Crítica


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Sinopse

"O amor antigo é diferente. Nos anos 1970 e 1980, passamos por altos e baixos até entender quem éramos e aprendemos a fazer concessões. A linha de chegada estava se aproximando".

Crítica

Após se dedicar especialmente aos romances jovens, com uma minoria de personagens adultos na faixa dos 40-50, Modern Love se conclui com os amores entre idosos. Ao abordar a paixão à primeira vista entre Margot (Jane Alexander) e Kenji (James Saito), tendo como horizonte a proximidade da morte, o último episódio da temporada flerta com o ciclo de vida do próprio sentimento amoroso. “O amor entre velhos é diferente. Mais realista, talvez”, reflete a mulher na casa dos 80 anos de idade, contente em obter companhia, carinho e cumplicidade com o homem que encontra durante uma maratona pela cidade. A perspectiva de algo “mais realista” seria curiosa para uma série que sempre flertou com o mágico e com as “forças do destino”. No entanto, para o diretor Tom Hall, que assina o roteiro ao lado de John Carney, o realismo implica apenas na subtração dos inúmeros obstáculos que a série colocou no caminho dos protagonistas até agora.

Assim, nada de acidentes levando ao hospital, doenças incuráveis, homens perseguindo na rua, processos difíceis de adoção. Em The Race Grows Sweeter Near Its Final Lap, apenas se ama, sem expectativas nem conflitos. É a proximidade com a morte que faz os outros dilemas da classe média-alta soarem irrelevantes (“Eu me sinto incompleto, cansei de ser eu!”, lamentava o protagonista do episódio anterior). Apesar de o título romantizar a terceira idade, como se a velhice fosse ainda melhor do que a juventude – uma concepção questionável por um ponto de vista “realista”, justamente – o oitavo e último segmento da primeira temporada apresenta a construção mais frontal do afeto entre duas pessoas. Trata-se de uma aproximação um tanto veloz, sem se aprofundar na construção psicológica de um ou outro, mas ainda assim verossímil. A série enfim aborda a noção do “até que a morte nos separe”, última passagem obrigatória nesta maratona de representações do ideal do amor romântico. Desta vez, não se trata de encontrar o amor de si próprio, nem obter o apoio das amizades incondicionais. Estamos falando do amor no conceito tradicional do termo, no sentido de entrega incondicional ao outro. Curiosamente, o episódio mais romântico, e também o mais sucinto – com menos coincidências mágicas de roteiro – torna-se aquele interrompido pela morte.

O episódio também precisa se apressar: além de criar uma história independente, ele carrega a responsabilidade de amarrar toda a série, introduzindo cruzamentos entre os personagens dos episódios anteriores numa única cidade marcada por romances feitos e desfeitos pelas ruas, ao acaso (“Somos os achados e perdidos”, canta a música final). Portanto, narra-se com relativa desenvoltura o nascimento, desenvolvimento e término de uma história de amor, enquanto se retoma cada protagonista anterior. O fato mais curioso não ocorre no cruzamento de personagens em si, mas na temporalidade proposta: algumas figuras reaparecem no início de sua jornada amorosa, ou seja, no tempo anterior ao episódio (caso dos personagens de At the Hospital, na Interlude of Clarity), outras são vistas durante o episódio, completando uma elipse escondida em seu próprio segmento (Hers Was a World of One), e outros ainda são vistos num futuro distante, com muito tempo passado até o reencontro entre protagonistas (When Cupid Is a Prying Journalist). Talvez ninguém esperasse de Modern Love a criação de uma linha temporal entre suas histórias, mas além de uni-las, o término trata de precisar quais vieram antes e quais vieram depois.

Algumas conexões soam melhores do que outras: a trama de Hers Was a World of One se desenvolve bastante com as adições do episódio final, e a protagonista de So He Looked Like Dad. It Was Just Dinner, Right? transforma-se substancialmente com esta espécie de cena pós-créditos. Os protagonistas de Take me As I Am e Rallying to Keep the Game Alive ganham alguns meros segundos suplementares, que não propõem qualquer desenvolvimento às suas histórias. Eles são apenas mencionados. Depois disso, como se esperaria de uma telenovela, recapitula-se os melhores momentos através de um flashback em montagem paralela e fragmentada. O recurso não soa exatamente inovador, ressaltando o aspecto sentimental ao som de músicas românticas. Mesmo assim, serve a reforçar a ideia de que essas histórias ocorrem num espaço semelhante, e continuarão acontecendo, pouco importa a idade ou condição das pessoas envolvidas. Modern Love conclui-se tão bem quanto mal: por um lado, fecha-se numa bolha privilegiada enquanto acredita estar falando da sociedade inteira. Por outro lado, defende uma espécie de amor sem limites, mesmo que isso signifique romantizar relacionamentos abusivos (When the Doorman is Your Main Man) e traumas de infância (So He Looked Like Dad. It Was Just Dinner, Right?). A defesa de que “todo amor é válido” torna-se o ponto mais carinhoso, e também mais controverso, desta série cuja noção de amor é, de fato, bastante ampla.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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