Produções sobre o alto das colinas, a imensidão de penhascos e vales misteriosos recheiam a filmografia mundial desde que o cinema é cinema. Seja como pano de fundo para uma história sobre coragem e sobrevivência, uma alusão ao perigo nas alturas ou, no sentido literal, como a vilã que “ataca” o ser humano, montanhas mexem com o imaginário de espectadores e são responsáveis por obras singulares, sejam dramáticas ou apenas de puro entretenimento. Com a estreia de Evereste, mix de drama e aventura com estrelas como Jake Gyllenhaal, Keira Knightley, Robin Wright, Josh Brolin e Jason Clarke, a equipe do Papo de Cinema fez para você aquela lista com dez títulos que melhor utilizam estes montes e morros como seus protagonistas ou cenários majestosos. Será que o seu favorito está aqui? Confira!
A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole, 1951)
Não se preocupe em decifrar porque um filme intitulado Ace in the Hole – menção a uma estratégia de pôquer na qual o jogador segura um movimento vantajoso para se valer dele em momento propício – se tornou A Montanha dos Sete Abutres no Brasil. Temos a montanha e alguns abutres, mas o que realmente impacta é um relevante conto sobre ganância, poder e corrupção brilhantemente fotografado num preto e branco retumbante e sombrio. O clássico de Billy Wilder protagonizado por Kirk Douglas, obrigatório para qualquer cinéfilo ou graduando em comunicação social, é uma revelação lúcida, pontual e inestimável tanto nos dias de hoje quanto em seu lançamento, há quase 65 anos. Wilder aparece no auge de seu cinismo narrando a história de um repórter que tenta transformar um grave acidente em seu maior furo, algo que pode ser o ápice de sua carreira. Douglas, poderoso e hipnótico como Chuck Tatum, constrói uma persona dúbia e pouco passível de empatia, que não vê limites ou os riscos que suas ações impõem à tantas vidas. O personagem escala uma montanha para fincar sua bandeira no topo da mídia norte-americana e mundial, não importando quantos corpos fiquem enterrados sob ela. – por Conrado Heoli
Nas Montanhas dos Gorilas (Gorillas in the Mist: The Story of Dian Fossey, 1988)
O título original seria melhor traduzido por Gorilas na Neblina, o que talvez até fosse mais apropriado para uma história sobre esses animais raros em vias de extinção – ou seja, de futuro incerto e “nebuloso”. Mas o foco, acima de tudo, está na ativista ecológica Dian Fossey, vivida com garra e muita entrega por uma irrepreensível Sigourney Weaver – premiada no Globo de Ouro e responsável por uma das cinco indicações que o longa recebeu no Oscar. A estrela da saga Alien foi ao centro do continente africano, passando por países como Zaire, Ruanda e Quênia, para revelar a jornada verídica desta cientista que dedicou sua vida à preservação destes macacos gigantes em seus habitats naturais, enfrentando traficantes, contrabandistas e os próprios governos locais em nome de uma causa que poucos acreditavam, mas que por causa de seu empenho alcançou repercussão internacional. A direção de Michael Apted é inteligente o suficiente para sair da frente e deixar espaço para Weaver brilhar, sem nunca, porém, roubar o brilho das verdadeiras estrelas deste filme: os gorilas e, claro, as montanhas onde deveriam viver até hoje. – por Robledo Milani
Vivos (Alive, 1993)
No dia 13 de outubro de 1972, um time uruguaio de rugby enfrentou seu maior desafio: sobrevoando a Cordilheira dos Andes para uma partida no Chile, o avião onde se encontram cai entre as montanhas. A história real do voo 571 da Air Force é marcada não apenas pela violência do impacto, mas especialmente pela história dos sobreviventes e o que eles precisaram fazer para suportar os dias sozinhos em meio à nevasca, sem comida, sem abrigo, feridos e passando frio. Os dias passam, alguns com ferimentos mais graves morrem, enquanto os outros acompanham pela rádio o movimento das equipes de resgate. Isto até elas serem canceladas no nono dia de desaparecimento. Sem comida, a solução encontrada é comer os restos mortais, especialmente dos pilotos que, em teoria, são apontados como os responsáveis pela queda. Frank Marshall, diretor de filmes como Aracnofobia (1990), realiza um belo trabalho que mescla drama e tensão nas alturas, onde a discussão acerca de sobrevivência, canibalismo, moral e ética toma proporções inimagináveis para quem nunca cogitou passar por uma situação como a narrada. As montanhas gélidas podem aparentar serem as grandes vilãs da trama, mas o que resta é um tom cinza sobre o ser humano. Dos mais bem realizados do gênero. – por Matheus Bonez
