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Sinopse

A batalha em Winterfell passou. Os mortos são enterrados, e os vivos se preparam para confrontar Cersei. Daenerys precisa lidar com as últimas descobertas sobre sua família, ao mesmo tempo em que os Lannister terão que decidir entre a camaradagem e a fúria descontrolada.

Crítica

Depois de dois episódios iniciais que serviram apenas como preparação para o viria depois e um terceiro que muito prometeu e pouco entregou, finalmente a oitava temporada de Game of Thrones disse a que veio com The Last of the Starks, o quarto capítulo. Ainda que, estrategicamente, tenha sido fácil esse se posicionar como o melhor segmento até agora – afinal, após a decepção que foi The Long Night (T08E03), as expectativas obviamente haviam diminuído – não se pode descartar o mérito dos realizadores, que enfim colocaram em uso aquilo de melhor que a série usufruiu nos sete anos anteriores: personagens que apostam no carisma de seus intérpretes, efeitos grandiosos, alternância entre sequências de ação com outras de aprofundamento narrativo e diálogos afiados que servem tanto para desvendar os acontecimentos como para antecipar futuros desdobramentos.

A Batalha de Winterfell terminou, e o Rei da Noite é passado. Os nortistas enterraram seus mortos – dezenas se foram, entre eles Jorah Mormont (Iain Glen), Theon Greyjoy (Alfie Allen) e Lyanna Mormont (Bella Ramsey) – e é chegado o momento de celebrar os que sobreviveram. Em uma sequência em que os olhares falaram com maior eloquência dos que os discursos empolados, ao mesmo tempo em que o bastardo do falecido rei, Gendry (Joe Dempsie) teve seu direito de nascença reconhecido (e uma paixão renegada), o trio de protagonistas – Sansa (Sophie Turner), Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys (Emilia Clarke) – se mostrava em plenos espinhos. Ele, principalmente, por estar entre a irmã e a amada. Ao mesmo tempo em que jurava lealdada à família – e, nessa conta, Arya (Maisie Williams) e Bran (Isaac Hempstead Wright) também eram levados em consideração – tentava remediar as coisas com a senhora dos dragões, cada vez mais ciente que é seu futuro como rainha dos sete reinos que está na balança. Com a verdade revelada de que Jon é, de fato, um Targaryen – e, portanto, o verdadeiro herdeiro do trono – por mais quanto tempo aquela que acreditava ser a prometida conseguirá manter em alta sua determinação?

No encontro entre os quatro Stark, Jon chega a hesitar, mas não demora a deixar claro para onde pende sua lealdade. Cada vez mais no centro da ação, ele é o último dos Stark, como afirma o título – ou seria o primeiro dos Targaryen, como muitos anseiam? As intrigas pelos bastidores ganham ainda mais relevância quando o público é convidado a acompanhar os debates – e as possibilidades levantadas – pelos dois maiores conselheiros da rainha, Tyrion (Peter Dinklage) e lorde Varys (Conleth Hill). O primeiro, por mais que reconheça o óbvio, tenta a todo custo evitar o destino que se aproxima, enquanto que o segundo é o que se mostra mais fiel ao verdadeiro espírito do personagem – é a Aranha em ação, sempre em busca de informações precisas e pronto para dançar conforme a música, seja ela qual for.

E se o aguardado enlace entre Brienne (Gwendoline Christie) e Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) soa tão desajeitado quanto passageiro – os dois funcionam melhor no campo de batalha do que na cama – ao menos lhes é oferecido um desfecho de verdadeira comoção. Este, aliás, é um dos tantos momentos em que os atores aproveitam para baixar a espada e explorar com mais afinco os conflitos emocionais dispostos em seus caminhos. Como Arya, que renega um pedido tão impulsivo quanto sincero, ou a troca de promessas entre Jon e Daenerys, tão doloridas quanto fugazes. Nada, no entanto, que prepare para os momentos protagonizados pelos irmãos Lannister. Ver Jaime e Tyrion rindo entre bebidas e toques de camaradagem foi bonito, assim como perturbador é o que melhor descreve este último tendo que se colocar mais uma frente a Cersei (Lena Headey), numa súplica não inútil, mas de pouco efeito prático.

No meio de tudo isso, o diretor David Nutter (vencedor do Emmy por Mother’s Mercy GoT T05 E10, 2015) acha ainda espaço para dilacerar o coração da audiência com outras partidas inesperadas (mais um dragão, sério?) e um ataque inesperado que revela bem o poder de fogo da grande vilã da série. Se por muito tempo se temeu a chegada do inverno, agora, nos instantes finais, se confirma que o verdadeiro perigo está no sul, sob o comando de uma rainha disposta a tudo para se manter acima dos demais – mesmo não dispondo dos elefantes que lhe foram prometidos, que fique claro. Daenerys pode ter mais fogo em si do que suas bestas aladas, Sansa até se imagina segura num não tão distante norte, e Arya deixou claro ser nenhuma dama, mas é Cersei aquela que deverá dar o último golpe. O cenário está montado, com todas as peças nos seus devidos lugares. É o trovão que antecede a tempestade. Agora, resta apenas torcer para que se chegue vivo ao momento da bonança – se é que ainda é possível nela acreditar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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