Crítica


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Sinopse

Dick Grayson, um jovem combatente do crime, e Rachel Roth, uma jovem garota especial possuída por uma estranha escuridão, acabam no meio de uma conspiração que pode trazer o Inferno para a Terra. Eles se juntam à cabeça-quente Estelar e o amável Mutano. Juntos, eles se tornam uma família e uma equipe de heróis.

Crítica

Os Novos Titãs foi uma das séries de maior sucesso no mundo dos quadrinhos quando estreou nos meados dos anos 1980. Ao trazer problemas reais da adolescência, como aceitação, sexualidade e relacionamentos amorosos e familiares, mesclados com superpoderes e vilões que variavam de seitas religiosas, demônios de outros mundos e mercenários perigosos, a dupla de criadores Marv Wolfman e George Pérez conseguiu resgatar para DC Comics um público mais jovem que se deliciava com conflitos similares enfrentados por heróis como o Homem-Aranha ou, mais ainda, X-Men. No entanto, uma adaptação live action para o audiovisual ficou anos engavetada. Afinal, como dar vida a estes personagens nas telas sem cair no pastiche? Ainda mais tendo como referência as animações lançadas nas últimas décadas que adotaram um tom mais humorístico? Depois de muita polêmica em relação aos visuais dos personagens divulgados, a série Titans, carro chefe do serviço de streaming DC Universe, exclusivo da editora do Batman, chega para quebrar alguns (pré) conceitos e mostrar que, pode sim, ter uma bela sobrevida.

O primeiro episódio, simplesmente intitulado Titans, é o legítimo piloto em que os protagonistas são apresentados. Richard Grayson (Brenton Thwaites), o primeiro Robin, agora é policial em Detroit. Muito mais violento que o esperado, ele é recluso, não gosta de parceiros e prefere agir sozinho. Os motivos de ter deixado Gotham City e Batman são um mistério, mas se percebe que há mal resolvido. Não à toa, seu caminho vai se cruzar com a da jovem Rachel (Teagan Croft), uma adolescente que a cada dia que passa sofre com poderes que não entende. Essencialmente, com um lado maligno dentro de si que se manifesta nas horas de maior perigo. Após ver a mãe ser morta, descobrir que foi adotada de alguma forma e está sendo perseguida por uma organização que não se sabe de onde surgiu, a futura Ravena vai atrás justamente de Grayson. Especialmente após vários sonhos em que ela vê o passado traumático da morte dos pais de Robin.

Em paralelo a tudo isso, Estelar (Anna Diop) acorda num carro após um acidente, vestindo roupas extravagantes e sem lembrar do passado, nem seu próprio nome. Aos poucos, descobre que pode falar várias línguas e, durante sua investigação sobre a própria amnésia, também lembra que tem poderes perigosos que podem queimar qualquer coisa. Pra fechar com chave de ouro, vemos apenas um garoto transformado numa fera selvagem roubar nada menos que jogos de videogame. Um prelúdio para a entrada de Mutano (Ryan Potter) no elenco.

É interessante notar como a violência impera nesta série. Definitivamente, está a anos-luz do clima de Malhação (1995-) e novelas mexicanas que outras produções da CW tem na tv aberta, como Arrow (2012-), Flash (2014-) e Supergirl (2015-). Aqui, Robin arranca sangue dos criminosos, Estelar transforma mafiosos em cinzas e Ravena invade corpos sem o menor pudor. Para um primeiro impacto de episódio piloto, funciona. Resta saber se ao longo da série será apenas algo gratuito ou com relevância para o andamento da história. Alguns fãs mais xiitas dos quadrinhos podem até reclamar do tom excessivamente pesado, mas vale lembrar que já em suas primeiras aparições as HQs do grupo também eram densas, com apenas alguns momentos de leveza quando se tratava dos relacionamentos amorosos e fraternos dos personagens.

Outro ponto interessante é caracterização física de cada um. Justamente o fator mais criticado nas primeiras imagens de divulgação da série. Ravena, que havia sofrido uma modificação brusca nos quadrinhos nos últimos anos, deixando de ser uma mulher dark, introspectiva (e não menos sensual) para se transformar numa adolescente gótica, acaba por ganhar justamente este novo visual para as telinhas. Teagan Croft, sua intérprete, vai além do cabelo com mechas azuis e roupas pretas que cobrem quase todo o corpo e revela a insegurança da personagem com o mal que habita seu corpo – uma constante da própria personagem das HQs. Brenton Thwaites tem a cara e o físico de Dick Grayson. Anna Diop, a mais criticada, talvez por uma questão de racismo (afinal, é uma atriz negra interpretando uma alienígena que, bem, sempre teve traços mais africanos) é a que mais surpreende, tanto em sua atuação, acima do convincente, quanto pelo visual, muito bem explicado em poucos minutos de sua aparição neste episódio. Inclusive, é a personagem que nos deixa com um gostinho de quero mais, pois seu arco deixa muitas perguntas sem resposta.

Aliás, é a tônica desde capítulo de estreia. Várias questões lançadas com poucas conclusões. É um ar de mistério que deixa apreensão para os próximos episódios, mas que precisa tomar cuidado para não ser aéreo demais e responder às perguntas de forma tosca ou simplista. Há um bom caminho a percorrer e com um bom elenco. Resta saber se o nível vai se manter ou se vai cair na mesmice como muitas outras séries de heróis. Potencial há, é só saber dosar na medida.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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