O Gambito da Rainha :: T01
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Walter Tevis, Allan Scott, Scott Frank
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The Queen's Gambit T01
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2020
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
A órfã Beth Harmon é prodigiosa no xadrez. Aos 20 anos ela precisou enfrentar o vício para se tornar a maior enxadrista do mundo.
Crítica
Apontado como um dos maiores sucessos de todos os tempos da Netflix, a minissérie O Gambito da Rainha é um verdadeiro mistério. Primeiro, porque não conta com nenhum rosto de destaque no elenco: a protagonista, Anya Taylor-Joy, foi vista em filmes como A Bruxa (2015) e Fragmentado (2016), mas seguia a espera do título que a tornasse, de fato, conhecida – bom, não mais. Depois, trata-se de uma história que gira quase que por completo ao redor de jogos de xadrez, um esporte – se é que assim pode ser considerado – longe de ser minimamente popular (no Brasil, então, nem se fala). E por fim, devido à própria estrutura narrativa assumida, que antecipa reviravoltas e segredos, esvaziando seus mistérios ou dramas, tornando o conjunto bastante previsível. O que termina por fazer diferença, portanto, é justamente algo a mais que talvez não possa ser facilmente identificável, mas que certamente está além da soma das suas partes.
Criada por Scott Frank, roteirista indicado ao Oscar pelos enredos de Irresistível Paixão (1998) e Logan (2017), e por Allan Scott, escritor com passagem por títulos marcantes, como Inverno de Sangue em Veneza (1973) e o Convenção das Bruxas (1990) original, O Gambito da Rainha ressente, no entanto, pela falta de experiência de ambos no formato seriado. Ainda que o primeiro tenha no currículo uma outra produção no mesmo estilo – Godless (2017), também da Netflix – o segundo é estreante no gênero. E isso fica claro ao longo dos sete episódios: a impressão que se tem, ao término da maratona, é de se ter ficado diante não de uma história contada em capítulos, mas de um longo filme, com mais de 6h30min de duração. O que é muito a se pedir para uma trama que pouco de surpreendente apresenta, além de ficar evidente que seus excessos como tais se comportam. Caso tivessem sido eliminados, o conjunto teria muito a ganhar em uma apresentação mais ágil e dinâmica.
O que mais O Gambito da Rainha carece é de um conflito dramático que motive o espectador a seguir atento durante o desenrolar de toda a série. Beth Harmon (Isla Johnston quando criança, Taylor-Joy na adolescência e quando adulta) teve uma infância difícil, mas tudo que isso parece ter lhe provocado foi um comportamento quase autista, como que despreocupada com os demais, alheia aos dramas dos outros. A mãe, de comportamento instável, repele o pai da menina, até que ele abandona as duas. Sozinhas, a mais velha se percebe incapaz de criar a filha. Sem conseguir entregá-la ao ex-companheiro, toma a decisão mais fácil – ou difícil, dependendo do ponto de vista: opta pelo suicídio. O evento se dá num acidente de trânsito, do qual Beth, miraculosamente, acaba escapando ilesa. Órfã, é enviada a um orfanato para garotas. É lá que, durante uma visita ao porão para limpar apagadores de quadro-negro – vai a mando da professora – encontra o zelador (Bill Camp, de Coringa, 2019). E a partir daí seu mundo começa, de fato, a se transformar. Isso porque o senhor Shaibel, no instante em que é visto pela jovem, estava jogando xadrez consigo mesmo. Ela passa a demonstrar interesse, e logo os dois estarão praticando juntos.
O que ele logo descobre é que está diante de um prodígio. Tem pouco a ensiná-la, afinal. Beth aprende as regras rapidamente, e em questão de dias estará jogando melhor do que ele próprio. Daí em diante, todas as portas passam a se abrir: o diretor do clube local, ao conhecê-la, trata de colocá-la em teste diante de jogadores mais experientes. Quando, enfim, é adotada, tudo o que pede é um tabuleiro para chamar de seu. Tempos depois, o marido abandona as duas. Sem saber como se manterem, percebem que torneios de xadrez podem ser uma boa fonte de renda – principalmente para os campeões (ou campeãs, no caso). E assim vai trilhando seu caminho, ganhando um desafio após o outro, como se não houvesse ninguém bom o bastante para fazê-la ameaça. Ou quase isso. Ainda nessa fase, é importante destacar as duas mulheres que terão papel preciso em sua jornada: a melhor amiga, Jolene (a revelação Moses Ingram), que surgirá nos momentos mais pontuais, e a segunda mãe, Alma (a cineasta Marielle Heller), com quem desenvolverá uma bonita relação de troca e confiança.
Afinal, se fosse apenas isso, daí mesmo é que o programa não teria graça alguma. Então, Frank e Scott tratam de inserir diferentes “vilões” no enredo. O primeiro, e mais sério, é o vício que a protagonista desenvolve por aditivos químicos. Desde os tempos do orfanato, quando era tratada com calmantes, ela descobre que, com a mente alterada, consegue ver as coisas ao seu redor com maior clareza – inclusive as possíveis jogadas a serem desempenhadas na partida seguinte. A rejeição masculina – tema recorrente que vai do pai natural ao adotivo, passando pela primeira paixão até os demais colegas de prática que eventualmente dividirão também a cama dela – e a instabilidade materna (novamente, natural e adotiva) a levam também a excessos no álcool. Os dois, combinados – drogas e bebidas – podem representar vantagens no jogo, mas também são perdições na vida. Nada, no entanto, a se temer de fato: esse não é um conto de violência ou desespero, e, portanto, sabe-se bem que não importa a encruzilhada em que se meta, sempre haverá uma mão disposta a ir ao seu socorro.
Entre os três homens da sua vida – Townes (Jacob Fortune-Lloyd, de A Casa Torta, 2017), Harry (Harry Melling, da saga Harry Potter) e Benny (Thomas Brodie-Sangster, da saga Maze Runner), cada um desempenhando um papel fundamental no seu amadurecimento enquanto mulher e jogadora – e o grande inimigo a ser derrotado – o russo Borgov (Marcin Dorocinski, de Plano Quase Perfeito, 2017), o inimigo a ser superado – Beth faz de O Gambito da Rainha (nome de uma jogada que em nenhum momento chega a ter importância em cena) a jornada de transformação de alguém que, após ter sido abandonada por todos, aos poucos vai encontrando seu lugar no mundo. E se a história parece simples demais – o que de fato é – o que pode justificar tamanho interesse despertado é a excelência que Anya Taylor-Joy demonstra na defesa dessa personagem. Dos momentos mais isolados às passagens de reconhecimento e glória, é ela que empresta verdade e empatia a uma trajetória que, de outra forma, poderia soar completamente alheia aos olhos de quem pouco entende – ou sequer se interessa – por cavalos, peões, torres e reis. É por ela, acima de qualquer outro elemento, que uma obra que teria tudo para ser apenas banal acaba descobrindo uma relevância quase insuspeita.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Ticiano Osorio | 8 |
Marcio Sallem | 10 |
Lucas Salgado | 8 |
Edu Fernandes | 8 |
Daniel Oliveira | 8 |
Bianca Zasso | 8 |
Sarah Lyra | 8 |
MÉDIA | 8 |
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