Punho de Ferro :: T02
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Scott Buck
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Stephen Surjik, Mairzee Almas, M.J. Bassett, Sanford Bookstaver, David Dobkin, Toa Fraser, Julian Holmes, Philip John, Jonas Pate, Rachel Talalay
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Iron Fist
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2018
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Daniel Rand é um bilionário, herdeiro da fortuna das Indústrias Rayne. Por 15 anos, todos acreditaram que ele estava morto, após um acidente de avião no Himalaia que vitimou seus pais, Wendell e Heather Rand. Mas Danny foi salvo e viveu todo esse tempo na cidade mística de K'un-Lun, uma das Sete Capitais do Céu. Lá, Danny aprendeu a canalizar o seu chi e se tornou o Punho de Ferro. De volta a Nova York, ele vai tentar retomar seu posto na empresa, agora sob o comando de seus amigos de infância.
Crítica
A primeira temporada de Punho de Ferro foi defenestrada por boa parte dos especialistas e pelo próprio público. Poucos compraram a trama sem linha definida, com personagens mais envolvidos com o dramalhão do que com a ação ao redor. Sintomas disso, as cenas de luta artificiais e o inimigo fraco que o Tentáculo se tornou. Não se pode culpar alguém mais do que a própria Netflix, ambiciosa por querer produzir uma série da Marvel após a outra, devido ao sucesso dos primeiros anos de Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage. Porém, se tudo parecia perdido, a segunda chance dada a Danny Rand, felizmente, acerta o alvo. Não em totalidade, mas, ao menos, corrige o que deveria (tarefa nada fácil) e apresenta um novo rumo para os personagens.
No final da primeira temporada, Danny Rand (Finn Jones) e Colleen Wing (Jessica Henwick) descobrem que a passagem para K'un Lun está fechada. Após os acontecimentos de Os Defensores (2017), uma nova pitada de drama é acrescida à vida do Punho de Ferro: o pedido de Matt Murdock/Demolidor (Charlie Cox) para cuidar das ruas de Nova York em sua ausência. Enquanto Rand descarrega dúvidas e frustrações na cabeça dos criminosos da cidade, Wing tem seu passado familiar retornando das sombras, o que entra em choque com a jornada dos heróis para livrar a região de uma guerra de gangues. Joy Meachum (Jessica Stroup) está de volta para tomar seu lugar como dona de uma nova companhia, o que desagrada seu irmão, Ward (Tom Pelphrey), que, por sinal, sofre para combater o vício em drogas pesadas. O que ninguém espera é que Joy esteja mancomunada com Davos (Sacha Dhawan), antigo amigo de Danny, que inveja o poder do Punho. E quem é a misteriosa Mary (Alice Eve), surgida para desequilibrar essa balança toda?
No saldo geral, a Netflix conseguiu um grande avanço em relação a uma das principais críticas à primeira temporada: o número de episódios caiu de 13 para 10, o que deixa a trama principal menos arrastada e com pouco espaço para fugas desnecessárias do roteiro. Elas existem, claro, especialmente quando descamba para novela mexicana (romances mal resolvidos, gravidez inesperada), mas se diluem com o desenvolvimento interessante dos principais arcos. O foco é a inconstância de Danny sobre seus objetivos, o que dá uma boa oportunidade para seu intérprete, Finn Jones, conferir peso dramático ao personagem. Se na primeira temporada o ator parecia perdido entre o new hippie engraçadinho e o guerreiro que se acha o máximo, desta vez é justamente essa dualidade que serve de motor para o rapaz. Ainda está longe de ser o protagonista ideal, mas Jones consegue manter-se num nível que não compromete totalmente o carisma de Danny.
O lado negativo da balança é o rival Davos. Não por ser o vilão da vez, mas pela fraqueza da sua construção e, especialmente, da atuação de Sacha Dhawan. Sem entender o limite entre a seriedade e a falta de emoção, o ator é apagado pela expressão zero. E as tentativas de tornarem seu Davos mais complexo não ajudam, descambando para um outrora familiar cheio de traumas e clichês. As coisas apenas dão uma leve melhorada para ele a partir da metade da temporada. Porém, até lá, não dá pra culpar o público por largar o personagem de mão. Tanto que Ward, dono do arco mais aleatório, se sustenta justamente graças ao carisma de Tom Pelphrey, que entende seu personagem e até nos faz torcer para que ele vire um herói com os próprios pés. Sua participação é tão grandiosa que aumenta progressivamente no decorrer da trama.
Com isso, fica claro que, não à toa, as mulheres dominam a temporada. Os grandes acertos da primeira leva foram o brilho de Colleen e Joy, ou, melhor, de suas atrizes que conquistaram quem gostou minimamente da produção. Se Colleen é a luz na trajetória do Punho de Ferro (o que pode ser interpretado de forma dupla), suas dúvidas vão pelo caminho contrário de Danny. Enquanto ele parece mais perdido à medida que o estresse aumenta, ela consegue se focar no que realmente interessa e comandar o time. O carisma oferece uma bela recompensa ao final desta temporada. Ainda mais com a participação de Misty Knight (Simone Missick), um dos grandes acertos de Luke Cage e que ganha ainda mais contornos aqui, inclusive gerando expectativa para uma possível série própria ao lado de Wing. Quem sabe as sementes de Filhas do Dragão (HQ estrelada por ambas) não tenham sido plantadas?
Joy é um caso ainda mais complexo. Se sentindo traída por Danny e Wars, seus grandes parceiros desde a infância, ela não pensa duas vezes em se vingar da paixonite adolescente e do irmão. Implacável na maior parte das vezes, ela tem a consciência pesada. Um belo trabalho de Jessica Stroup, que mantém o interesse no lado negro da trama. Por falar em dualidade, Mary é uma presença interessantíssima e com grande destaque. Baseada em Mary Tifoyd, amante/inimiga do Demolidor nas histórias em quadrinhos originais, ela até poderia parecer deslocada da trama como muitos pensaram quando o anúncio foi feito, meses antes da nova temporada de Punho de Ferro estrear. Porém, sua personalidade dividida causa boas surpresas. Algo que a atuação de Alice Eve ajuda. Da estabanada e aparentemente ingênua fotógrafa/artista que surge no início à fria e feroz combatente que se transforma, a intérprete realmente parece lidar com duas personagens completamente distintas. É dada oportunidade à atriz (tão boa, mas subestimada de forma geral) para defender Mary ferrenhamente.
O novo showrunner, Revin Metzner, consegue atenuar os erros de Scott Buck, seu antecessor ainda que demore alguns episódios para traçar os novos caminhos que Punho de Ferro deve seguir. Está longe da perfeição ou da qualidade impressa em suas séries irmãs, mas, ao menos, consegue fazer esquecer algumas bobagens cometidas no primeiro ano (ainda que ele não seja tão deplorável como muitos falam). Ao final, uma nova estrada surge para Danny ganhar peso como protagonista de uma terceira temporada, que, finalmente, deve incluir K'un Lun como algo imprescindível para a mitologia do herói. Oportunidades e pistas são jogadas ao longo por aqui. Só falta acertarem o trilho de vez. Aqui, porém, a esperança é que tudo vai dar certo.
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