Crítica
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Sinopse
Depois de ser nomeada chefe do Departamento de Inglês da prestigiosa Pembroke University, a Dra. Kim Ji-Yoon precisa enfrentar um conjunto de pressões por ser a primeira pessoa não branca a ocupar o cargo.
Crítica
Sandra Oh é uma das atrizes mais interessantes do atual cenário hollywoodiano. Após anos como coadjuvante, foi alçada ao estrelato ao participar da série Grey’s Anatomy (2005-2022), um verdadeiro fenômeno em cartaz há quase duas décadas. Apesar de ter abandonado o programa no décimo ano, foi ele que o colocou em evidência suficiente para comandar outras produções televisivas, como Killing Eve (2018-2022) – que lhe rendeu o Critics Choice – e esse The Chair, que a colocou como finalista entre as melhores em séries de comédia do ano. Essa indicação, no entanto, talvez fale mais sobre a falta de concorrentes de respeito em um ano tão traumático como o último, em meio às restrições provocadas pela pandemia do Covid-19, do que da qualidade da atração em si. Não que seja um projeto desprovido de méritos. Pelo contrário. Esses existem, e são evidentes. Porém, não explorados no potencial que mereceriam. Com apenas seis episódios de mais ou menos 30 minutos cada, a impressão é que algo ficou pelo meio do caminho, um sentimento incompleto possível de ser satisfeito apenas numa eventual segunda temporada (no momento em que esse texto está sendo escrito, uma desejada renovação não havia sido confirmada).
The Chair – em tradução direta, A Cadeira – faz referência não ao objeto encontrado em qualquer cozinha, sala de jantar ou escritório, mas ao modo de se referir às matérias de estudo de uma universidade. Ou seja, a cadeira na qual os alunos se matriculam e desenvolvem seus objetivos de ensino e aprendizado. Oh é Kim Ji-Yoon, professora de Literatura que assume o departamento na Universidade de Pembroke – uma instituição que, ainda que não faça parte da “grande liga” das escolas superiores mais disputadas do país, também possui sua cota de prestígio e tradição. Ji-Yoon é uma profissional experiente, doutora na sua área de especialização e mais do que capaz de dar conta do desafio recém assumido. Porém, a impressão é que talvez tal responsabilidade lhe tenha sido designada não apenas por suas qualificações, mas também por isso. Afinal, além do que consta no papel, é importante também sua aparência. Ter uma mulher não branca à frente da pauta conta (muitos) pontos em uma sociedade cada vez mais dividida entre o que até então bastava e uma urgente reparação histórica não mais disposta a esperar pela sua vez na lista de prioridades.
O que logo fica claro é que a protagonista assumiu tal função apenas para desempenhar manobras há muito desejadas pela diretoria, porém arriscadas, que poderão tanto agregar enquanto popularidade junto aos alunos, como também arriscar o respeito conquistado pelo corpo de instrutores. Muitos desses lecionam há décadas, sem as devidas atualizações, desligados das técnicas mais modernas de ensino, longe de uma linguagem que consiga se conectar com os jovens de hoje. Espera-se, portanto, que uma renovação seja feita, mandando os ‘velhos’ para casa e, com isso, abrindo espaço para os ‘novos’, que não apenas precisam ser bons, mas também responder por outros quesitos, como raça, origem e orientação sexual. Mas todo corte radical irá implicar em riscos. Assim como agregar o que até então era inédito também possui tanto chance de acertos, como altas probabilidades de problemas, envolvendo adaptação, metodologia e conexão com o mercado. Afinal, cada vez mais esse ambiente é visto como um comércio, e a lei de oferta e procura se faz presente de forma imperiosa.
Na maior parte do tempo, Ji-Yoon se vê no meio desse conflito, entre o respeito pelos esforços dos antigos que fizeram o nome da ‘cadeira’, e a necessidade de oferecer algo original e inovador capaz de despertar interesse e curiosidade pelo que ainda pretendem fazer nos anos vindouros. Artista talentosa, percebe-se em sua construção esse debate crescente, que busca pelo certo a ser feito, como uma equilibrista que precisa agradar dois patrões, sem estar plenamente de acordo com nenhum deles. Entre a vontade de seguir seus instintos e a busca por atender a tantas vontades, muito se perde pelo caminho. A narrativa percorre temas importantes, que vão desde o estado do ensino contemporâneo até mesmo conversas travadas pelas redes sociais, tão adeptas ao extremismo e incapazes de sustentar qualquer argumentação mais profunda, ao mesmo tempo em que investiga as consequências desses atos, sejam os julgamentos apressados ou as medidas que visam apenas sanar ocorrências, e não se antever a elas. Sem conseguir, de fato, fazer algum tipo de diferença, a insatisfação da personagem acaba por refletir muito do que se vê hoje em dia, seja no ambiente virtual, como também no acadêmico.
Felizmente, o programa criado por Amanda Peet (sim, a atriz de comédias românticas como Alguém Tem Que Ceder, 2003, e De Repente é Amor, 2005, aqui estreando como roteirista) e Annie Julia Wyman conta com um elenco de peso, relevante o bastante para dividir bem tais desavenças. Por um lado, há o time defendido por veteranos como Bob Balaban (o pai da Phoebe em Friends, 1999) e Holland Taylor (conhecida por Two and a Half Men, 2003-2015), responsáveis por desenvolverem linhas próprias – como a inadequação de um e a ânsia por atualização da outra – que, se melhor trabalhadas, poderiam render shows próprios. Outros caminhos se percebem, também, naqueles que ainda resguardam os motivos que os levaram até a profissão, como Yaz McKay (Nana Mensah, de Amizade Dolorida, 2021), aquela que se vê como imposição, ao mesmo tempo que pode ser também o último recurso, e Bill Dobson (Jay Duplass, de Transparent, 2014-2019), que, ainda que involuntariamente, acaba se envolvendo em uma polêmica que não merecia ser tratada de forma tão leviana, ao mesmo tempo em que ocupa o convencional posto de interesse romântico disponível.
São tópicos a serem preenchidos em uma longa lista de tarefas que precisam ser cumpridas, como se The Chair tivesse que responder a uma ampla discussão que, ao menos pelo que se foi possível verificar até o momento, se encontra mais restrita ao campo das possibilidades do que da troca de fato cabível. Sandra Oh, como dito antes, é uma presença forte demais para algo tão passageiro, e somente por sua posição de liderança maiores desdobramentos se fariam desejados, se não imperativos. Do jeito que se apresenta, a série nunca consegue ir além da postura de mera curiosidade, abrindo portas que não só não são transcorridas, como, muitas vezes, nem mesmo investigadas na medida que seus argumentos talvez merecessem. Frente ao conjunto que coloca na mesa, apenas passar pelos elementos enumerados sem se dispor a se debruçar sobre os mesmos não só é motivo de frustração, mas também de afastamento. É de se esperar que, no meio de tantas opções, as possibilidades entreabertas consigam se sustentar até serem retomadas no futuro. Afinal, se não foram sanadas, tais demandas, caso sejam resgatadas, voltarão com ainda mais força, elevando ainda mais as expectativas envolvidas.
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