O grupo F é quase uma barbada na Copa 2014. Ao menos, se depender do histórico do líder por excelência, a Argentina. A seleção vencedora de duas taças (1978 e 1986), arquirrival do Brasil, tem sempre o eco de seu maior ídolo, Diego Maradona, como um dos grandes chamarizes, além do futebol praticamente impecável. Ao seu lado está a Nigéria, que desde o início de sua participação no evento, em 1994, só não esteve presente em 2006. O time nunca ultrapassou as oitavas de final. Pior situação é a do Irã, que só participou três vezes da Copa do Mundo, mas em todas foi eliminada na primeira fase. Quem pode surpreender é a estreante Bósnia e Herzegovina, apesar da pouca tradição da seleção. Sequer a Eurocopa o time jogou. É claro, esta é a situação dos países no gramado. Nas telonas, já são outros 500. Tanto a Argentina quanto o Irã tem nomes de alta relevância em suas cinematografias. E nem a Nigéria ou a Bósnia e Herzegovina ficam tão atrás. Por isso, cada um dos editores do Papo de Cinema elegeu um filme de seu país selecionado para defender com unhas e dentes. Ou melhor, com a bola no pé. Alguém arrisca quem vence a disputa? Confira os filmes participantes!
ARGENTINA
O Segredo dos seus Olhos (El Secreto de sus Ojos, 2009)
“Um homem pode mudar qualquer coisa. Seu rosto, seu lar, sua família, sua namorada, sua religião, seu deus. Mas existe algo que ele não pode mudar: sua paixão”. Frase memorável do igualmente inesquecível longa-metragem dirigido por Juan José Campanella, O Segredo dos seus Olhos. Esta produção é uma escolha segura para representar a Argentina na Copa de Cinema. Além de ter vencido o Oscar como Melhor Filme Estrangeiro, a temática futebol está presente na história. Quem não lembra do magnífico plano-sequência que sobrevoa um estádio lotado? O Segredo dos seus Olhos conta a história de um aposentado servidor de justiça que busca a verdade sobre um caso de homicídio que investigou no passado. Ao escrever um livro a respeito do crime, relembra os fatos e revive em sua memória uma grande paixão. Com desenrolar surpreendente, o filme chamou a atenção pelas excepcionais performances do elenco e pela direção segura de Campanella, que já havia entregue os ótimos O Clube da Lua (2004), O Filho da Noiva (2001) e O Mesmo Amor, A Mesma Chuva (1999). Comandante ideal para liderar o escrete argentino nesta Copa, escalando o craque Ricardo Darín – no papel do protagonista – como sua arma nada secreta. – por Rodrigo de Oliveira
BÓSNIA E HERZEGOVINA
Terra de Ninguém (No Man’s Land, 2001)
Se na Copa do Mundo a seleção da Bósnia e Herzegovina – república resultante da dissolução da antiga Iugoslávia – é uma novata com poucas chances de chamar atenção além do seu caráter de estreante, quando o assunto é cinema a questão é bem mais séria e complicada. Com uma cultura temática admirada por nomes como Angelina Jolie e Richard Gere (ambos já filmaram na região) e representada por cineastas internacionalmente reconhecidos como Emir Kusturica e Nuri Bilge Ceylan, teve seu primeiro longa selecionado para o Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro premiado, derrubando concorrentes fortes como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (França) e O Filho da Noiva (Argentina). A história da luta pela sobrevivência protagonizada por dois soldados de lados opostos presos em uma trincheira entre linhas inimigas oferece um retrato inovador e humano sobre a guerra, além de revelar ao mundo um trabalho de direção impecável, humilde e sábio, de Danis Tanovic (o mesmo do recente Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho, 2013). Lições essas, aliás, que muitos dos seus colegas de chave também poderiam fazer bom uso nos campos. – por Robledo Milani
IRÃ
A Separação (A Separation/Jodaeiye Nader az Simin, 2011)
O filme escolhido praticamente dispensa apresentações. Primeiro Oscar de Filme Estrangeiro do Irã, A Separação é, sem sombra de dúvida, o maior representante do país no cinema. O longa de Asghar Farhadi coloca em lados opostos marido e mulher: ela quer deixar o Irã para dar melhores perspectivas de vida para a filha; ele precisa continuar no país para cuidar do pai, que sofre do Mal de Alzheimer. A solução é o divórcio, mas nada é fácil. A produção vai muito além da própria separação do título, utilizando-a apenas como catalisadora dos eventos que sucedem e, é claro, de uma discussão universal sobre valores éticos e morais. Farhadi não esquece nem por um minuto as referências culturais de seu país, mas as joga sobre o público de forma que qualquer região do planeta possa não apenas entender, mas se identificar com aqueles personagens tão ricos em detalhes e, especialmente, com suas escolhas, indecisões, medos e culpas. O final em aberto devolve a bola para o público com a pergunta: realmente, importa para que lado a suposta “vitória” cairá? Talvez esta questão só possa ser respondida positivamente nos gramados, porque, no longa de Farhadi, a conclusão é o que menos importa. – por Matheus Bonez
NIGÉRIA
A Graça Divina (The Amazing Grace, 2006)
Embora a Nigéria seja, numericamente, o maior produtor de cinema do mundo, não há muita tradição de exportação dessa produção. Nunca vi um longa nigeriano, não por falta de curiosidade, mas dada a dificuldade de encontrá-los, mesmo na internet. Portanto, para representar o país africano no certame, vai a campo o maior sucesso de bilheteria do cinema local, A Graça Divina, o primeiro filme a chegar às salas de exibição desde 1979, fato explicado pela majoritária cultura do home vídeo e as poucas salas existentes no país. É um exemplar histórico que aborda a escravatura, ao que parece, num registro que contrapõe de maneira maniqueísta os escravos e os mercadores europeus. Mesmo sem ter visto o filme, baseado apenas em críticas pesquisadas e no vislumbre insuficiente do trailer, dá para imaginar que A Graça Divina precisará lutar muito, além de contar com o improvável e a sorte, para não ser eliminado sumariamente já na primeira fase desta disputa. – por Marcelo Müller
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