Sense 8 :: Especial de Natal
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J. Michael Straczynski, Lana Wachowski, Lilly Wachowski
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Lana Wachowski, Lilly Wachowski, James McTeigue, Tom Tykwer, Dan Glass
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Sense 8: Happy F*cking New Year
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2016
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Se por um lado esse Sense8: Especial de Natal já começa com Amanita (Freema Agyeman) metendo não um, mas os cinco dedos na ferida aberta do Ato Patriótico, relembrando de saída o espectador sobre a força que Sense8 tem de inspirar discussões atuais e relevantes, por outro ele se mostra imaturo ao flertar desnecessariamente com a metalinguagem para tentar se justificar sobre a troca do ator que vive Capheus (Aml Ameen antes, Toby Onwumere agora) – o personagem surge monologando sobre como as coisas mudam, mas permanecem as mesmas (bla bla bla). A coisa é que, como uma história independente sobre esses personagens, um filler, de fato, é tudo muito bom e funciona – e mesmo as soluções fáceis, como a dada para a situação de Félix e até o uso da mais do que batida canção Hallelujah em um momento que grita “CLICHÊ!” não destoam devido ao clima “festivo” e descompromissado do roteiro. Porém, é preciso atentar para o fato de que, como chute inicial da segunda temporada (esse “longa” equivale aos primeiros episódios dela, que virá reduzida), o resultado é, no mínimo, problemático.
Os movimentos no tabuleiro são tímidos, temerários em relação ao avanço dos plots, e nada de novo ou velho é modificado radicalmente, denunciando assim o óbvio medo que os produtores tiveram de que os espectadores menos engajados pulassem essa história. Note como as situações de Kala (Tina Desai), Wolfgang (Max Riemelt), Sun (Doona Bae), Will (Brian J. Smith), Riley (Tuppence Middleton) e Noomi (a fantástica Jamie Clayton) não se modificam em quase nada do início ao fim das 2 horas de duração (!). E mesmo as subtramas de Lito (Miguel Ángel Silvestre) e Capheus avançam tão pouco que suas modificações poderiam ficar subentendidas. Ou seja, é como se os três primeiros episódios da série pudessem ser pulados sem que se perdesse muito – não um bom sinal para a temporada como um todo. Entretanto, essa é a natureza esperada de um especial de qualquer seriado, dar um gostinho do que vem por aí, mas sem estipular ou resolver conflitos. Falta às produções que apostam nesse recurso a ousadia dos showrunners de Doctor Who, por exemplo, que fazem desses episódios independentes, verdadeiros eventos com reviravoltas importantes e introdução de novos personagens e tramas.
Porém, se pecam no comedimento, de outra forma é recompensador perceber que as irmãs Wachowski (Lana dirige esse episódio, e inclusive faz uma ponta discreta) não perderam a mão nos pontos altos do seriado. E se não vemos nenhuma montagem tão impressionante entre diferentes locações, como acontecia com frequência na primeira temporada, sequências como a do aniversário dos sensates, a do interrogatório com Sussurros (Terrence Mann), ou aquela que acompanha uma situação cômica entre Kala e Wolfgang dão densidade à narrativa, seja, respectivamente, através da beleza estética (os quadros das orgias são belíssimas pinturas de luz, e é preciso retomar isso mais adiante), da tensão provocada pelas trocas de profundidade de campo, ou do humor extraído da justaposição de duas situações que, juntas, soam absurdas. Essa dedicação à construção de uma atmosfera confere peso mesmo às frases de bordão como “Sexo não é para ser temido”, ou uma que quase soa pretensiosa por comentar o próprio seriado, “É sobre pessoas”. Aliás, o preciosismo narrativo de Lana e Lilly também faz passarem batidos mesmo os clichês dos gays assistindo Legalmente Loira (2001) enquanto o personagem mais sonhador assiste A Felicidade não se Compra (1946).
Inquestionável, no entanto, é que as irmãs Wachowski são, de fato, brilhantes. Mesmo. É raro poder dizer isso de qualquer realizador, e aqui temos duas transgêneros em Hollywood que não se submetem às fórmulas ou convenções de linguagem. São duas cineastas que desde o começo de suas carreiras desafiam a si mesmas e o público a sair da zona de conforto dos blockbusters. São as invencionices visuais da trilogia Matrix, a linguagem destemidamente cartunesca de Speed Racer (2008) ou a lógica narrativa por trás de A Viagem (2012). Não estamos falando de uma revolução, mas de experimentação, de assumir riscos, o que, dentro do contexto pessoal dessas duas, monta uma carreira que não encontra precedentes. Em Sense8, seu “vanguardismo” (a expressão é equivocada do ponto de vista que elas não são pioneiras, porém adequada quando pensamos que elas têm notabilidade) permite que propaguem mensagens modernas como a desmistificação do sexo e a condenação da violência – e é decepcionante que tenhamos de alcunhar essa percepção como “coisa moderna”, já que essa inversão de papéis ainda precisa (urgentemente) ser apontada repetidamente para o espectador. Por isso que, quando decidem ilustrar as orgias com composições de quadro e iluminação renascentistas, as Wachowski não estão apenas chamando atenção fácil para o seu produto, mas indo muito além disso, martelando que, de forma subjacente, precisamos associar o sexo, o prazer e a comunhão das diversidades à beleza, à pureza de uma revolução intelectual e filosófica.
Não significa que precisamos abandonar os nossos fetiches de violência, como os Mad Max da vida, apenas entender qual dessas duas temáticas deveria ser natural ao nosso dia a dia, e qual não. Portanto, mesmo que não represente grandes coisa como parte da trama, Sense8: Especial de Natal é eficiente em nos levar a refletir sobre… e aí que está, só por nos levar a refletir, a produção já mereceria aplausos, mas ela ainda nos leva a destrinchar questões tão pertinentes e atuais, que estão aflorando com desespero em cada noticiário, pedindo para serem regadas, surgindo nos espaços entre a matéria que relata um bombardeio na Síria e outra que aborda medidas retrógradas no nosso governo. Um lembrete que não leva o seriado a lugar algum, verdade, mas que claramente se empenha para que o espectador avance na sua própria trama.
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