Crítica


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Sinopse

Após três anos num hospital psiquiátrico, Erik decide visitar a antiga cabana da família com seus dois irmãos, pela última vez, antes que a mesma seja vendida.

Crítica

O segundo episódio da antologia norueguesa Coletivo Terror tem como protagonista um sujeito que acaba de ganhar alta da internação por três anos num hospital psiquiátrico. O motivo é desconhecido pelo espectador. Erik (Erlend Rødal Vikhagen) é recebido pela mãe e logo recebe a visita dos dois irmãos. Com estes, após relutar brevemente, resolve visitar a antiga cabana do pai, um espaço repleto de memórias da sua infância, a fim de despedir-se dessa fase que precisa deixar para trás. O realizador Atle Knudsen demonstra comodismo ao não construir uma camada subterrânea que, adiante, seria muito importante para o clímax desse pequeno conto. O que vemos é uma breve e pontual reunião familiar, com consanguíneos excitados pelo retorno do caçula à convivência de todos, e, adiante, a adesão de uma caroneira para a última festa no chalé à venda.   

Em Três Irmãos Loucos, parece que basta aos criadores dizer que o protagonista foi acometido por uma patologia de ordem psiquiátrica para pretensamente acender o sinal de alerta quanto à autenticidade dos acontecimentos. Afora esse lugar-comum, inexiste algo que inspire desconfiança, tampouco indícios de que a "realidade" destoa sensivelmente do panorama efetivo. Pode-se dizer que Atle Knudsen toma um caminho simplório, que lhe poupa bastante tempo e esforço. Para ele é suficiente desenhar uma história perfeitamente crível e, quase no apagar das luzes, contradizer tudo como um famigerado clipe que apresenta a verdade por trás de certas ocorrências vitais. É um expediente preguiçoso. Se trata meramente de puxar o nosso tapete.

Três Irmãos Loucos exibe uma dinâmica fraternal, quando muito, estranha. Georg (Harald Thompson Rosenstrøm), o primogênito, parece ser aquele que comanda os demais. Otto (Benjamin Hestald), o irmão do meio, de comportamento absolutamente histriônico – sempre falando alto, exagerando nos gestos, fazendo brincadeiras fora do tempo, é o protótipo do irascível. Todavia, é por meio do comportamento de Monika (Mette Spjelkavik Enoksen) que a fragilidade do estratagema desse episódio fica evidente. Ela exibe uma subjetividade mais destacável, fazendo perguntas perspicazes, inclusive lançando luz sobre uma possível tensão entre os três e o pai, figura constantemente mencionada entre olhares que denotam algo mal resolvido, desconforto tangente à dinâmica doméstica. A autonomia dela depõe contra a ilusão que eclipsa o real.

O segundo episódio de Coletivo Terror é ineficiente pela maneira como alimenta uma trama tensa, inclinada ao horror violento, para depois desdizê-la com um movimento banal. Nesse deslocamento de perspectivas, entre o genuíno e o construído pela mente perturbada, – mas Erik não tinha ganhado alta por, supostamente, estar curado da provável esquizofrenia? –, ficam faltando elementos de conexão, que estabeleçam diálogo efetivo entre dimensões. Dessa forma, se desmentem deslavadamente, deixando como herança ao espectador a sensação de que foi deslavadamente enganado, não instigado a participar de modo ativo da construção de algo fundamentado num questionamento apropriadamente engenhoso quanto à precisão das aparências.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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