Crítica


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Sinopse

Castle Rock é uma cidade fictícia localizada em Maine, nos Estados Unidos. Lá, passado e presente se cruzam através das histórias de terror vividas e sentidas por seus moradores. Nesta estranha localidade, todo o universo de Stephen King se encontra.

Crítica

As qualidades de Castle Rock estão longe de serem restritas aos enigmas, aos questionamentos que se avolumaram consideravelmente nos primeiros episódios. A competência da construção da atmosfera de tensão é grande parte responsável pelo êxito da série. Todavia, é inegável que a curiosidade acerca da natureza de determinados personagens sempre foi devidamente alimentada, se tornando um dos fundamentos do conjunto. Isso especialmente se aplica ao prisioneiro misterioso (Bill Skarsgård). E Henry Deaver, a nona parte da primeira temporada, dá um passo gigantesco para compreendermos essa figura enigmática. É surpreendente a sua essência e origem, deflagradas numa espécie de realidade paralela em que certas pessoas desempenham funções diferentes das quais estamos acostumados. Vemos ele numa vida normal, interagindo com gente querida e, adiante, voltando à terra natal por conta de uma tragédia. Mas, Henry Deaver (Caleel Harris) o acha.

Na medida em que o enredo avança, com conexões inusitadas, o ponto de interrogação cresce. Sem explicar o que possibilita a interação de versões diversas de um mesmo alguém, por exemplo, os criadores dão um passo e tanto, corajoso por virar a história a uma direção completamente nova, mas que pode causar estranhamento demasiado. Há aprofundamento considerável na questão da suposta comunicação com Deus através de um som somente audível por escolhidos que, então, são atormentados pela tarefa de estabelecer a ponte com a instância superior. O espelhamento entre encarcerados em nome de algo maior garante um embaralhar mais denso, o que deve ser desbaratado na fração derradeira – esperamos, pelo bem do todo. A aposta aqui é integralmente na quebra de expectativas, com a colocação da circunstância inesperada que promove um entrelaçamento íntimo entre Henry e o prisioneiro misterioso. O novo terá pouco tempo para se desenvolver.

Ao contrário de outros episódios, em que coadjuvantes são fundamentais, Henry Deaver se apoia nas costas do personagem de Bill Skarsgård. A força vem do contraste com tudo o que vimos até então. Antes, um homem acabrunhado, de poucas palavras, sobre o qual repousavam inevitavelmente dúvidas quanto à possível filiação com o maligno. Agora, um cientista de ótima reputação, cuja ligação com Castle Rock e, por conseguinte, com os moradores assolados por conjunturas terríficas, passa por outra camada do extraordinário. Embolou o meio-campo. Para conseguir analisar com propriedade o impacto dessa guinada abrupta, será necessário esperar pelo complemento, ou seja, o fim da temporada. Pois, se evitar amarrar todas as pontas soltas, caso não destrinche com propriedade até mesmo esse plot twist que ressignifica muito, a reviravolta não passará de um expediente canhestro para ajeitar as coisas forçosamente. Mas, também pode ser uma jogada e tanto.

Prestes a termos completo o arco da primeira temporada, várias perguntas ainda carecem de respostas satisfatórias. Henry Deaver aparentemente se afasta do macabro, do horror, para oferecer soluções, não menos assombrosas, mas de outro caráter (será?). Castle Rock ganha ao enredar as idiossincrasias dos habitantes da cidadezinha do Maine, aproximando-as por força de uma influência que paira sobre o local. Perde potência dramática ao se contentar em encaminhar explicações, assim preterindo individualidades em função da estrutura, das intrigas que amealham os peões do jogo. Deus e o Diabo parecem conviver naquela localidade marcada constantemente por atrocidades, toda sorte de episódios sem explicação racional ou algo que o valha. Resta esperar para saber como os responsáveis criativos darão conta de, satisfatoriamente, costurar os retalhos tão bem trabalhados anteriormente, sem deixar a impressão de uma peça mal cerzida ou destituída da pungência exibida até a charada imperar.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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