Crítica


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Sinopse

Com a ida de Manny para a faculdade, Jay e Gloria estão mais uma vez sozinhos em casa - ou quase isso, pois Joe não os deixará descansar. Haley começou a namorar um homem muito mais inteligente do que ela - justamente o professor de Alex, e por quem essa está apaixonada! Claire está decidida a mostrar ao pai que ele fez a escolha certa ao colocá-la no comando da empresa da família, e por isso começa a perceber que está na hora de modernizar as coisas no trabalho. Enquanto isso, Mitchell e Cam precisarão aprender a conviver com a irmã dele - ou melhor, com o sobrinho que ela deixou para os dois criarem.

Crítica

Nove anos após o seu início, Modern Family consegue o feito raro de seguir mantendo em alta a graça e o carisma de seus personagens. É curioso como quase todas as suas histórias, desenvolvidas por uma equipe de roteiristas comandada pelos criadores Steven Levitan (vencedor de um Emmy por Frasier, 1996, e de mais 8 por esse programa atual) e Christopher Lloyd (vencedor de 12 Emmys e, por favor, não confundir com o ator Christopher Lloyd) acabam se bastando apenas entre os protagonistas. Tudo bem que não são poucos – esta família é formada por três núcleos, que abrangem um contingente de umas 12 pessoas – mas, mesmo assim, quantas combinações são possíveis entre estes mesmos elementos? Com mais de 200 episódios até esse momento, deixam claro que a criatividade para propor novas situações parece não haver limite. Felizmente.

O patriarca é Jay Pritchett (Ed O’Neill, indicado 3 vezes ao Emmy por esse papel), pai de Claire (Julie Bowen, vencedora de 2 Emmys por esse trabalho) e Mitchell (Jesse Tyler Ferguson, indicado 5 vezes ao Emmy pelo personagem). Os dois são filhos do casamento anterior dele, que agora está em sua segunda união, dessa vez com uma mulher bem mais nova, Gloria (Sofia Vergara, quatro vezes indicada ao Globo de Ouro). Ela também tem um filho do primeiro casamento, Manny (Rico Rodriguez, premiado no ALMA, Imagen e Young Artist Awards), e com Jay, é mãe do pequeno Joe (Jeremy Maguire, indicado ao Young Entertainer Award). Claire, por sua vez, é casada com Phil (Ty Burrell, vencedor de 2 Emmys e de 1 Critics Choice TV), e os dois são pais de Haley (Sarah Hyland, indicada ao Kids’ Choice), Alex (Ariel Winter, indicada ao Teen Choice) e Luke (Nolan Gould, premiado no Young Hollywood Award). Por fim, Mitch é casado com Cam (Eric Stonestreet, indicado três vezes ao Globo de Ouro e vencedor de 2 Emmys), e ambos são pais-adotivos de Lily (Aubrey Anderson-Emmons, premiada três vezes, junto com os colegas, no Screen Actors Guild Awards).

Ainda que possa parecer confusa num primeiro momento, as relações entre eles são fáceis de serem identificadas – assim como os talentos dos envolvidos, visto a quantidade de prêmios e indicações por eles conquistados ao longo de todos esses anos. Além disso, há questões recorrentes e muito necessárias sendo discutidas, como homossexualidade (o casal Mitch e Cam), xenofobia e imigração (Gloria e Manny são colombianos que foram morar nos Estados Unidos em busca de uma vida melhor), feminismo (Claire é muito mais competente do que Phil, enquanto que Alex é a mais inteligente dos três irmãos, ao passo que Luke poderia, por vezes, ser chamado de idiota, caso não fosse tão adorável). Jay, aliás, é o centro não apenas familiar, mas de muitos desses debates: ele revela ter tido dificuldade em aceitar o filho gay, assim como demonstrou grande resistência, quando decidiu se aposentar, em entregar o negócio da família – uma empresa de armários – ao comando da filha, apenas por ser ela uma mulher. E ele, ainda que abrace um estereótipo bastante forte – do homem mais velho que busca se rejuvenescer com uma jovem latina (o que aumenta o clichê) – consegue lidar bem com isso, principalmente por ter suas expectativas constantemente revertidas, visto que, também na casa dele, é a esposa que dá a palavra final.

