Crítica


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Sinopse

Após um acidente, Jennifer Walters é contaminada pelo sangue do próprio primo, Bruce Banner, também conhecido como o herói Hulk. Assim, ela se transforma na Mulher-Hulk, e precisará da ajuda do parente para entender o que aconteceu consigo e qual a real dimensão dos seus poderes recém-adquiridos.

Crítica

Por quê você está me tratando como uma fera que acabou de sair da jaula?”, pergunta Jennifer Walters ao primo, Bruce Banner. Assim como na série do Universo Audiovisual Marvel (há muito deixou de ser apenas cinematográfico, certo?) dedicada à personagem criada por Stan Lee e John Buscema em 1980, aqui se faz necessário uma explicação sobre os eventos prévios que levaram até esse momento. Para quem não sabe – ou não recorda – Banner (aqui vivido mais uma vez por Mark Ruffalo) é a identidade secreta de Hulk, o gigante esmeralda que liberava uma imensa força após sua transformação, ao mesmo tempo em que perdia quase toda a lógica e razão. Por muito tempo ele, em sua forma humana, enquanto cientista, estudou para tentar domar essa fera que habitava seu interior e, enfim, alcançar uma convivência pacífica com esse seu lado mais... selvagem, digamos. Walters, por sua vez, após uma das origens mais estapafúrdias de todos os heróis e vilões de qualquer multiverso – os dois sofrem um acidente e o sangue dele, afetado pelos raios gama que o conferem superpoderes, respinga em um machucado dela, alterando-a de modo quase instantâneo – se torna ninguém menos do que a Mulher-Hulk (na falta de um nome melhor). Entender melhor a si mesma, portanto, é o mote central do primeiro episódio de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis. Mas quem disse que ela precisava passar por tudo isso?

Sim, pois da mesma forma como pula etapas e a coloca num novo aspecto, com mais de 3 metros de altura e pele esverdeada, sem nenhum dos traumas que poderiam ser implicados por esse processo, a série criada por Jessica Gao (Rick e Morty, 2017) também ameniza a mudança psicológica, permitindo que a protagonista conviva com suas duas personas em plena harmonia. Ou seja, a Mulher-Hulk é como uma versão melhorada do próprio Hulk, sem que nenhuma explicação para tanto se faça necessária. A ideia, como fica claro, é aproveitar sua imensa força e disposição para fazer... graça. Sim, Mulher-Hulk: Defensora de Heróis se apresenta, desde o princípio, como uma série de “advogados” – ela é uma profissional do Direito, e já nesse capítulo de estreia o público poderá vê-la não apenas atuando no tribunal, mas se transformando em sua personalidade “até então secreta” na frente dos presentes. Se esse mistério não durou muito tempo, é de se imaginar que sua relevância não fosse das maiores. Portanto, o certo é que será privilegiado pela trama não o suspense ou o drama – como geralmente acontece nesse tipo de programa – mas o humor e a comédia de reações passageiras.

Como todos os produtos recentes dos Estúdios Marvel, nesse aqui também se verifica a importância de estabelecer conexões com títulos próximos. Se fala muito, portanto, em Capitão América e Homem de Ferro, por exemplo. Aliás, uma das melhores piadas é justamente sobre Steve Rogers e sua suposta virgindade (como também é de praxe, favor prestar atenção à cena pós-créditos). Esses momentos são suficientes para esboçar um sorriso razoavelmente empolgado, mas não o bastante para impulsionar reações mais emocionadas. A Normal Amount of Rage, ou Uma Quantidade Razoável de Raiva, é basicamente uma apresentação, uma introdução dessa personagem recém-chegada ao formato live action e ao cenário no qual suas histórias irão se desenvolver. É tudo tão superficial que até mesmo a já anunciada grande vilã da série, Titania (interpretada pela ótima Jameela Jamil, que cativou audiências em The Good Place, 2016-2020, e agora tem uma oportunidade de apresentar uma desejável versatilidade), mal chega a dizer duas ou três palavras, aparecendo somente nos minutos finais.

É de se imaginar, portanto, que a série irá começar, de fato, no episódio dois. Dessa forma, de nada adianta um julgamento mais severo nessa estreia, uma vez que as questões foram apenas levantadas, sem nenhuma preocupação concreta em respondê-las (há mais oito capítulos nessa temporada, ou seja, tempo bastante para elucidar essas dúvidas). Por enquanto, há apenas uma certa gratuidade destinada a agradar os fãs mais exigentes, como a cansativa luta entre os dois Hulks. Tatiana Maslany conquistou fãs (e ganhou um Emmy) como a protagonista de Orphan Black (2013-2017). Agora, está novamente no centro das atenções, e novamente envolvida numa série que deverá colocar sob os holofotes um discurso fortemente feminista. “Dominar minha raiva? Eu faço isso todos os dias, e muito melhor que você. Para ser mulher, você precisa ter muita autocontrole, a todo instante”, afirma sem papas na língua. Se essa for mesmo o tom daqui em diante, as expectativas podem ser as melhores. Mas, ao menos por enquanto, se viu muito de Mulher-Hulk, mas nada de Defensora de Heróis. E este é justamente o diferencial anunciado. Irá se confirmar? É preciso ter paciência, uma semana após a outra.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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