Crítica


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Sinopse

Ainda no Egito para tentar impedir que Arthur ressuscite a deusa Ammit, Steven se envolve gradativamente com Layla, a ex-esposa de sua outra personalidade, Marc. E isso gera um conflito entre os dois homens que habitam um.

Crítica

Com a crescente expansão do Universo Cinematográfico Marvel, é sabido que os personagens de maior destaque – Homem de Ferro, Capitão América, Thor – já foram aproveitados (em alguns casos, à exaustão). Se faz necessária, portanto, uma renovação constante, não só reabilitando velhos conhecidos (Homem-Aranha, Hulk) como também apresentando novos nomes (Guardiões da Galáxia, Eternos). É como parte desse movimento que surge o Cavaleiro da Lua, personagem-título da minissérie que, pela primeira vez, introduziu uma figura não vista antes na tela grande (ao contrário de Wanda Maximoff, Soldado Invernal, Gavião Arqueiro ou Loki, por exemplo). Porém, se o programa dividido em seis episódios tinha como objetivo colocar à disposição um tipo capaz de interagir com heróis familiares por aventuras anteriores, o resultado foi, no mínimo, controverso. Afinal, pelo visto em Deuses e Monstros, o capítulo final dessa temporada, o protagonista não apenas virou coadjuvante de sua própria história, como também acabou se mostrando tão fragmentado que torna difícil vê-lo como um tipo capaz de atuar ao lado de outros, digamos, mais confiáveis.

O vilão de Cavaleiro da Lua é Arthur Harrow (Ethan Hawke, no piloto automático), cujo objetivo lembra aquele melhor explorado na ficção científica Minority Report: A Nova Lei (2002), dirigida por Steven Spielberg a partir de um conto de Philip K. Dick: deseja acabar com criminosos antes mesmo desses cometerem seus crimes. Quem o possibilitaria tal conhecimento não seria uma tecnologia avançada, como no sucesso estrelado por Tom Cruise, mas a união com uma poderosa deusa egípcia, Ammit. Basicamente o que o Cavaleiro da Lua precisou fazer ao longo de toda essa (curta) caminhada foi impedir que seu oponente fosse bem-sucedido nesse intento – e ele fracassa vergonhosamente. Assim, restará à Khonshu (voz do oscarizado F. Murray Abraham) fazer frente a essa poderosa inimiga (e antiga colega). Enquanto uma jacaré gigante tenta derrotar o esqueleto de pássaro dono de um cajado luminoso, aos humanos envolvidos na questão restará apenas descobrir como sairão da enrascada na qual eles próprios se colocaram.

Sim, pois no melhor estilo Quarteto Fantástico, as duas personalidades que habitam o avatar escolhido por Khonshu – Marc e Steven, ambos vividos por Oscar Isaac – se juntarão à batalha agindo de modo independente (um com capa e capuz, o outro de terno e bons modos). Para completar, Layla (May Calamawy, de Ramy, 2019-2020), ex-mulher de Marc, também irá ganhar super-poderes, não sem antes deixar claro seu empoderamento: se recusa a ceder ao canto da sereia de Khonshu, ao mesmo tempo em que declara, com orgulho, “ser uma super-heroína egípcia”. Se, principalmente nos dois episódios anteriores, Cavaleiro da Lua foi acusado de ter muito discurso pra disfarçar os poucos acontecimentos de sua narrativa, dessa vez o diretor Mohamed Diab tratou de deixar a lógica de lado e jogar para torcida, colocando em cena a maior quantidade de enfrentamentos possíveis, muitos deles correndo de modo simultâneo, sem que seus resultados adquirissem efeitos práticos consideráveis.

Com uma cena pós-crédito que se encarrega, basicamente, em oferecer um destino esperado a um personagem que se mostrou aquém das expectativas, ao mesmo tempo em que apresenta explicações desnecessárias a algo que havia ficado evidente, Cavaleiro da Lua chega ao fim de sua jornada se colocando à disposição para novas aparições, porém sem muito ânimo para voltar ao batente com rapidez. Seus poderes são genéricos, na melhor das hipóteses, e mesmo o recurso das elipses temporais, bem empregadas nos primeiros capítulos para evitar uma violência exagerada, agora retornam como muletas incômodas, que surgem apenas para retirar o herói de becos sem saída evitando maiores malabarismos no roteiro. Oscar Isaac havia tido uma péssima experiência com a Marvel em X-Men: Apocalipse (2016), e mais uma vez se mostra desconfortável no meio de tanta interferência digital de pós-produção – ele é muito melhor de cara limpa, nas discussões entre Marc e Steve. Se o programa fosse apenas sobre os dois e essa personalidade dividida, com certeza o resultado teria sido bem mais interessante.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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