Crítica


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Sinopse

Kendall Roy está prestes a dar o passo mais arriscado da sua carreira: armar uma conspiração para tirar seu pai, Logan, do controle das empresas da família. Para isso, no entanto, ele precisa ter certeza que conta com a quantidade de votos necessários a seu favor para que o tiro não acabe se voltando contra ele próprio.

Crítica

Austerlitz é o nome dado à residência de Connor Roy (Alan Ruck), o filho mais velho de Logan (Brian Cox). É lá onde se passa praticamente toda a ação do sétimo episódio de Succession. E isso porque o patriarca precisa reunir os pedaços de sua família após o quase golpe que visava tirá-lo do comando de suas empresas, movimento liderado por Kendall (Jeremy Strong) – o filho no qual, ao menos até então, depositava maior confiança para ser o seu eventual sucessor. Sem o único que demonstrava algum preparo para continuar à frente dos negócios ao seu lado, é preciso recomeçar – do zero, se for o caso. Mesmo que essa união seja forçada e artificial, exatamente o que aqui encontramos.

Logan não está interessado em ter os filhos ao seu lado – essa é apenas a imagem que deve passar publicamente, principalmente quando ameaçado pelos maiores acionistas da empresa. Se é isso o necesário para seguir à frente da companhia, então é o que está disposto a fazer – o que não significa, no entanto, que não fará do seu modo. A solução encontrada é uma terapia em grupo, restrita apenas àqueles ligados por sangue: Logan, Connor, Roman (Kieran Culkin) e Shiv (Sarah Snook). Como era de se esperar, Kendall até chega a ser convidado, mas não aparenta estar disposto a passar um fim de semana ao lado dos parentes, justamente por terem sido estes os responsáveis pela situação em que se encontra. O pai, ofendido pelo gesto audacioso do filho, não só o demitiu como tratou de difamá-lo em seus jornais e revistas. E o irmão, Roman, aquele que havia prometido tomar o seu partido, mas que na hora mais crítica mostrou ser fraco e incapaz de tomar a atitude anunciada.

O mais curioso é que, apesar de Kendall estar sendo visto como traidor, ele é exatamente o único disposto a fazer algo para salvar a empresa. Afinal, reconhece que o pai, aos 80 anos e recém saído de um aneurisma, não está em condições de seguir no comando de suas atividades. Não é uma simples tomada de poder que o mais jovem busca: almeja, ao mesmo tempo, tanto preservar o pai de uma exposição e de um stress desnecessário, como também progredir com os negócios, assumindo os riscos para tanto. Lançado à desgraça, empreende uma própria descida aos infernos, recaindo no vício das drogas e terminando o serviço desejado pelos outros de mostrar-se, de fato, incapaz para tamanho compromisso.

O encontro em Austerlitz é apenas um McGuffin, uma desculpa para colocar todos os principais envolvidos sob o mesmo teto. Como as sessões de psicanálise, obviamente, não dão certo – e a participação especial de Griffin Dunne como o terapeuta é, no mínimo, descartável – esse episódio acaba se valendo justamente pela tragédia que se anuncia sobre Kendall – de longe, o mais interessante dos personagens da série – e também por oferecer um novo foco sobre as artimanhas que a filha, Shiv, decididamente está disposta a desenrolar nos bastidores. É ela, portanto, a verdadeira inimiga da família. E se apenas no final deste capítulo essa realidade começa a ficar clara, a torcida, ao menos, é de que não tenha sido tarde demais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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