Crítica


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Sinopse

Dominick tem um relacionamento conturbado com seu gêmeo que sofre de esquizofrenia. Aceitando que simplesmente não é possível abandonar a quem se ama, vai tentar tirar o irmão de uma instituição psiquiátrica.

Crítica

Num olhar apressado, I Know This Much Is True parece ser a realização do sonho de qualquer artista interessado em ir além dos seus limites. Caso que parece ressoar com vontade na personalidade de Mark Ruffalo, uma das figuras mais interessantes da Hollywood atual. Afinal, trata-se de uma história familiar com tintas trágicas, o que já atiça o potencial dramático da narrativa. Depois, ele tem a oportunidade de interpretar os gêmeos Dominick e Thomas, pessoas diferentes não apenas fisicamente, mas de personalidades também bastante distintas. Criada e desenvolvida por Derek Cianfrance e adaptada do romance homônimo de Wally Lamb, a minissérie de seis episódios começa deixando claro a que veio, revelando o relacionamento problemático da família Birdsey e o quão difícil é a dinâmica entre os dois irmãos. Por outro lado, é eficiente também em apontar caminhos que deverão ser melhor explorados nos capítulos seguintes. Ou seja, trata-se de um início tenso, mas exatamente como a proposta exigia.

Além da problemática entre Dominick e Thomas, com o primeiro assumindo uma função paternal junto ao segundo, o drama deles tem ainda muito a oferecer. Para começar, e talvez mais grave, seja a partida da mãe, interpretada pela ótima Melissa Leo, mas aqui reduzida ao papel da mulher doente que sabe que vai morrer em breve. Nesse episódio de estreia, o melhor momento dela é a conversa antes de dormir que tem com um dos filhos, que a confronta a respeito da posição do padrasto – entende-se que o pai natural os abandonou há muito tempo – naquela família, pois ele busca criar os enteados com rigidez e sem muitos afetos, acreditando que assim “os fará homens de verdade”. Ela sabe que precisa do novo marido para conseguir sustentar a casa, e por isso faz vista grossa sobre à falta de carinho e à forma severa com que ele se impõe diante das crianças. Dessa fase, até o crescimento de ambos, que hoje se apresentam como adultos, muito deverá ter se passado entre os quatro.

Ruffalo despontou no cinema independente, tendo chamado atenção pela primeira vez em Conte Comigo (2000), pelo qual foi indicado ao Independent Spirit Award. De lá pra cá, acumulou três indicações ao Oscar, ao mesmo tempo em que se tornou popular no mundo inteiro como o Dr. Bruce Banner – alter ego do Invencível Hulk – no Universo Cinematográfico Marvel. Em toda a sua carreira, teve apenas dois trabalhos de destaque na televisão. Primeiro, na série policial The Beat (2000), que durou apenas uma temporada. Depois, com resultado muito superior, no telefilme The Normal Heart (2014), que lhe rendeu indicações ao Emmy e ao Globo de Ouro e uma vitória no Screen Actors Guild Awards. Se os capítulos seguintes dessa sua nova investida pela telinha seguiram as expectativas levantadas pelo piloto, é provável que alcance resultados mais próximos dos seus trabalhos recentes, deixando, definitivamente, para trás a antiga experiência em seriados.

Tudo indica que I Know This Much Is True tem tudo para ser uma volta em grande estilo, mais de acordo com o atual status do ator na meca do cinema. Afinal, Dominick e Thomas não são apenas desiguais: eles são opostos. O primeiro é um homem em forma e de cavanhaque. O segundo, está obeso e começando a ficar careca. Tudo poderia ser resumido a uma rápida caracterização se, para piorar, um deles não sofresse de esquizofrenia. E como o programa deverá se concentrar, basicamente, no relacionamento deles, essas duas versões de um mesmo intérprete estão em cena na maior parte do tempo. Representando uma óbvia dificuldade logística, mas, evidentemente, um desafio ainda maior para o astro. Thomas depende do irmão para tudo, e ao tomar uma atitude drástica logo no começo da trama – decide se aplicar um ‘sacrifício religioso’, como explica, cortando a própria mão direita – acaba internado em um sanatório. Tirar o outro desse lugar e cuidar dele se tornará prioridade na vida de Dominick.

Há uma outra subtrama que é apenas tangenciada nessa estreia que diz respeito à personagem de Juliette Lewis. Há um manuscrito em italiano que estava há gerações na família Birdsey. Dominick vai até ela, que trabalha como tradutora, para que o traduza e o transcreva para o inglês. No entanto, os dois acabam se aproximando – mais por insistência dela – e como, ao menos num primeiro momento, as coisas são se desenvolvem bem entre eles, ela simplesmente desaparece – e levando consigo o documento. É de se imaginar que esse ‘roubo’ deverá ter repercussões adiante. Nesse momento, no entanto, é introduzido quase como um ruído, pois as atenções estão, de fato, nos irmãos Dominick e Thomas. É por eles que I Know This Much is True mostra seu valor nesse começo de sua caminhada, seja pela destreza técnica, como, principalmente, pela performance do protagonista, que encontra aqui palco perfeito para fazer uso de todo o seu talento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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