Crítica


7

Leitores


Sinopse

Elena Greco e Raffaella Cerullo são duas melhores amigas, além das melhores alunas da escola. Porém, enfrentam a resistência dos pais: a mãe de Elena quer que ela pare de estudar para ajudar em casa, assim como o pai de Raffaella, que não dispõe de dinheiro para bancar os estudos da filha.

Crítica

Elena continua seu caminho rumo a uma vida melhor do que aquela que sempre conheceu, mas Lila também tem seus meios para deixar para trás a pobreza e a ignorância. No terceiro episódio de My Brilliant Friend (baseado no romance A Amiga Genial, de Elena Ferrante), as duas protagonistas cresceram, deixando para trás as feições infantis que marcaram os dois capítulos iniciais, para se apresentarem, pela primeira vez, como adolescentes. E como era de se esperar, os problemas típicos dessa idade também se manifestam. Mas se há o que ser explorado externamente, muito mais há de ser observado nas revoluções constantes em andamento no interior de cada uma dessas meninas. Tanto é que o título deste segmento é Metamorfoses, um batismo bastante apropriado.

Elena (Margherita Mazzucco) é uma jovem de traços finos e cabelos claros, dona de uma beleza que insiste em negar. As espinhas no rosto e a postura curvada fazem o serviço de escondê-la, tornando-a invisível aos olhos do demais. Tanto é que, quando um rapaz se aproxima, é para dela se aproveitar como meio até outra menina. Muitas vezes, essa mais cobiçada é Lila (Gaia Girace), a magra e enfezada melhor amiga, que pode não ser tão bonita, mas se revela atraente justamente pelo modo de ver o mundo, sempre de cabeça erguida, desafiadora. Lila não tem o apoio da família para continuar estudando, assim como a colega, e por isso é obrigada a abandonar a escola. Mas nada que o ensino tradicional poderia lhe oferecer a escapa. Ela tem seus meios, e quando Elena tem a impressão de, enfim, compreendê-la, a outra surge com uma novidade, mostrando-se sempre um passo à frente.

Na série de Saverio Costanzo, já ficou claro que a relação das duas meninas é apenas um artifício para traçar um retrato de uma Itália destroçada pela guerra, que luta, com todas as forças, para se reerguer. Elena é o exemplo de quem se esforça para seguir em linha reta, fazendo o que dela se espera. Ela até não é a melhor das alunas, mas sob o risco de perder tudo que havia conquistado até então, se torna a mais aplicada, terminando o ano como a número um da classe. E quando uma etapa termina, a seguinte é garantida graças à interferência da maestra, que vai até a casa da garota para exercer sua influência sobre os pais dela, garantindo a continuidade do seu aprendizado. Nem isso, no entanto, deixa Elena feliz. Sentindo-se feia e sozinha, ela é o oposto de Lila, que passou a frequentar assiduamente a biblioteca, mostrando uma iniciativa que irá lhe garantir um lugar diferenciado, da mesma forma como faz do ofício familiar uma possível válvula de escape: obrigada pelo pai a ajudar na sapataria que possuem, vislumbra progresso e crescimento naquele ofício. E assim, vai contagiando aqueles ao seu redor.

Como dito, My Brilliant Friend não está preocupado em mostrar apenas os dramas privados destas amigas rivais. Há um universo ao redor delas, e sobre isso há também outros caminhos a serem percorridos. A violência do dia a dia, a dificuldade de ser mulher em um ambiente que reprime e condena, a falta de afeto em casa, tudo acaba se unindo em uma batalha diária, da qual nem sempre se sai vitorioso – e, quando algo parece dar certo, por menor que seja, o sentimento é invariavelmente potencializado. Lila se recusa a se dar por vencida, e fará por onde seguir adiante, independente de quem estiver ao seu lado. Elena não tem a mesma força, pois precisa da outra, ainda que também não seja desprovida de méritos. É cedo para que fique claro o quanto cada uma tem a oferecer. Mas é certo que, juntas, ambas se saem melhores do que separadas. A questão, agora, é descobrir como alcançar esse equilíbrio.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)