Risco Total (Cliffhanger, 1993)
No início dos anos 90, o finlandês Renny Harlin despontava como uma boa promessa do cinema de ação, especialmente por seu trabalho em Duro de Matar 2 (1990). Com um grande sucesso no currículo, Harlin foi contratado para dirigir este veículo para o astro Sylvester Stallone, que, depois de seguidos fracassos, buscava recuperar o prestígio alcançado na década anterior. O futuro não confirmaria o talento esperado de Harlin, mas ao menos aqui sua escolha se justifica. O diretor comanda com bastante segurança a trama sobre um experiente alpinista, Gabe Walker (Stallone), que após o trauma causado pela morte de uma amiga durante uma escalada, acaba cruzando o caminho de um grupo de bandidos – liderado por um John Lithgow ameaçador – que acabara de assaltar um avião do governo e busca o dinheiro perdido nas montanhas. O roteiro, sem muita preocupação com a lógica, serve para criar um empolgante jogo de gato e rato, que encadeia sequências de ação e suspense bem elaboradas. Se aproveitando das belas paisagens registradas com competência, Harlin mostra desenvoltura na construção de momentos vertiginosos, como o de seu prólogo, que se tornou referência para os filmes posteriores sobre alpinismo. Diversão despretensiosa de qualidade. – por Leonardo Ribeiro
Sete Anos no Tibet (Seven Years in Tibet, 1997)
Brad Pitt ainda era um ator em busca de respeito artístico – e não apenas de popularidade – quando aceitou o convite do diretor francês Jean-Jacques Annaud para viver na tela grande o alpinista austríaco Heinrich Harrer neste drama baseado em sua autobiografia. Recém indicado ao Oscar por Os 12 Macacos (1995) e já tendo trabalhado com nomes como David Fincher, Neil Jordan, Alan J. Pakula e Barry Levinson, o astro encontrou aqui a oportunidade de assumir a responsabilidade de uma história real de grande repercussão – afinal, o protagonista chegou a firmar amizade com ninguém menos do que o Dalai Lama em pleno conflito político entre o Tibete e a China – aliado a momentos de puro prazer estético, combinação da fotografia de Robert Fraisse com a música de John Williams (indicada ao Globo de Ouro e ao Grammy), além do olhar contemplativo do próprio Annaud, que fez das montanhas do sul da Argentina um bom substituto cinematográfico para o ambiente explorado na ficção. Premiado pela Political Film Society, nos EUA, é um filme que agrada aos olhos, mas também às mentes e corações abertos ao lirismo de paisagens encantadoras e à descoberta de mensagens reveladoras. – por Robledo Milani
Limite Vertical (Vertical Limit, 2000)
No apagar das luzes da década de 1990, Martin Campbell estava gozando de prestígio em Hollywood por ter emplacado dois sucessos seguidos – 007 contra Goldeneye (1995) e A Máscara do Zorro (1998). Não é para qualquer cineasta comandar um filme com James Bond para, logo depois, emendar o Zorro como seu herói. Qual seria o próximo desafio? Que tal colocar como protagonista não um ícone pop, mas uma das maiores montanhas do mundo? Assim surgiu este longa-metragem, colocando pobres personagens humanos contra a segunda maior e mais perigosa montanha do mundo, conhecida como K2. Não à toa, o elenco não é o principal chamariz desta aventura. Com nomes como Chris O’Donnell, Robin Tunney e Izabella Scorupco, a produção realmente se debruça em construir aquele K2 como algo imponente e de tirar o fôlego. As cenas de ação orquestradas por Martin Campbell conseguem atingir o objetivo de deixar o espectador na ponta da cadeira enquanto seus protagonistas tentam sobreviver em uma escalada perigosa. À época, os bons efeitos visuais chamaram a atenção, ainda que tenham obviamente envelhecido passados os 15 anos de sua estreia. De qualquer forma, o longa marcou o terceiro sucesso seguido do diretor, que arrecadou US$ 215 milhões de bilheteria. – por Rodrigo de Oliveira
Tocando o Vazio (Touching the Void, 2001)
