Crítica


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Sinopse

Marisol veio com a mãe e o irmão para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Porém, se as expectativas parecem diminuir a cada dia, uma chance lhe surge quando um instrutor de squash decide apostar no seu talento esportivo!

Crítica

Ao contrário de O Gerente, episódio de estreia de Little America, este capítulo seguinte, apropriadamente chamado de A Onça, se revela mais instigante desde o nome escolhido como batismo. Afinal, no anterior estava tudo explícito desde o começo, sem maiores mistérios a serem revelados além de um conflito pontual que, após ter se arrastado por mais tempo do que o devido, acaba alcançando de modo tranquilo o seu mais do que esperado desfecho. Dessa vez, por outro lado, as apostas – e os riscos – são de outra natureza. E, talvez por isso mesmo, despertem uma curiosidade – e uma emoção – que tanto fez falta na incursão de estreia. Ainda há deslizes, soluções fáceis e alguns perigos narrativos a serem evitados. Mas o exemplo se mostra mais presente. Justamente o que acaba por fazer a diferença.

Marisol (Jearnest Corchado, vista em séries como Os Fosters, 2015, e Lista Negra, 2018) deixou a América Latina, ao lado da mãe e do irmão, em busca de melhores condições de vida nos Estados Unidos. Nisso, sua vida em nada tem de diferente da de milhares de outras garotas que pensaram exatamente como ela e os seus. A matriarca mal sabe falar inglês e trabalha como faxineira, muitas vezes levando a filha para lhe ajudar. O garoto chega a se dedicar por dez, doze, catorze horas por dia em subempregos e serviços de última hora. Tudo isso para que a caçula possa seguir estudando. Porém, uma vez ilegal no país, como conseguirá aplicar para uma bolsa em uma universidade, por exemplo? De que vale tanto esforço – viver em um lugar apertado, acordar muito cedo, passar horas por dia em transportes públicos – se, lá adiante, todas as portas estarão fechadas?

Bom, nem sempre é assim – ou, ao menos, não deve ser para aqueles que se mantiverem alertas. Como Marisol, que percebe o anúncio no mural de avisos do colégio oferecendo aulas gratuitas de squash. Ela vai atrás em busca de um par de tênis novos – material para a prática do esporte também é ofertado. Mas, uma vez lá, descobrirá um potencial até então insuspeito. A onça, aquela que há dentro dela, será despertada. E uma vez ciente de quem é e do que pode vir a ser, não será qualquer pedra no caminho que irá demovê-la de um novo objetivo a ser conquistado. Neste ponto, ao intercalar acesso a tantas e diversas facetas de uma mesma personagem, indo da adolescente estourada à esportista dedicada, passando pela filha colaborativa e irmã participativa, Corchado se revela um talento desconhecido, mas pronto para desafios maiores do que o que aqui é apresentado.

Outro que também se sai bem em cena é o veterano John Ortiz (sabe aquele ator que você tem certeza que já viu, só não lembra onde? Pois bem, esse aqui tem mais de 60 créditos na filmografia, a maioria como coadjuvante. Entre seus últimos filmes estão Entre Realidades, 2020, Ad Astra: Rumo às Estrelas, 2019, e Bumblebee, 2018). Ele surge como o treinador, o primeiro a perceber o potencial da menina, e o que nunca desiste, nem mesmo quando a própria se vê sem condições de continuar. Sua postura irascível, firme em seu propósito, é sólida o suficiente para justificar a grande mudança que aquilo que era para ser um hobbie acaba provocando na vida da jovem. Mais uma vez, Little America coloca em evidência uma história de transformação da carente à bem-sucedida economicamente, mas, ao menos dessa vez, com mais emoção e sem finais felizes dos mais óbvios.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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