Crítica


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Sinopse

Em meio a uma festa maluca no escritório, com direito a fantasias, dois novos funcionários resolvem investigar os rumores sobre um colega que teria pulado do telhado.

Crítica

O episódio de encerramento da antologia norueguesa Coletivo Terror, intitulado O Elefante na Sala, requenta uma série de procedimentos viciosos e corriqueiros que permeiam as frações anteriores. Do antecessor imediato, há o direcionamento esquemático das atenções para longe da verdade e a ressignificação dos atos dos personagens principais, adiante tidos como crueldades involuntárias. Tudo acontece na festa da empresa marcada por um acontecimento ao qual ninguém quer fazer alusão, especialmente nessa ocasião de celebração. Dois novatos encasquetam com o mistério, o tal “elefante na sala”, e se arvoram a investigar enquanto tantos se divertem. A forma como o realizador desvia o foco é desajeitada, com direito à “preleção” da esposa do funcionário que fica inconveniente sempre que bebe e o fato dele não tirar a fantasia na pista.

Aliás, outra muleta enorme de Coletivo Terror é a conveniência dos episódios focados em personagens que acabaram de chegar a um novo local de moradia e/ou de trabalho. Uma vez que essas pessoas precisam ser contextualizadas, os roteiristas aproveitam para enxertar as tramas de diálogos meramente expositivos, característica frequente. Em O Elefante na Sala isso não é diferente, pelo contrário, pois a dupla de “ratos” que debate a pretensa culpa do homem fantasiado de paquiderme – numa relação um tanto óbvia demais com a crendice do animal enorme ter medo dos roedores – vai colhendo depoimentos artificialmente, montando assim o quebra-cabeça. Quer dizer que, a despeito da lei da mordaça, aos dois calouros os colegas desconhecidos se abrem, falando de circunstâncias que levaram alguém a acidentar-se gravemente? Forçado.

Uma vez compreendido o modus operandi da série, sobretudo os cacoetes que enfraquecem o potencial macabro, não é difícil antever os desdobramentos dessa história que, sequer, aproveita a contento o clima permitido pelos figurinos e pela direção e arte. Sim, pois se há acertos em O Elefante na Sala são as fantasias bizarras e a relação que tal elemento estabelece com o cenário, um salão meio obscuro, banhado por luzes que acentuam tons quase lúgubres. Todavia, infelizmente, esse esmero não é proporcional aos esforços do roteiro e da dramaturgia, verdadeiros pontos cegos na construção de uma trama que caminha a passos largos até a elementar banalidade. O do ônibus que alinhava todos os episódios é somente uma imagem de efeito, sem explicações, sendo, no fim das contas, uma ponte bastante precária entre as partes correlacionadas pelos erros.

Mais do que constantes temáticas e/ou estilísticas, os pontos de atração dos episódios de Coletivo Terror são as debilidades, tanto as conceituais quanto as de execução. Desse modo, O Elefante na Sala é um encerramento ideal, principalmente porque, uma vez carregando estas engrenagens corriqueiras – novatos descobrindo tudo facilmente; diálogos expositivos; subversão de expectativas; plot twist redesenhando a história –, encaradas como disfunções por conta das más utilizações, ele deixa o conjunto bem exposto. Levando em consideração o fato da série ser norueguesa, faltam elementos intrínsecos à cultura e às demais configurações locais, sobrando delineamentos que apontam a uma homogeneização decepcionante. Culpa da globalização? Pode ser. Mas esse é apenas um dos vários indícios de que a antologia possui pouca personalidade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.