Logo no início de Tocando o Vazio, somos avisados de que a história dos escaladores Joe Simpson e Simon Yates que iremos acompanhar tornou-se uma lenda do montanhismo, tamanho o drama que eles sofreram. Baseado no livro escrito pela dupla, o documentário mostra toda a experiência que eles tiveram quando decidiram tentar chegar ao topo da Siula Grande, montanha no Peru, feito que muitos tentaram realizar, mas sem sucesso. Simpson e Yates cumpriram esse objetivo, mas o problema veio na descida, quando eles encontraram dificuldades quase fatais que os fizeram se separar. A partir dos depoimentos dos escaladores e de seu companheiro Richard Hawking, que cuidou do acampamento que eles montaram no local, o diretor Kevin MacDonald cria reencenações que dão força a história, a bravura de seus personagens e as dificuldades impostas pela imprevisibilidade da própria natureza. Como resultado, o cineasta faz um documentário brilhante, que relata de maneira sensível e angustiante a história memorável de sobrevivência que tem em mãos. – por Thomás Boeira
Cold Mountain (2003)
Batalhando para administrar a fazenda que herdou de seu pai, Ada (Nicole Kidman) aguarda o retorno do seu amado, Inman (Jude Law), ao vilarejo de Cold Mountain após o fim da Guerra Civil Americana. Com o passar dos anos em meio à decadência inesperada, Ada começa a ficar desacreditada que seu pretendente esteja vivo. Em paralelo, Inman faz o percurso de retorno enfrentando as mais diversas intempéries e, ainda, encontrando pessoas e histórias da guerra. A ambientação montanhosa da narrativa parece combinar com a performance gélida, mas estupenda, de Kidman. A química entre Law e a atriz é digna dos grandes épicos do cinema. Feito sob medida para indicações ao Oscar, a produção dirigida por Anthony Minghella, acabou angariando apenas 7 indicações, sendo que uma delas acabou em vitória para Renée Zellweger por seu papel coadjuvante como Ruby, a ajudante desbocada que se torna a melhor amiga da personagem da protagonista. Destaque para a montagem do mestre Walter Murch na produção. – por Renato Cabral
127 Horas (127 Hours, 2010)
Se alcançar o cume de uma poderosa montanha sempre representa o homem perseverando sobre a brutalidade cega da natureza, 127 Horas não poderia levar essa metáfora ao um nível mais minimalista. Não há grandes motivações por trás da jornada que Aaron Ralston (James Franco) se impôs, nem mesmo ele é o símbolo para algum ideal, cuja luta se expressaria na situação em que se encontra quando, ao pisar em pedra em falso em um desfiladeiro no deserto, ficou com a mão presa embaixo da pesada rocha. Não, a história real de Aaron é um exemplo simples do homem, efêmero e frágil, contra tudo aquilo que é natural, resistente e duradouro. Não por acaso, o diretor Danny Boyle nos leva a conhecer o passado do protagonista, visitando com frequência os pensamentos do personagem de Franco – entregue com intensidade ao papel – remontando a sua passagem por este planeta. Uma vida inteira para Aaron, alguns instantes imperceptíveis para a pedra. Muito além de um drama de sobrevivência, a obra de Boyle – baseada no livro do próprio Ralston – nos confronta com um dos nossos maiores medos: a aceitação da nossa breve existência e finitude. – por Yuri Correa
O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights, 2011)
Dirigida por Andrea Arnold, esta versão cinematográfica do livro de Emily Brontë é uma construção poética que mescla a natureza em curso e o amor condenado de Heathcliff e Catherine. Desde a chegada do menino, recolhido pelo pai da família como sinal de bom cristianismo, a mudança dos ciclos da natureza desempenha papel imprescindível, assim como as paisagens que exteriorizam a geografia interna dos personagens. Muita chuva, ventos que sibilam por entre as colinas onde o afeto tenta furar o bloqueio da intolerância e do preconceito, closes de animais em seus rituais cotidianos, terrenos acidentados que dificultam os deslocamentos, enfim, essa relação do meio com o indivíduo é acentuada. O que temos é uma interpretação do romance segundo a visão bastante singular da diretora, não escrava da palavra impressa, mas esforçada em traduzir em imagens as sensações e outros dispositivos intangíveis, ou seja, tornar visível o invisível. Arnold se embrenha no inóspito como que para fazer emergir sentimentos mais elementares, mediados pela natureza, a externa e a das pessoas, mostrando que o ódio e a violência são inerentes tanto ao humano quanto ao mundo que o cerca, enquanto o amor e o carinho são árduas conquistas. – por Marcelo Müller
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