Crítica


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Sinopse

Bella e seus parceiros fazem parte de uma resistência num cenário pós-apocalíptico. Juntos, tentam fugir de cachorros robóticos após um colapso inexplicável da sociedade humana.

Black Mirror


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Crítica

Há muito de cinema em Black Mirror. Não apenas pelos episódios funcionarem como médias-metragens independentes, mas também por haver neles uma preocupação com estilo. Só que Metalhead está um passo à frente. O cenário pós-apocalíptico, reforçado pela fotografia em preto e branco bastante contrastada, surge sem grandes explicações diante dos olhos dos espectadores. De humano no meio do nada, apenas três pessoas dentro de um carro quase aos pedaços. Bella, Tony e Clarke, interpretados por Maxine Peake, Clint Dyer e Jake Davies, estão em busca de um objeto que torne o final da vida de alguém chamado Jack um pouco menos dolorosa. Ao invadir um depósito em busca da caixa que contém o dito objeto, o trio é atacado por uma espécie de cachorro-robô que lança estilhaços que penetram na pele e se tornam localizadores.

Como única sobrevivente do ataque da tal máquina, Bella precisa se livrar dos rastreadores e o faz numa cena que já é um clássico do cinema de ação. Quantos cowboys retiraram balas do próprio corpo com ajuda de faca e uísque? Estamos no futuro, mas certas coisas continuam iguais. E é a partir desse desafio de cortar a própria pele que Bella torna-se a protagonista solitária de Metalhead. Seu teste de paciência, quando ela vai gastando a bateria do vilão para poder descer de uma árvore em segurança, faz lembrar Ellen Ripley e seu jogo com o xenomorfo em Alien: O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott. A trajetória de Bella para sobreviver é silenciosa e se torna angustiante após ela conseguir se esconder numa casa. Diante dos esqueletos dos antigos moradores do local, parece surgir em Bella uma força ainda maior do que ela já havia demonstrado no início da jornada.

Maxine Peake é a alma de Metalhead. Sua atuação sem maneirismos constrói uma personagem simpática ao público desde a primeira aparição. Torcemos por Bella mesmo sem saber exatamente qual seu objetivo e para quem são destinadas suas declarações de amor no walkie-talkie. Não sabemos se há alguém do outro lado da linha. Ela tem uma tarefa e está disposta a cumpri-la, mas deparar-se com a morte lhe dá força extra, explícita no duelo final com o cachorro-robô. A tecnologia pode ser de ponta, mas é com a boa e velha espingarda que Bella encara o monstro feito de metal e chips. Um bang-bang em Black Mirror, sujo e em preto e branco, como seria do agrado de nomes como John Ford e Howard Hawks.

O tal cachorro-robô, que mais parece uma barata atômica, foi inspirado no protótipo robótico de uma empresa de Boston, que pode se tornar uma realidade em nossas rotinas num futuro próximo. Oremos para que eles não tomem conta do mundo quando chegarmos ao limite e não houver nem Netflix, nem Black Mirror para nos entreter. Apenas a nossa imaginação.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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