumprir a função de fio condutor da história e também dar o seu recado, pois não é todo dia que personagens femininas são mostradas assumindo cargos tradicionalmente masculinos sem uma ou outra piada ou questionamento sobre seu trabalho. O ponto feminista fica por conta do roteirista, Charlie Brooker, que não se rendeu aos clichês e criou duas mulheres competentes e dispostas a tudo para executar seus trabalhos da melhor forma possível. Se Black Mirror é ficção futurista, fica a esperança de que um dia esse tratamento faça parte do cotidiano e mulheres não precisem justificar suas posições o tempo todo pelo simples fato de serem mulheres. Seria um avanço mais impressionante que abelhas-drone.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
avatar

Últimos artigos deBianca Zasso (Ver Tudo)

Grade crítica