Desde a quinta ou sexta temporada, Modern Family se viu obrigada a ter que lidar com o amadurecimento do elenco mais jovem: Haley foi a primeira a ir para a faculdade, seguida por Alex, e agora é a vez tanto de Luke como de Manny. Ao mesmo tempo em que os roteiristas demonstram não saber bem o que fazer com uma Lilly quase adolescente – ela era apenas uma bebê no Ano Um – a impressão é que apenas a substituíram por outra criança dentro da trama – no caso, Joe – e a deixaram ao acaso, com participações pontuais, mas nunca relevantes. Esse mesmo ocaso pode ser percebido no relacionamento de Mitch e Cam: por mais que estejam tão bem integrados a uma estrutura familiar mais ampla, e isso já seja suficiente para propor uma discussão, também se observa uma falta de profundidade no retrato oferecido a eles, principalmente na questão romântica e sexual. Os dois praticamente nunca se beijam – no máximo, rolam alguns selinhos – e vê-los na cama é uma raridade incrível, por mais que seja recorrente se defrontar com os outros casais (Jay e Gloria, Claire e Phil, até Hayley e qualquer um dos seus tantos namorados) na mesma situação. Ou seja, como é uma comédia “para toda a família”, porém com esse toque “moderno” desde o título, até se é possível alguma provocação, desde que não seja reiterativa a ponto de gerar incômodo aos mais sensíveis – ou mais retrógrados, em bom português.

Em Lake Life, primeiro episódio deste nono ano, estão todos reunidos num passeio de barco para observarem um eclipse e, com isso, criarem novas memórias em conjunto. Essa ideia é suficiente para deflagrar um elemento bastante caro aos realizadores: Modern Family é sobre e para as famílias, sejam elas modernas ou não. Há algumas confusões de praxe – os jovens se perdem numa ilha, Mitchell decide fazer as pazes com um antigo crush, Phil e Claire querem relaxar, Gloria e Cam estão em apuros, Jay passa o tempo todo reclamando que, apesar de estarem juntos, não estão “unidos” – mas o que importa é, no final, tendo alcançado ou não o objetivo a que se propuseram, alguma mensagem possa ser aprendida por todos, em ambos os lados da tela. Esses momentos um tanto melodramáticos estimulam o espectador a se dar conta de que há mais do que apenas risos, como se a graça, por si só, não fosse suficiente para estimular a reflexão. Outros momentos como esse se repetem nessa nova temporada, como o Wine Weekend (episódio 16), quando estão reunidos mais uma vez sob um mesmo teto, dessa vez na casa da nova chefe de Hayley (participação especial de Mira Sorvino, bem entregue à personagem).

Muito acontece e pouco muda de fato neste ano nove de Modern Family. Por mais que seja curioso observar a cabeça vazia Hayley namorando um professor universitário (pelo qual Alex é apaixonada), ainda é pouco para ser a maior inovação dessa temporada. Claire e Jay seguem descobrindo como lidar com as questões profissionais, Phil continua muito mais um paizão do que homem a ser levado à sério, Mitch e Cam enfrentam influências familiares externas (a mãe de um, a irmã do outro) que podem apontar para a chegada de mais um integrante, algo já muitas vezes cogitado, mas nunca efetivado até agora. E no final, entre tantas amenidades, resta um programa de fácil apreço, que passa rápido e deixa um ou outro estímulo, mas nada tão profundo que necessite um esforço mais elaborado. A despeito das posições em que são colocados, mais uma vez o que fica são suas personalidades, essas, sim, cativantes e envolventes. Por elas, que representam bem cada um dos membros dessa grande família norte-americana, é que o show segue pertinente. Algo que, após nove anos, mais do que merece ser comemorado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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