The Twilight Zone :: T01 :: E08
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Simon Kinberg, Jordan Peele, Marco Ramirez
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Mathias Herndl
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Point of Origin
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2019
-
EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Assim que é apartada de sua família, uma dona de casa descobre de onde verdadeiramente é.
The Twilight Zone
The Twilight Zone :: T02
Episódio | Data de exibição |
---|---|
The Twilight Zone :: T02 :: E10 | 25/06/2020 |
The Twilight Zone :: T02 :: E09 | 25/06/2020 |
The Twilight Zone :: T02 :: E08 | 25/06/2020 |
The Twilight Zone :: T02 :: E07 | 25/06/2020 |
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The Twilight Zone :: T02 :: E02 | 25/06/2020 |
The Twilight Zone :: T02 :: E01 | 25/06/2020 |
The Twilight Zone :: T01
Episódio | Data de exibição |
---|---|
The Twilight Zone :: T01 :: E10 | 30/05/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E09 | 23/05/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E08 | 16/05/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E07 | 9/05/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E06 | 2/05/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E05 | 25/04/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E04 | 18/04/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E03 | 11/04/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E02 | 1/04/2019 |
The Twilight Zone :: T01 :: E01 | 1/04/2019 |
Crítica
O cenário onde vive a protagonista de Point of Origin poderia ser descrito como perfeito – até demais, diga-se de passagem. Eve Martin (Ginnifer Goodwin) vive numa mansão impecavelmente limpa, cercada por jardins intactos, enquanto usa vestidos finos e encontra vizinhas igualmente elegantes para o chá. A iluminação é preciosa demais, com pontos de luz ressaltando os olhos da dona de casa. As cores são saturadas em excesso, a ponto de sugerir algo perturbador: para além da assepsia típica dos comerciais de margarina, o mundo dos ricos torna-se surreal, maquínico e mesmo assustador. O universo de Mulheres Perfeitas (2004) não está tão distante, aliás. No entanto, ao invés de se limitar à crítica das relações de gênero e da vida de privilégios, o episódio vai além ao criar um contraste interessante entre a patroa Eve e a empregada Anna Fuentes (Zabryna Guevara). A última, uma imigrante guatemalteca, corre o risco de ser deportada a qualquer momento por não possuir permissão de residência em solo norte-americano. Eve tem medo por esta mulher que é “quase da família”, mas ao mesmo tempo, não se arriscaria por ela. Se ela atravessou a fronteira ilegalmente, sabia dos riscos, certo?
O primeiro interesse do roteiro se encontra nas hipocrisias das relações sociais entre patrões e empregados, entre norte-americanos e estrangeiros – especialmente os mexicanos e descendentes. Os momentos de Eve com o marido e as filhas gêmeas tratam de explicitar o abismo social que separa a família abastada da funcionária. Enquanto isso, uma cena posterior, com ambas as mulheres utilizando o mesmo uniforme laranja, criará a estranha sensação de que, retirados os vestidos e uniformes de trabalho, elas podem ser bastante parecidas. Um segundo interesse, desdobramento do primeiro, provém do conceito que “somos todos o imigrante de algum lugar”, como relembra o narrador interpretado por Jordan Peele. Eve seria imigrante na Guatemala, mas ela também encontra uma forma muito diferente de distanciamento. Enquanto os piores episódios de The Twilight Zone tratavam de explicitar demais seus elementos fantásticos, os melhores segmentos fazem do absurdo uma metáfora do real. Quando Eve é presa pelo Estado, sem saber exatamente do que é acusada, seu calvário pode ser interpretado de diversas formas, entre a realidade e o sonho/pesadelo. A ambiguidade se torna essencial para o espectador aproximar a posição da patroa presa com aquela da empregada.
Ainda mais interessante é o fato de Eve não saber que constitui uma figura estrangeira. “Mas essa é a minha casa!”, ela grita em diversas oportunidades. A protagonista precisará se “descobrir estrangeira”, e fazer seu coming out enquanto figura ilegal. Point of Origin torna a condição de Eve e Anna menos uma questão política e diplomática do que um aspecto identitário: a partir do momento em que as mulheres são declaradas como não-pertencentes àquele lugar, podem ser tratadas como delinquentes, aproveitadoras. Se Eve atravessou a fronteira ilegalmente, ela sabia dos riscos, certo? O segmento faz uma bela incursão pela estrutura kafkaiana, na qual o protagonista se vê imerso numa gigantesca conspiração muito maior do que si próprio, e diante da qual não possui qualquer ingerência. A protagonista se aproxima de uma leitura contemporânea de Josef K. para os tempos de Donald Trump, muros e xenofobia. O fato de esta dona de casa jamais compreender ao certo o que lhe acontece, nem o porquê – junto do espectador, que reúne migalhas de informações ao longo de uma investigação propositadamente confusa -, é convertido em fator suplementar de sua culpabilidade. O fato de não assumir sua ilegalidade constituiria um cinismo, uma afronta ao Estado. Aqui, qualquer pessoa é presumida culpada, até provar-se inocente.
Ao mesmo tempo, o episódio demonstra melhor cuidado de produção do que alguns anteriores – especialmente Six Degrees of Freedom – fornecendo aparelhos, cenários e figurinos condizentes com uma ficção científica verossímil. O diretor Mathias Herndl, que possui muito mais experiência como diretor de fotografia, demonstra o cuidado visual esperado de uma jornada gradativa de decadência, tratando de escurecer alguns cômodos para esconder deficiências da direção de arte, ao passo que favorece os contrastes de um mundo polarizado. Talvez a conclusão dada a Anna seja menos satisfatória do que a de Eve, no entanto, o episódio deixa claro seu posicionamento político e sua visão sobre fronteiras e separações. No papel principal, Ginnifer Goodwin efetua um trabalho competente, perdendo pouco a pouco o verniz de elegância, até se converter no ideal do estrangeiro sujo, diferente, perigoso. Os personagens masculinos e coadjuvantes em geral se reduzem a estereótipos pouco desenvolvidos, de importância acessória à trama. No entanto, em se tratando de uma jornada psicológica de Eve, investigando o mundo por seus olhos, este posicionamento se justifica. O grupo de episódios formado por Replay, Not All Men e Point of Origin constitui o caminho mais frutífero para a série até então. Resta esperar que os capítulos finais privilegiem o discurso reflexivo em detrimento dos prazeres da denúncia fácil (The Wunderkind) e do estranhamento como valor em si (A Traveler).
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