Crítica


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Sinopse

No Dia de Ação de Graças, todos os membros da família Roy se reúnem na casa do patriarca Logan para um almoço de confraternização. Entre eles está o irmão dele, Ewan, com quem não falava há anos. Com todos sob um mesmo teto, velhos atritos vem à tona e antigas discussões ganham força, resultando em um embate que irá expor a fragilidade do velho pai, que ainda não se recuperou por completo.

Crítica

Chegamos à metade da temporada de Succession, série sobre os bastidores de uma família multimilionária de Nova York e a eminente necessidade de um dos quatro filhos do patriarca Logan Roy (Brian Cox) assumir os negócios em nome do pai. Com este ainda se recuperando de um recente aneurisma, a urgência por essa substituição se tornou premente, mas enfrenta vários obstáculos, sendo o maior deles justamente a relutância do velho diretor em abrir mão do seu lugar em nome de qualquer um dos seus descendentes – os quais ele já deixou claro não considerá-los à altura da tarefa. I Went to Market, o quinto episódio deste primeiro ano, é também o tradicional capítulo temático sobre o dia de Ação de Graças – e, quem acompanha com regularidade séries norte-americanas, sabe que estes costumam ser os momentos de todos os personagens se encontrarem e antigas tensões entrarem em ebulição. E, neste quesito, ninguém saiu decepcionado.

Para começar, uma novidade no elenco: o veterano James Cromwell entra em cena como Ewan, o irmão de Logan – aquele que, como sabemos desde Celebration (T01E01), é também seu desafeto e com quem está sem falar há anos. Quem vai buscá-lo no Canadá, onde ele mora, é o neto, Greg (Nicholas Braun), e desde o primeiro contato entre os dois é possível perceber que, apesar de separados, a índole dos dois irmãos é bastante similar: turrões e autoritários. Cromwell, indicado ao Oscar como o velhinho bonzinho de Babe: O Porquinho Atrapalhado (1995), construiu uma carreira interpretando tipos de temperamento difícil e postura imponente, como visto em séries como American Horror Story (2012-2013) e The Young Pope (2016), entre outras. Sua presença, portanto, é acertada, pois finalmente coloca em cena alguém capaz de lidar com o protagonista de igual, num duelo que realmente fez tremer a audiência. Há muito mais enterrado no passado nos dois, e pouco foi revelado nesta primeira reunião, mas o suficiente para alimentar as esperanças por novos embates entre eles.

Outra subtrama que vem ganhando cada vez mais destaque é aquela que está nas mãos do futuro genro Tom (Matthew Macfadyen), diretor da divisão de parques da empresa, que descobriu esqueletos no armário que acabou de assumir que podem não só representar o fim da sua carreira, como uma ameaça para toda a companhia. Desesperado para, literalmente, tirar o seu da reta, ele encarrega o primo Greg – a quem adotou como saco de pancadas favorito – para lidar com a questão (torcendo para que, no caso de algo dar errado, este tenha que assumir toda e qualquer responsabilidade). O garoto que veio do interior em busca de uma oportunidade, no entanto, pode até ter cara de bobo, mas não é nada ingênuo, e parece ter consciência do risco que está correndo. Justamente por isso, este jogo de gato e rato que tem se desenvolvido entre eles tem garantido alguns dos melhores momentos da série até então. Um está, deliberadamente, tentando ferrar o outro, que por sua vez não está despreparado, se armando com as ferramentas certas para o combate. Quando tudo for, enfim, jogado no ventilador, vai ser no mínimo curioso perceber que rumo as coisas tomarão.

Mas, e no cerne da questão de Succession? Kendall (Jeremy Strong), Roman (Kieran Culkin), Shiv (Sarah Snook) ou Connor (Alan Ruck): qual deles será o escolhido? O primeiro está pronto para dar o passo mais arriscado da sua carreira, o caçula segue como uma ameaça menor, a garota parece estar mais preocupada em se defender do futuro marido, e o primogênito deveria cuidar mais da própria cama do que da carteira que carrega. E entre alianças frágeis, contratos desiguais, relacionamentos desfeitos e acordos baseados mais na conta bancária do que nos sentimentos, os quatro continuam perdidos quanto ao desafio que os espera. E entre ser ferrado por um ou por todos, a escolha parece ser bastante óbvia, não? Por isso, nada melhor do que ouvir os sábios conselhos daquela que está no negócio há mais tempo do que qualquer outro: em resumo, tudo acaba resultando em quem está ao seu lado na cama – ou não.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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